Design no Jornalismo: como embalar a notícia para se destacar nas redes sociais

Sep 5, 2022 em Redes sociais
Homem segura paleta de cores

Há inegável beleza no Jornalismo quando reúne dois ingredientes: ética e estética. Muito se fala do primeiro como uma lista de regras morais da profissão. Pouco se discute sobre a importância do segundo como elemento fundamental de comunicação – que vai além da notícia bem apurada. Um texto fluído com palavras adequadas, um vídeo com fotografia surpreendente, um áudio editado com maestria elevam a qualidade de uma peça jornalística.

Parece óbvio aos meus colegas de estrada a obrigatoriedade do senso estético às produções já conhecidas: jornal, televisão e rádio. O que pode ser novo é aplicar beleza nas notícias divulgadas no ambiente digital, principalmente nas redes sociais. Eis mais uma competência exigida aos novos currículos: design. Recurso, esse, importante para quem precisa embalar uma notícia e chamar atenção do público e do algoritmo.

Entendi a relevância do recurso visual quando ainda trabalhava em redação e observava o trabalho do diagramador das páginas. Ou quando escrevi a capa inteira do jornal na forma de histórias em quadrinhos. Hoje, vejo o design como uma das habilidades básicas de qualquer comunicador. E mais gente pensa assim.

A jornalista Pâmella Cardoso se formou em 2017. Na época, o mercado exigia apenas ter bom texto. Mas com a expansão do mundo digital e o fechamento de muitos veículos impressos, ela precisou apurar o senso estético para fazer publicações atrativas na internet. "No meio de um arsenal de informações, é preciso reter a atenção do leitor", comenta. Ela se tornou estudiosa do tema e compartilha dicas de como criar informações visualmente interessantes no perfil do Instagram.

Por conta dessa iniciativa, inclusive, Cardoso foi contratada por um dos maiores portais de notícias de Brasília, o Metrópoles. "Há uma equipe específica de design do site e das redes. Entretanto, cerca de 90% dos jornalistas do meu setor usam ferramentas de design com frequência na execução das tarefas", explica. De tanto estudar a respeito e testar, ela faz artes para as redes sociais, relatórios de desempenho, apresentações e até livros eletrônicos.

Jornalismo que precisa aparecer

A recomendação é buscar referências e treinar em sites intuitivos como o Canva. Em julho deste ano, eu e Cardoso montamos um grupo de jornalistas interessados no assunto. O projeto durou 7 dias e se chamou Desafio Melancia. O nome faz referência à expressão de colocar uma fruta grande na cabeça e se destacar. Os 25 participantes receberam videoaulas com truques e tarefas para criar publicações atrativas no Instagram.

Uma das participantes foi Tathiana Campolina, que tem 16 anos de Jornalismo. Ela é coordenadora de comunicação e faz freelas de gerenciamento de redes sociais para 4 clientes. Ela produz nove artes para as redes sociais por semana e o projeto do desafio contribuiu para que ela aprimorasse o trabalho. Além de imagens, ela se empenha em aprender a fazer vídeos com ferramentas como Canva, Filmora Go e InShot. "Temos que ser multi para garantir espaço no mercado de trabalho", diz Campolina.

 

Mulher com melancia na cabeça
Publicação de Pâmella Cardoso sobre o Desafio Melancia

 

Outra participante foi a assessora de imprensa Lucíola Correa. No caso dela, a decisão de participar do desafio foi pelo desejo de dar agilidade ao serviço que oferece. "Se você deixar a estética de lado, não tem como tornar uma pauta atrativa para os colegas das redações ou produzir conteúdo interessante para os clientes", aponta.

Além disso, Correa está na fase de fazer o reposicionamento da própria marca profissional e acredita que os aprendizados de design vão ajudá-la nesta etapa. Ela acrescenta que a habilidade de embrulhar esteticamente releases e notícias é um diferencial para o jornalista que quer se atualizar. "A missão é acompanhar a inovação dos equipamentos e conseguir levar isso para a rotina do trabalho", finaliza.

Design como valor estratégico

Unir Jornalismo com o Design também é a preocupação do publicitário, Eudes Nogueira, de 25 anos. Desde os 17, ele atua como designer e já realizou peças para campanhas de diversas empresas: e-books, embalagens e, claro, artes para redes sociais. Nogueira traz uma nova visão: o design como estratégia.

"A mensagem é composta por meios verbais, visuais ou sonoros. A conexão entre eles potencializa a comunicação. Dominar o design fortalece a forma de se comunicar. Nas redes sociais, por exemplo, há mais critérios para definir cores, formas e texturas", explica Nogueira. "Assim, o profissional garante que aquele conjunto de elementos reflita o que se quer dizer por meio de informações organizadas e claras. Portanto, entender design é um fator estratégico, e não somente estético".

A composição de elementos visuais, como cores, formas e letras, faz parte desse universo de informação. Em um mundo onde um sem-número de notícias disputam atenção em telas de rolagem rápida, saber como se destacar é valioso. E isso pode ser feito por meio de imagens harmônicas, de confortável leitura e interação.

Aqui vão algumas dicas práticas de Nogueira para ter resultado imediato:

 

-Respeite as margens do papel, página ou post:

Exemplo errado e certo

-Evite usar mais de duas tipografias:

Certo e errado

-Prefira tipografias serifadas em textos densos:

Certo e errado-Seja sucinto na quantidade de textos dos posts:

Certo e errado

-Dê atenção aos contrastes de cor para ter uma leitura fácil:

Certo e erradoO designer também indica livros para jornalistas que querem estudar sobre o assunto. Para inspirar: "Uma faísca de imaginação", de Marty Sklar. E para agregar técnica: "A sintaxe da linguagem visual", de Donis A. Dondis. "Unir competências verbais à linguagem visual fará o profissional de comunicação atender melhor às necessidades do mercado", diz Nogueira.


Não é impossível atingir a excelência ética e estética em todos os formatos de mídia. E sem surpresas. Há 1.800, o filósofo Plotino já nos adiantava: "Eis o que experimentamos quando entramos em contato com a beleza: o maravilhamento, um súbito deleite, o desejo, o amor e uma alegre excitação". 


Foto da capa: arquivo pessoal Eudes Nogueira