Diretrizes para determinar quando um estudo médico tem valor jornalístico

Jun 26, 2019 em Combate à desinformação
Placa de Petri

Cobrir a editoria de saúde é como andar na ponta dos pés por um campo minado. Reportagens médicas estão cheias de informações contraditórias.

Veja, por exemplo, uma matéria no Guardian publicada no início de junho: “Os amantes do café que bebem até 25 xícaras por dia podem ter certeza de que a bebida não é ruim para o coração deles, dizem os cientistas.”

No entanto, a reportagem também observa: "Alguns estudos anteriores sugeriram que o café endurece as artérias, colocando pressão sobre o coração e aumentando a probabilidade de um ataque cardíaco ou acidente vascular cerebral, portanto, os bebedores de café devem reduzir seu consumo."

No que o leitor deve acreditar?

Avaliando pautas médicas

Como os jornalistas de saúde separam fatos de ficção? Reportagens médicas podem mudar a vida das pessoas para melhor ou para pior, provocando mudanças no estilo de vida, oferecendo esperança para novos remédios e mais. Há uma enorme responsabilidade da mídia para dar a informação correta.

Em maio, um painel da conferência anual da Associação de Jornalistas de Saúde do EUA (AHCJ, em inglês) forneceu diretrizes para ajudar repórteres a dominar as complexidades dos estudos médicos e decidir o que vale a pena ser noticiado.

Os membros do painel alertaram que os estudos geralmente contêm informações incorretas ou foram manipulados para tornar os resultados mais significativos. "Metade dos estudos estão errados ou são manipulados", disse Regina Nuzzo, jornalista de ciências e professora da Universidade Gallaudet.

P-hacking, ou dragagem de dados, é a prática de manipular dados para mostrar significância estatística para um resultado desejado: geralmente um que beneficia ou valida os patrocinadores do estudo.

"Todos os pesquisadores devem verificar suas alegações com dados, especialmente aqueles que fazem alegações incomuns", disse Nuzzo. "Os jornalistas devem ser céticos."

Tara Haelle, líder do AHCJ para estudos médicos, moderou o painel da conferência. Como parte de seu trabalho, Haelle explica como ler, entender e reportar sobre pesquisas médicas. Ela forneceu uma lista de perguntas básicas que todos os repórteres deveriam fazer ao cobrir novas pesquisas:

  • Como este estudo se encaixa no quadro geral?
  • Como se compara a outros estudos sobre o mesmo assunto?
  • O estudo é realmente novo?
  • Quem patrocinou isso?
  • Como se soma a pesquisas anteriores?
  • Qual é a relevância clínica, se houver, do estudo?
  • Como vai mudar a prática de um médico ou o modo como um leitor pode escolher se comportar
  • As descobertas do estudo são importantes para os leitores agora e, em caso afirmativo, como?

A IJNet falou com Haelle para obter mais informações sobre as melhores práticas para reportagens sobre estudos médicos.

IJNet: Qual é o seu melhor conselho sobre como evitar desinformação nas reportagens de saúde?

Haelle: Os repórteres sempre devem perguntar aos especialistas externos quais são as maiores deficiências do estudo e o que os autores podem ter perdido ou deixado de fora. As perguntas incluem:

  • O estudo confirma o que já foi entendido?
  • Esclarece um aspecto não entendido anteriormente?
  • Contraria descobertas do passado? Quantas?
  • Contradiz alguns mas apoia outros?
  • Reproduz descobertas estabelecidas ou descobertas relativamente novas?
  • Basicamente, com o que essa área de pesquisa se parecia antes do início deste estudo, e como, de fato, esse estudo muda ou reforça isso?
Como você determina se a pesquisa médica é digna de notícia?

A questão mais importante a considerar na cobertura de pesquisas médicas é como afetará a vida dos leitores no momento. Isso inclui possibilidades positivas e negativas, e traz uma grande responsabilidade para o jornalista.

Os leitores vão querer saber o que fazer com as informações, e os jornalistas devem considerar a importância das informações.

[Os leitores] podem começar a limitar um determinado alimento, considerar iniciar ou interromper um suplemento, perguntar ao médico sobre um novo medicamento ou evitar um determinado poluente ou produto. As pessoas leem notícias de saúde porque querem ser mais saudáveis, por isso a questão é: "Por que isso é importante para mim?"

Você tem algum conselho para avaliar a metodologia das reportagens médicas?

Não se espera que os jornalistas sejam especialistas em um campo específico; [no entanto], espera-se que sejam especialistas em encontrar as pessoas mais inteligentes, mais críticas, céticas, informadas e sábias nesse campo, e perguntar-lhes sobre a metodologia.

[Pergunte aos especialistas], “O estudo foi feito apropriadamente?” “Quais foram os sinais de alerta?” “Quais são as explicações alternativas para as descobertas?” “Quais são as maiores limitações?”

Recursos adicionais (em inglês)


Imagem principal sob licença CC Unsplash via Drew Hays