Um mestrado em literatura inglesa pode não parecer uma preparação ideal para uma carreira de jornalista de negócios. Na verdade, esse mestrado me serviu bem, por todas as razões dadas pelos defensores das ciências humanas.
Mas a minha própria experiência parece ter pouco a ver com o que o mercado de trabalho no jornalismo está buscando hoje. Devemos estar melhorando as mentes e almas dos alunos ou ajudá-los a conseguir um emprego?
Hoje em dia aconselho os alunos a serem práticos. Os empregadores e os recém-formados estão me dizendo que o mercado de trabalho atual exige que os candidatos a empregos saibam:
- Habilidades de contar histórias multimídia. Produzir slideshows com som, filme e edição de vídeo e fotos, escrever para a web .
- Técnicas em dados e estatística para contar histórias. Coleta, edição, análise e interpretação de dados para a produção de mapas interativos e gráficos.
- Competências em desenvolvimento de audiência (anteriormente conhecido como marketing e circulação), tais como gerenciamento de comunidades online, interpretação de dados sobre o comportamento do público, crowdsourcing para obter informações, interagir com o público.
- Noções básicas de programação. Como criar páginas interessantes que atraem o público da web.
- O negócio da mídia. Jornalistas podem ajudar uma organização de notícias a gerar receitas sem comprometer sua ética; hoje essa habilidade é mais importante do que nunca.
Certamente podem haver mais, mas então as universidades e os professores têm de se perguntar, se somarmos todas essas coisas, o que estaremos deixando de fora? Nós já temos um currículo de curso cheio, como poderíamos acrescentar mais?
Essa é a pergunta errada a fazer, porque hoje o mercado para o qual as universidades estão preparando os alunos está exigindo um tipo diferente de pós-graduação. O mercado está colocando menos importância sobre o diploma que uma pessoa tem e mais sobre as habilidades.
"Primeiro Digital" na educação
Cindy Real, professora da Texas State University, defende que as escolas de jornalismo "revirem o currículo" para enfatizar "primeiro o digital". Em outras palavras, "o que estou propondo é um currículo em que o digital seja a base, e as habilidades básicas de escrita, reportagem e edição sejam injetadas em cursos com focos digitais ao contrário de inserir uma ou duas lições digitais em aulas tradicionais."
O mercado de trabalho parece concordar. Um jovem conhecido meu estava aplicando para um trabalho de comunicação online em uma organização de notícias de renome internacional e o entrevistador quis saber mais sobre as métricas de engajamento público em suas matérias --o tempo gasto, compartilhações sociais, o tráfego de busca-- do que as matérias si. Em outras palavras, este candidato entende como capturar e interagir com o público na web?
Claro, o editor tinha lido as matérias do candidato. Naturalmente, a qualidade da escrita e reportagem era importante. A questão é que o mercado espera que os formandos venham com um novo conjunto de habilidades.
A questão para os educadores deve ser, onde aprender essas habilidades de mercado? Numa universidade?
Métricas não são o inimigo
Não há lições sobre se estamos em perigo de se curvar para o público com métricas. Você pode usar métricas para determinar se o seu nicho editorial ressoa com o público, sem abandonar seus padrões.
Você não tem que agradar à audiência para colher valor comercial. Mesmo uma história investigativa que não produz muito tráfego pode ajudar sua empresa, como Felix Salmon observou em um post. Anunciantes vão ver que um site é um veículo de notícias sérias "e estar muito mais dispostos a pagar taxas premium para anunciar no site, como resultado. Leitores que gostam de ter notícias rápidas durante o dia, gostam de ter coisas mais profundas para ler no fim de semana."
Reportagens investigativas reforçam o valor da marca, atraem o melhor talento jornalístico e incentivam fontes a sair da toca, Salmon acrescenta .
Valores comercial e editorial não têm que entrar em conflito. Anunciantes sérios não necessariamente querem uma enorme quantidade de visualizações. Eles querem que a sua mensagem seja exibida no contexto adequado: um ambiente de negócios, por exemplo, ao invés de um jogo de futebol ou shopping center. Assim, os jornalistas de hoje precisam saber como interpretar os indicadores de primeira linha, tais como page views e usuários únicos, e não se deixar enganar por grandes números. A sua faculdade de jornalismo entende esse tópico?
Novas descrições de trabalho
Podemos perder muito tempo lamentando as demissões nos veículos de comunicação, ou podemos ajudar o aluno a se preparar para os novos tipos de empregos que não existiam há uma década.
