Fact-checking e mídia independente são armas contra notícias falsas na Ucrânia

por Judith Langowski
Oct 30, 2018 em Combate à desinformação

Refutar falsas notícias e propaganda tem sido a missão da jornalista Margo Gontar desde que ela cofundou o site ucraniano de fact-checking StopFake em 2014. Como parte de um projeto da Faculdade de Jornalismo de Kiev, um grupo de professores, estudantes e voluntários criou o site em resposta ao fluxo de notícias falsas que explodiram com a ocupação da Criméia.

"O objetivo da notícia falsa não é que as pessoas acreditam nela", disse Margo. "Seu objetivo é confundir o público. Uma hora simplesmente deixam de confiar na mídia". A jornalista teoriza que, quando as pessoas são inundadas por notícias falsas, muitas se distanciam do discurso político.

Para combater esse tipo de desinformação na Ucrânia, reportagens independentes e de qualidade são vitais --uma perspectiva às vezes desafiadora em um país na posição 102 no ranking de 180 países na liberdade de imprensa, de acordo com os Repórteres Sem Fronteiras. Setenta e cinco por cento do mercado da mídia ucraniana pertence a apenas quatro oligarcas.

Iryna Slavinska, apresentadora de notícias e editora do "Hromadske Radio", trabalha em uma das poucas organizações de mídia que não pertence a um oligarca. Financiada através de doações e subvenções, a estação independente foi fundada em 2013, alguns meses antes dos protestos do Euromaidan, e rapidamente se tornou a voz dos manifestantes.

"Nós nos tornamos muito mais profissionais desde então", disse Iryna. Nove horas de programação chegam a 100.000 ouvintes todos os dias, com a metade dessa audiência ouvindo o conteúdo informativo da Hromadske na rádio estadual, onde a estação recebe um espaço de duas horas ao vivo todas as noites.

"Difundimos nossa programação de Kiev, Mariupol e Dnipr. Temos licenças temporárias para as regiões de Donezk e Luhansk", disse Iryna. "Nossas transmissões atingem até mesmo os territórios ocupados [áreas ocupadas por separatistas] dessas regiões". Reportagem independente é especialmente difícil, pois os jornalistas ucranianos têm pouco ou nenhum acesso a essas áreas. Para essas transmissões, a Hromadske Radio depende de contatos anônimos nas regiões ou jornalistas estrangeiros, que têm acesso mais fácil.

Mesmo para organizações de mídia independente, a definição de notícias no contexto da guerra continua difícil. Os jornalistas ucranianos devem priorizar a liberdade de expressão sobre a segurança de seus compatriotas lutando na guerra? Esta questão foi fortemente debatida na conferência de mídia "Inside Our Blind Spots", realizada em outubro em Kiev e organizada pela ONG alemã, Network for Reporting in Eastern Europe (N-ost).

Como o acesso limitado às zonas de guerra torna mais fácil para ambos os lados espalharem notícias falsas, é crucial ter um jornalismo independente. Ao monitorar amplamente a mídia, o StopFake está tentando ser um "centro de informação sobre a guerra" e oferecer um panorama sobre a desinformação. A organização espera alcançar a "zona cinza" --o público que não está convencido por nenhum dos lados no conflito russo-ucraniano.

É uma tarefa enorme. Desde que Margo começou seu trabalho no StopFake, ela produziu 178 vídeos, cada um deles desmascarando notícias falsas. Mas os produtores de notícias falsas estão usando métodos cada vez mais refinados.

A "Russia Today", a controversa organização de mídia russa recentemente bloqueada pelo Twitter, agora tem seu próprio site "FakeCheck", que afirma verificar notícias falsas do Washington Post, New York Times e outros meios de comunicação ocidentais. Em sua análise sobre o "FakeCheck", pesquisadores do Instituto Poynter argumentaram que o site combina correções legítimas com rejeições partidárias duvidosas, confundindo ainda mais o público.

"Eu sinto que estou lutando contra um vírus monstruoso", disse Margo sobre seu trabalho contra as notícias falsas. "Elas se adaptam e se transformam."

Apesar dos desafios em constante evolução, Margo tem esperança que esforços de verificação continuem a crescer. Por três anos, ela alertou sobre notícias falsas e desinformação. Enquanto a ameaça da desinformação era contida ao público ucraniano e outros de língua russa, "a mídia internacional e a audiência tinham o luxo de se distanciar", disse Margo. Agora, no entanto, "isso está se tornando um problema para o público ocidental em geral."

No final, os jornalistas ucranianos enfrentam problemas semelhantes aos de colegas de outros países: o declínio da confiança na mídia torna difícil promover reportagens objetivas e diversas onde são mais necessárias. O desafio consiste em neutralizar o ataque contra a mídia e redefinir o que conta como notícias. Juntos, esses esforços estão desfazendo o enigma complicado de reconstruir a confiança na mídia e combater as ameaças que a desinformação representa.

Imagem sob licença CC no Flickr via Alexandra (Nessa) Gnatoush