Estudo mostra que revolução tecnológica pode estar deixando redações para trás

por Samantha Berkhead
Oct 30, 2018 em Jornalismo digital

Enquanto muitas salas de redação e jornalistas estão dando grandes passos ao abraçar as últimas tecnologias, muitas mais ficam para trás, revelou um novo estudo realizado pelo Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, em inglês).

O Estado da Tecnologia nas Redações Globais, que reuniu mais de 2.700 respostas de jornalistas e diretores de redação de 130 países, revela que essa tendência é bastante consistente em todas as regiões, embora a Eurásia/ ex-URSS seja mais propensa a abraçar as notícias digitais e o sul da Ásia ainda continue dominado pela mídia tradicional.

Quer se trate de lacunas tecnológicas, inovação na redação como um todo, questões de segurança e verificação, fator de confiança ou sustentabilidade financeira, os dados do estudo mostram que as salas de redação não estão adotando plenamente a revolução tecnológica. Apenas 5 por cento da equipe de redação, por exemplo, tem formação de tecnologia e apenas 18 por cento dos papéis da redação são de natureza digital.

Claramente, os jornalistas globais têm muito a melhorar no quesito adoção de tecnologias. Então, o que pode ser feito?

Aqui estão algumas soluções possíveis:

Construção de confiança e verificação 

As salas de imprensa dependem bastante do conteúdo gerado pelo usuário para imagens de eventos de última hora, mas apenas 11 por cento dos entrevistados relataram usar ferramentas de verificação de mídia social como TinEye e Google Image Search. Isso apesar do fato de que a maioria dos jornalistas -- 71 por cento -- usa as redes sociais para encontrar novas ideias de pautas e outros conteúdos para seu trabalho.

E quando as notícias não são verificadas, o público perde a confiança. Apesar da confiança pública na mídia estar em seu pior momento na história em todo o mundo, apenas 21 por centos dos entrevistados na Eurásia e ex-Estados soviéticos -- e 29 por cento das redações norte-americanas -- identificaram a construção da confiança como uma grande preocupação. Outras regiões do mundo, particularmente a América Latina, Oriente Médio/Norte da África e Europa, estão muito mais preocupadas.

Joy Mayer trabalhou amplamente na questão da reconstrução da confiança do público nas notícias. No início deste ano, ela liderou uma equipe de estudantes de jornalismo no estudo Trusting News, que buscou estratégias bem-sucedidas de construção de confiança para redações no Facebook. Ela também é colaboradora do Gather, um novo centro online onde os jornalistas podem se conectar e compartilhar suas estratégias favoritas de engajamento uns com os outros. Você pode solicitar um convite para participar do Gather aqui.

Modelos de negócios

Quase duas décadas depois que a internet mexeu com o modelo de negócios do jornalismo, muitas salas de redação ainda estão lutando para desenvolver uma fonte de receita sustentável que não inunda os leitores com anúncios ou os faça passar por um paywall.

As redações que são somente digitais estão achando mais fácil se adaptar aos desafios de financiar as notícias online. De acordo com a pesquisa, elas são duas vezes mais propensas a gerar receita de fontes alternativas que as salas de redação tradicionais ou híbridas (que combinam formatos legados e digitais).

Janine Warner, bolsista Knight do ICFJ, que trabalha com empreendedores e startups de mídia latino-americanas através da SembraMedia, disse que a mídia digital continua a florescer apesar das crises econômicas na região. As organizações compreendem que a receita diversificada e o suporte ao leitor são a chave tanto para a independência editorial quanto para o sucesso financeiro.

Ela disse que acredita que os meios de comunicação digitais começarão a adotar o "modelo NPR" de solicitar doações mensais dos leitores, em vez de campanhas anuais de crowdfunding.

"[Este modelo] dá às startups uma fonte de renda mais estável", explicou Janice. "É o modelo que mais fala de sua credibilidade. Se você faz conteúdo original e de qualidade que muda a vida das pessoas, as pessoas pagarão por isso."

Papéis na redação

Apesar de alguns ganhos no uso de ferramentas e tecnologias digitais por parte dos jornalistas, a pesquisa do ICFJ descobriu que apenas 5 por cento das equipes de redação em todo o mundo possuem um diploma relacionado à tecnologia e apenas 2 por cento das salas de redação empregam tecnólogos. Sem equipes de tecnologia substanciais, é difícil para as redações inovarem de forma significativa.

Além disso, a pesquisa revelou que os diretores de redações têm mais chances de ter habilidades digitais em comparação com os jornalistas que supervisionam. De acordo com Omar Mohammed, bolsista Knight do ICFJ, muitas vezes é um desafio para os jornalistas convencerem seus diretores a investir em novos treinamentos digitais quando os recursos são escassos. Mohammed compartilhou ideias e ofereceu soluções para jornalistas que enfrentam esse desafio:

Conclusão

Apesar dessas descobertas, há esperança para o jornalismo na era digital se você sabe onde procurar. Em sete das oito regiões pesquisadas, as salas de redação digitais e híbridas superaram a mídia tradicional. As startups orientadas pela inovação podem se tornar o novo padrão à medida que a mídia mais tradicional desaparece. E as oito regiões pesquisadas compartilham em grande parte os mesmos processos, ferramentas, habilidades e treinamento à medida que se adaptam à era digital - uma descoberta que abre possibilidades para novos tipos de colaboração e parcerias transfronteiriças.

Para mais destaques da pesquisa, clique aqui. Você pode ler o relatório completo da pesquisa aqui.

Imagem principal sob licença CC no Flickr via Alyson Hurt