Se você olhar para os anúncios de emprego ou as listas de equipes nas principais mídias digitais, verá cargos como "estrategista em engajamento de usuário", "editor divulgação em redes sociais", "gerente de desenvolvimento de público", e assim por diante. Esses cargos não existiam há alguns anos atrás.
Nos dias felizes do monopólios de mídia, os jornalistas sabiam pouco e muitas vezes se importavam menos com o que o público achava de seu trabalho. Hoje, os jornalistas têm como ser interativos, e algumas universidades têm respondido à demanda. Um exemplo é a Escola Annenberg da USC, que oferece um mestrado em gestão de comunidades online. Há outras.
Interseção da tecnologia e comunicação
O futuro do jornalismo é digital, e isso significa que depende da tecnologia. Novos postos de trabalho estão se abrindo para as pessoas que podem fazer uma ponte entre os dois mundos. Algumas descrições de trabalho hoje em dias na organizações de mídia são "especialista em tecnologia de redação", "gerente de otimização de busca", "especialista em desenvolvimento de plataforma móvel" e "jornalista de dados".
Os meios digitais permitem que jornalistas de dados mostrem seu trabalho em gráficos interativos e mapas atrativos. Mas não podem apenas produzir imagens bonitas. Têm que saber como verificar e limpar os dados e apresentá-los de uma maneira que conte uma história. Esta é mais uma oportunidade.
Alguns programas universitários inovadores estão cultivando conexões com engenheiros de ciência da computação e programadores para desenvolver ferramentas para jornalistas. As novas tecnologias têm o potencial de melhorar a apuração, análise, visualização e distribuição de notícias e informações.
Universidades inovam
Amy Schmitz Weiss da San Diego State falou sobre alguns inovadores acadêmicos recentemente no Nieman Lab e comentou: "Os dados estão em torno de nós, e isso só vai se tornar mais penetrante com o avanço das tecnologias digitais e nossas vidas diárias se centrando nesses dois mundos. Como educadores, estamos preparando nossos alunos para serem capazes de gerenciar esses dois mundos, a ciência dos dados e a mídia digital, de forma eficaz e precisa?"
Os dois mundos podem se unir de várias maneiras.
Mindy McAdams da Universidade da Flórida há tempo ensina seus alunos como escrever códigos e como isso vai melhorar a qualidade e o alcance do jornalismo.
O movimento Hacks/Hackers que liga jornalistas com tecnólogos começou com uma colaboração entre Rich Gordon da Universidade de Northwestern, Aron Pilhofer do New York Times e Burt Herman, ex-correspondente estrangeiro da AP e bolsista Knight na Universidade de Stanford. Gerou grupos em todo o mundo.
O site Journalism.co.uk descreveu como jornalistas que trabalham podem melhorar suas habilidades de dados através de uma série de táticas de auto-ajuda .
Jornalismo e artes liberais
Depois de explicar o que eu penso que a próxima geração de jornalistas precisa saber, acho a lista assustadora. É muito. Eu me pergunto, como pode uma universidade, possivelmente, preparar os alunos para tudo o que eles precisam saber?
A resposta, creio eu, é que não podem. O que podem prepará-los é uma mistura do lado prática e, o que eu acho que é mais importante, o pensamento crítico e as técnicas de comunicação (escrever, falar).
Nenhuma universidade pode ensinar a um aluno tudo o que ele precisa saber em para sua futura carreira. Isso é o que a vida faz.
Meu próprio estudo de literatura indiretamente ajudou na minha carreira, quando eu precisava aprender a produzir jornalismo em um jornal diário e, mais tarde, como escrever sobre negócios e economia.
Estudar as fontes textuais de peças de Shakespeare é um exercício de análise da confiabilidade das fontes. Geologia histórica ajuda a colocar a evolução humana e as mudanças climáticas no contexto. Literatura francesa do século 18 mostra as origens de nossas ideias sobre liberdade e igualdade, útil para interpretar a Primavera Árabe.
Parece uma uma desculpa dizer que a resposta certa para a questão do que ensinar a estudantes de jornalismo é encontrar um equilíbrio entre o prático e o edificante. Mais fácil dizer do que fazer.
Este post foi publicado originalmente no blog News Entrepreneurs e reproduzido na IJNet com permissão.
James Breiner é consultor em jornalismo online e liderança. Foi co-diretor do Global Business Journalism Program na Universidade Tsinghua e bolsista do programa Knight International Journalism Fellow, tendo lançado e dirigido o Centro de Periodismo Digital na Universidade de Guadalajara. Visite seus sites News Entrepreneurs e Periodismo Emprendedor en Iberoamérica e siga-o no Twitter.
Imagem sob licença CC no Flickr via jeco.