Mesmo as editoras pequenas têm um grande efeito no discurso nacional, de acordo com um novo artigo publicado na revista Science sobre os efeitos das notícias. "A exposição aos veículos de comunicação", afirma o estudo, "faz com que os americanos tomem posições públicas sobre questões específicas, participem de conversas sobre políticas nacionais e se expressem publicamente."
A pesquisa visa quantificar o efeito da mídia de notícias. Colocando em termos cada vez mais comuns para o jornalismo: qual é o impacto das organizações de notícias?
O estudo do professor Gary King da Universidade Harvard e colaboradores descobriu que poucos e (na maioria) pequenos veículos de imprensa que publicam simultaneamente sobre uma área ampla de política pública aumentaram o volume de conversas nas redes sociais em 19 por cento no dia seguinte à publicação. Durante uma semana inteira, o volume aumentou em 63 por cento em relação ao volume médio do dia. O número de autores únicos aumentou também, e a composição da opinião mudou na direção dos artigos publicados.
Os veículos de notícias, apesar dos algoritmos de redes sociais, das câmaras de eco de polarização política e do barulho de informação digital, têm um efeito profundo e mensurável sobre o discurso nacional.
Como o experimento foi conduzido
Um dos desafios da pesquisa sobre o impacto da mídia é a falta de controle que os pesquisadores têm sobre a publicação das notícias em si. Você não pode exatamente aleatorizar as notícias. A necessidade de manter a independência editorial e o caráter oportuno das reportagens significam que há relativamente poucos experimentos controlados em grande escala tentando medir experimentalmente o efeito dos veículos de comunicação.
A equipe de pesquisa encontrou uma maneira de contornar isso, colaborando com os veículos de imprensa, usando os três primeiros anos do estudo de cinco anos para construir confiança. "Honestamente, quando começamos as conversas com os pesquisadores em 2012, o que eles exigiram parecia impossível", escreveu a diretora executiva do Media Consortium, Jo Ellen Green Kaiser, para o MetricShift em 2016. No entanto, os pesquisadores começaram a participar de conferências da indústria e trabalharam com o Media Consortium para testar o experimento com um pequeno grupo de participantes.
No geral, o estudo recrutou 48 veículos de notícias que concordaram, em pequenos grupos, a publicar ao mesmo tempo em uma ampla área política acordada de antemão e típica de sua cobertura regular. As 11 áreas políticas foram raça, imigração, emprego, aborto, clima, política alimentar, água, política educacional, refugiados, produção de energia doméstica e direitos reprodutivos. Os veículos de imprensa mantiveram o controle total sobre o que foi publicado, bem como a opção de exclusão a qualquer momento. (Uma lista dos veículos que participaram plenamente do experimento está disponível em um apêndice ao relatório.)
Por sua parte, os pesquisadores escolheram uma janela de publicação de duas semanas quando esperavam um ciclo de notícias lentas e randomizaram a data de publicação para a primeira ou segunda semana. Eles foram capazes de medir e comparar as mudanças no volume e composição da conversa no Twitter entre a semana de publicação e a semana de controle.
O experimento foi executado 35 vezes, e a publicação em grupo mostrou ter aumentado a conversa sobre o tópico geral em 63 por cento ao longo de uma semana, em relação ao volume médio do dia.
As organizações foram principalmente pequenas publicações, com uma média de 50 mil assinantes.
O que os resultados significam?
Para o Media Consortium, esta pesquisa mostra que "mesmo pequenos veículos de comunicação independentes podem ter um efeito dramático sobre o conteúdo da conversa nacional", escreveu Jo Ellen em um post no blog.
Na verdade, ela disse, a mídia independente tem algumas vantagens quando se trata de ter um impacto no discurso nacional. Veículos independentes possuem comunidades leais de leitores e apoiadores que estão dispostos a divulgar conversas nacionais nas redes sociais; uma vontade de colaborar abertamente e de forma a amplificar o efeito das notícias; e uma cobertura de notícias que pode abordar temas sérios porque há uma menor obrigação de conseguir visualizações de página.
Definir o impacto como influência em uma conversa nacional é algo novo, com medidas de confiança sendo um grande obstáculo a superar.
Existem algumas limitações para o estudo. Kathleen Hall Jamieson, diretora do Annenberg Public Policy Center na Universidade da Pensilvânia, disse ao New York Times que, sem que os pesquisadores divulguem mais informações (os nomes de artigos específicos e editores foram retidos por razões de integridade editorial), há questões sobre sua aplicabilidade geral. O volume de conversas no Twitter é um proxy verdadeiro para a conversa nacional, por exemplo? E quão significativo é o discurso lá?
No entanto, esta pesquisa pode mudar a discussão sobre o impacto da mídia. "Na verdade, muitas vezes, as fundações filantrópicas se recusam a apoiar esses veículos porque são 'muito pequenos' e 'não têm impacto suficiente'", escreveu Jo Ellen.
Uma definição mais ampla de impacto
Estamos na era da mídia digital, onde o jornalismo e as notícias sem fins lucrativos, apoiados pelos leitores, fornecerão cada vez mais reportagens de interesse público. Nesse contexto, essa pesquisa é um passo em direção a uma compreensão mais profunda.
Até agora, o impacto geralmente foi medido ao longo de um vetor. Dessa forma, os atos de jornalismo levam a respostas do público e, finalmente, uma reação na forma de mudança individual ou social. Os rastreadores de impacto como os usados pela rede Gannett, Chalkbeat e o Center for Investigative Reporting medem muito bem o impacto baseado em vetores.
Esta pesquisa levanta a perspectiva de que, seja medindo ou não a cada momento, o ato de publicar notícias é influente em formas ainda surpreendentes e robustas. "Nossos resultados devem nos lembrar a importância da conversa nacional em andamento e interconectada que os americanos têm em torno de grandes questões de políticas públicas", escreveram os autores do estudo. "Essa conversa é uma característica fundamental do governo moderno de grande escala."
Se, na sua maioria, pequenos editores que trabalham em pequenas colaborações podem influenciar a conversa de forma tão significativa, como será com as colaborações de organizações denotícias sem fins lucrativos, jornais locais e noticiários de televisão? E como seria se as três colaborações colaborassem entre si?
Este artigo foi publicado originalmente no MediaShift e é reproduzido na IJNet com permissão.
Imagem principal sob licença CC no Flickr via George Kelly