Dicas para desenvolver projetos colaborativos de jornalismo de dados

por Korey Matthews
Feb 13, 2019 em Jornalismo de dados
Dados

No dia 25 de janeiro, a Rede Global de Editores (GEN, em inglês) realizou um bate-papo ao vivo sobre como conduzir projetos colaborativos de jornalismo de dados. Pierre Romera, Rachel Glickhouse, Arun Karki e Gian-Paolo Accardo conduziram a discussão, moderada por Marianne Bouchart e Simon Rogers.

Os jornalistas deram conselhos sobre como desenvolver um projeto colaborativo de jornalismo de dados, erros comuns ao realizar um projeto e ferramentas úteis para colaborações de jornalismo de dados.

Primeiro o mais importante

O que fazer quando você e sua equipe descobrem dados que merecem uma visão mais profunda? Como avançar e iniciar uma investigação?

"Eu diria que tem que começar contatando as pessoas com quem você já trabalhou", escreveu Accardo, editor e cofundador da VoxEurop. "Então comece a construir um consórcio formal ou uma rede de parceiros."

Bouchart, fundador do HEI-DA, uma organização sem fins lucrativos dedicada ao jornalismo de dados, também perguntou aos participantes sobre o mais importante ao colaborar em um projeto de jornalismo.

Accardo destacou a necessidade de estabelecer papéis claros para todos os envolvidos. "Funções, responsabilidades e autoridades claras provavelmente têm os benefícios adicionais de reduzir o estresse geral na organização", escreveu ele.

É importante que todos os envolvidos na colaboração entendam os dados coletados e como interpretá-los, disse Glickhouse, que coordena o projeto Documenting Hate na ProPublica. O projeto visa coletar dados confiáveis sobre crimes e incidências de preconceitos para uso de jornalistas, pesquisadores e outras organizações.

Para garantir que toda a equipe leia os dados corretamente, Glickhouse recomendou que todos os materiais descrevam claramente todos os detalhes necessários e oferecer treinamento contínuo para toda a equipe.

Também é importante considerar as pessoas com quem você vai trabalhar, disse Romera, diretor de tecnologia do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos. Trabalhar com pessoas em quem você confia é fundamental, pois qualquer colaboração requer um diálogo aberto. "Nós desenvolvemos um conceito de 'compartilhamento radical', onde cada jornalista deve desempenhar sua parte compartilhando todas as descobertas", escreveu ele.

A equipe de Romera usa um fórum seguro chamado iHub para compartilhar atualizações, mas existem inúmeras outras maneiras de compartilhar informações online, com ferramentas como o Google Drive, Dropbox e OneDrive.

Ele acrescentou que os colaboradores devem investir e gostar de trabalhar no projeto: "Um projeto colaborativo é muito trabalhoso, então você tem que curtir."

Erros comuns

Um dos erros comuns que Glickhouse percebe frequentemete é que os parceiros colaborativos assumem que todos que demonstraram interesse em uma investigação participarão. "O DocHate tem muitos parceiros que se juntam, mas nem todos participam e menos ainda acabam fazendo reportagens", escreveu ela.

Muitos projetos de longo prazo também correm o risco de enfraquecer o entusiasmo dos membros da equipe, de acordo com Accardo. Nesse caso, é essencial ter uma liderança forte para manter os colaboradores motivados. "O envolvimento dependerá da capacidade do coordenador de executar o projeto e manter o ritmo e a motivação", escreveu ele.

Glickhouse enfatizou que um líder não deve ser a pessoa com criatividade, mas alguém que possa lidar com os detalhes do dia-a-dia do projeto. Isso inclui atribuir funções aos membros da equipe, monitorar os prazos e garantir que sejam mantidos registros precisos.

Ferramentas

Quando Bouchart perguntou aos palestrantes sobre ferramentas que recomendariam para facilitar  investigações colaborativas de dados, muitos deles sugeriram o Google. Aplicativos como o Google Docs ou o  Google Sheets facilitam que vários colaboradores editem um arquivo ao mesmo tempo e vejam as alterações em tempo real.

Karki, o fundador do Centro de Jornalismo de Dados do Nepal, também sugeriu o uso de software de criptografia, que pode ser particularmente útil quando se lida com informações confidenciais. "Usamos principalmente o PGP e o compartilhamento de arquivos criptografados em e-mails", disse Karki. "Esses [arquivos] podem ser compartilhados no Google Drive ou no Dropbox, mas apenas por [períodos] de tempo limitados."

Outras ferramentas que os participantes de bate-papo sugeriram incluem Trello, Slack e Screendoor que facilitam a comunicação online entre os membros da equipe.

No entanto, Accardo recomendou cautela ao confiar inteiramente na comunicação online, sugerindo alguns métodos clássicos que podem evitar os problemas que a tecnologia moderna ainda precisa consertar. "Reuniões por telefone, individuais ou mesmo presenciais resolvem muitos problemas de escrita ou de linguagem", escreveu Accardo.


Imagem sob licença CC sob Unsplash via Markus Spiske