O projeto MonitoraCovid-19, desenvolvido por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), foi tema do webinar do Fórum de Reportagem sobre a Crise Global de Saúde, realizado no dia 4 de agosto. Na ocasião, o geógrafo da saúde, Raphael Saldanha, e o desenvolvedor do projeto, Diego Xavier, falaram sobre a plataforma que reúne informações sobre a pandemia no Brasil e no exterior.
A ferramenta disponibiliza dados de diferentes fontes organizados em abas e publica regularmente notas técnicas sobre comportamento da doença em diferentes níveis (nacional, estadual, municipal). “A gente já está com 27 abas abordando diversas formas de você enxergar as informações da pandemia. A gente sempre tenta fazer isso de forma comparativa, comparar o Brasil com outros países, outros países com estados, com município -- a gente a conseguiu cruzar informações de vários níveis geográficos”, diz Saldanha.
“Outra aba que a gente fez foi a chamada de linha do tempo... A ideia aqui é entender qual foi a pior semana de casos em cada UF (Estado) ou município”, diz. Saldanha explica que isso possibilita ilustrar o pico e platô da doença em diferentes locais. Além dos dados acumulados de casos e óbitos, o site traz também a taxa de incidência por 100 mil habitantes. “Isso permite comparar melhor municípios, estados e países considerando o tamanho da população”, explica.
Veja a seguir os principais pontos da conversa.
Sobre o MonitoraCovid-19
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“Hoje a gente trabalha com mais de dez fontes de dados no projeto, não só para casos e óbitos, mas também para outras informações”, diz Saldanha. Uma dessas fontes é o projeto Brasil.io, que desde o início da pandemia já tinha dados por municípios, coletados dos boletins epidemiológicos das secretarias de saúde local.
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Ele conta que a ferramenta possui abas com informações complementares que ajudam a constituir um retrato geral sobre a epidemia. Uma delas é relativa à Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). “A quantidade de casos é tão grande e tão superior à dos anos anteriores que isso já evidencia bem a situação da epidemia, tanto por UF como no Brasil como um todo”, explica.
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A plataforma também utiliza dados de geolocalização para mensurar deslocamentos de pessoas e transportes individuais e coletivos. “Isso dá uma ideia de resposta da população sobre os decretos de isolamento social”, diz. Há também uma pesquisa feita em parceria entre IBGE e Fiocruz que mostra a quantidade de idosos com doenças crônicas que moram com crianças em idade escolar.
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Saldanha revela que há possibilidade de firmar uma parceria com o Facebook num futuro próximo para obter dados sobre sintomas da COVID-19 informados pelos usuários. “Não consigo dar dados de como a gente vai disponibilizar essas informações, qual nível que a gente vai poder fazer isso, mas é algo que a gente tá trabalhando para fazer o mais rápido possível.”
Notas sobre o Brasil
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Periodicamente o MonitoraCovid-19 divulga notas técnicas com as informações sobre a pandemia no país. “A gente vê claramente a falta de recursos no Norte, no interior do Nordeste e uma situação muito mais confortável no Sul e Sudeste. Sempre foi assim. Há uma concentração muito maior de recursos no Sul e Sudeste e um déficit no Norte e Nordeste; é um problema estrutural que a gente precisa atacar”, diz Xavier sobre a nota divulgada em 18 de maio, que trata da disseminação espacial da doença e disponibilidade de recursos no sistema de saúde.
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“Hoje o Mato Grosso passa por um processo epidêmico bastante expressivo, porque a doença chegou em todo o estado quase ao mesmo tempo: atingiu os municípios polo e os municípios pequenos. Hoje no Mato Grosso se você precisar de uma UTI, você tem que ir para um outro estado”, diz Xavier sobre a nota técnica divulgada em 20 de maio. O boletim aborda o acesso aos serviços de saúde e o fluxo de deslocamento de pacientes em busca de internação.
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Os dados mostram também o tempo que as pessoas levam para ter atendimento médico em cada região, que é maior no Norte e Centro-Oeste. “Isso ajuda a entender o volume de óbitos que esses estados apresentaram. Você tem um ou dois polos que centralizam o atendimento e no restante do estado você não dá condições logísticas para que essa população chegue a tempo de ser atendida,” explica.
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“Um dado que chama bastante atenção é que você teve um excesso de mortalidade em outros estabelecimento de saúde (UPAs) e em domicílios”, diz Xavier. “Isso é gente que não conseguiu ser atendida, gente que morreu com desassistência para COVID.”
Fhoutine Marie é jornalista e cientista política. Paraense radicada em São Paulo, trabalha como jornalista e pesquisadora freelancer com foco nas áreas de gênero, raça e movimentos sociais. Twitter: @DraFufu
Imagem principal print do site do MonitoraCovid-19