O lixo é abundante na costa da Colônia Machar, localizada nos arredores de Karachi, no Paquistão. O vento balança uma bandeira no alto à distância, em meio a vozes agudas de crianças e homens que vendem suas mercadorias. Mas não é necessário viajar até o sul da Ásia para conhecer a vida nessa favela. Graças a um vídeo de 360°, as pessoas podem experimentar as vistas e os sons de Machar do conforto de seus computadores.
Shaheryar Popalzai considera-se um jornalista acidental, tendo originalmente estudado ciência da computação antes de juntar sua experiência técnica com o mundo do jornalismo. Como membro do ICFJ Knight, ele trabalhou com os principais sites de notícias do Paquistão, como Express Tribune e Geo News, para produzir conteúdo inovador e interativo, utilizando Facebook Live, vídeo 360° e foto de 360°. O resultado são histórias que permitem que os telespectadores e os leitores entrem na cena, absorvendo as vistas e sons distintos dos locais.
Mas jornalistas não precisam ter uma bagagem técnica para oferecer essa experiência ao público. Popalzai quer espalhar essas inovações tecnológicas para outras salas de redação. Ele escreveu um guia abrangente para vídeo de 360°, que ele apresentou na Conferência da ONA 2017 em Washington.
O guia explica tudo o que um aspirante a videógrafo precisa saber, incluindo diferentes termos de tecnologia e recomendações de equipamentos (tudo acessível para redações ou jornalistas independentes) para planejamento, filmagem e pós-produção. Popalzai oferece uma lista de verificação pré-gravação e de filmagem e divide seu fluxo de trabalho em costura (stitch), edição e publicação do vídeo. O guia está escrito em ordem cronológica para que seja acessível a todos os níveis.
A IJNet falou com Popalzai sobre o guia, o futuro da inovação de notícias e seus planos para o futuro.
IJNet: O que levou você a produzir vídeos de 360°?
Popalzai: Eu acho que [esses tipos de vídeos] falam por si mesmos. Permitem que as pessoas experimentem a história propriamente. O melhor beneficiário das novas tecnologias é o leitor e o espectador. Você está oferecendo novas experiências. Eu sei que algumas pessoas adoram ler 2.000 palavras e outras pessoas adoram ver vídeos. Mas com novas tecnologias, pode dar o melhor dos dois mundos. Pode criar experiências pessoais dessa maneira.
Como aprendeu a usar o vídeo de 360° e como influi a maneira que você está ensinando as pessoas?
Aprendi sozinho; sou autodidata. As pessoas ficam realmente intimidadas; acham que é difícil de fazer, mas na verdade não é. Eu venho desse ambiente onde as redações não investiam dinheiro nesse tipo de coisa. Então, o guia é para redações pequenas ou mesmo um pouco maiores que não querem gastar muito dinheiro. Para mim, as coisas mais importantes do guia são o planejamento, a filmagem e a pós-produção. Mas muitas pessoas também não conhecem as câmeras. Escolhi as câmeras mais baratas com a melhor qualidade disponível e falei sobre como filmar. Se você não tem experiência de vídeo, ainda pode fazer um vídeo de 360°. Você só precisa conhecer o seu ambiente. Por exemplo, se vai fazer uma filmagem de 360° em um museu, precisa conhecer a sala perfeita que as pessoas gostariam de ver.
Quais são os seus objetivos para o guia? Como espera que seja usado?
Espero que redações pequena usem o guia, juntamente com jornalistas que ainda não tiveram a chance de fazer um vídeo de 360°. Estou aberto a colaboração com jornalistas. Repito: em um ambiente desafiador como o nosso, é melhor ter um produto em mão para convencer os diretores de redação a experimentarem algo novo. Então, se puder ajudá-los a produzir um vídeo e podem usar isso para convencer a direção a comprar equipamentos, seria uma grande conquista para mim. Isso lhes permitirá produzir mais conteúdo de forma consistente.
Quais outras inovações tecnológicas estão no horizonte?
A realidade aumentada é uma delas. Acho que tem muito potencial e que será maior do que a realidade virtual e vídeo de 360°. Aplicar a realidade aumentada ao jornalismo será o futuro. Você recebe seu jornal pela manhã, pega o telefone, aproxima-o do jornal e aparece um gráfico, animação ou um vídeo, combinando digital e impresso. A Apple e o Google lançaram kits de realidade aumentada para que as pessoas desenvolvam mais conteúdo, então acho que isso realmente vai explodir em algum momento.
Acho que a tecnologia se expandiu tanto nos últimos seis anos que é difícil para as pessoas estarem atualizadas. Acho que as salas de redação precisam escolher as batalhas certas para lutar e se concentrar e desenvolver. Encontre as pessoas certas dentro da sua redação, encontre as tecnologias certas e dedique-se para expandi-las.
E o seu futuro?
É muito cedo para dizer. Eu adoraria continuar fazendo inovação, melhorar as salas de notícias como puder e melhorar as experiências das pessoas como puder. Não faltam histórias para contar.
Esta entrevista foi condensada e editada.
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Shaheryar Popalzai, um jornalista e estrategista digital, foi pioneiro em projetos de vídeo de 360° acessíveis e fáceis de produzir em salas de redação paquistanesas. Popalzai também tem experiência na formação da equipes de jornalismo de dados e uso de sensores como forma de gerar novos dados para matérias. Saiba mais sobre seu trabalho como bolsista Knight do ICFJ aqui.
Imagem principal sob licença CC no Flickr via Maurizio Pesce.