Lembrando de sua prisão política em sua terra natal, a África do Sul, como jornalista no início dos anos oitenta, Guy Berger diz que treinamentos de segurança em jornalismo poderiam ter vindo a calhar.
Durante o interrogatório, Berger disse que superestimou o quanto as autoridades sabiam sobre sua coleção de livros "ilegais" - centenas de livros e publicações foram proibidas durante o apartheid - e acabou falando mais do que eles sabiam.
"Teria sido bom saber como negociar com as autoridades [e] como sobreviver nesse processo", explica Berger.
Agora diretor da divisão de liberdade de expressão e desenvolvimento da mídia na Unesco, Berger defende a segurança dos jornalistas em todo o mundo. Junto com sua equipe, ele trabalha com instituições públicas e governos para proteger os jornalistas através de leis, políticas, treinamentos e advocacia.
No âmbito do quadro do Plano de Ação da ONU para a Segurança dos Jornalistas e a Questão da Impunidade de 2012, Berger continua a lutar por um fim à impunidade para os crimes cometidos contra jornalistas. Enquanto ele diz que realmente não "mudou o mundo", o plano uniu a causa. Internacionalmente, as pessoas podem se unir e concordar em uma coisa: Assassinatos e impunidade têm que parar.
"Um único agente não pode resolver este problema", diz Berger.
Abaixo, Berger fala com a IJNet sobre como podemos incentivar a liberdade de imprensa, combater a impunidade e mobilizar outros para defender os jornalistas.
IJNet: Quais são os problemas atuais no desenvolvimento da mídia e liberdade de imprensa?
Berger: Se você tem liberdade, mas... não uma base forte para o jornalismo, é como uma liberdade meio vazia. Porque a beleza da liberdade de expressão e liberdade de imprensa é que você pode ter jornalismo, que é único. Quanto mais fracos são os órgãos de comunicação social, mais vulneráveis são para cooptação, influências ou dominação. Assim, o desenvolvimento da mídia é um grande problema.
Do lado da liberdade de imprensa, o maior problema é o assassinato de jornalistas, e eu digo isso porque é a pior forma de censura. É ruim se colocam um jornalista na prisão, mas é pior se eles partem para sempre. E o sinal que isso soa a outros jornalistas, suas fontes e os cidadãos é de manter silêncio. [Significa que] se você divulgar informação pública, pode ser perigoso.
Os assassinatos aumentaram muito por diferentes razões. Em todos os casos, os assassinos querem matar para impedir a informação diferente de ser divulgada. Mas eles têm diferentes motivos. A máfia é uma história, o terrorismo é outra história, agentes estatais são outra. A menos que alguém possa tentar construir algum tipo de cultura de respeito ao jornalismo, nós iremos enfrentar ainda mais problemas como este.
As pessoas devem proteger os jornalistas. Uma maneira de fazer isso é combater o problema da impunidade. Para nove de 10 jornalistas mortos, nunca há repercussões para os assassinos.
Como podemos combater o problema da impunidade?
Segurança e impunidade são as duas faces da mesma moeda. Por um lado, você tem jornalistas que precisam de uma melhor formação sobre como se proteger para que não sejam mortos. É claro que nem sempre está em suas mãos. Você também precisa de pressão sobre aqueles que estão matando jornalistas para parar a matança e para o governo proteger os jornalistas.
Há duas variáveis aqui: A vontade política e a capacidade. Em algumas situações, você descobre que não há muita vontade política e precisa ter advocacia. Do lado da capacitação, há muita necessidade de criar unidades especiais para lidar com estas questões. A Sérvia tem todo um processo para lidar com casos passados de impunidade. A Colômbia tem um sistema interessante para proteção de jornalistas.
Em países em crise como a Síria e o Iraque, é difícil aumentar a consciência ... porque eles têm problemas muito maiores e é difícil construir capacidade porque eles não têm instituições. Mas você pode documentar. Em algum momento, a situação vai mudar nesses países e se você pode começar a dizer para as pessoas nesses países, 'Você pode ter que explicar suas ações algum dia no Tribunal Penal Internacional ou através de algum outro procedimento' -- pode salvar vidas de alguns jornalistas.
Piorou ou melhorou para jornalistas desde que você começou como repórter?
Piorou com certeza. Em algumas situações, os agressores ainda precisavam de jornalistas para divulgar sua mensagem. Agora, eles pensam, 'se matamos um jornalista, podemos publicar a nossa mensagem no YouTube'. Mas se você também tem alguma outra causa que pretende promover -- não pode apenas promover a causa do terror -- vai precisar de alguns jornalistas que podem reportar sobre por que você está fazendo isso.
A razão de eu ser um pouco mais otimista é que está se tornando cada vez mais uma questão dominante: Há mais e mais pessoas preocupadas e mais eventos e treinamentos, incluindo formação digital. Há muito mais consciência agora.
Esta entrevista foi condensada e editada.
Imagem principal por IJNet