O desenvolvimento de modelos inovadores de receita é uma necessidade para os veículos que pretendem se adaptar às mudanças de comportamento do mercado. O assunto foi tema do oitavo webinar do programa “Acelerando Negócios Digitais, projeto do ICFJ em parceria com a Meta. Para Jan Schaffer, especialista em mídia digital e modelos emergentes de jornalismo, está cada vez mais difícil manter um jornal só com os assinantes.
“As pessoas não querem mais pagar assinatura. Nos últimos anos, organizações enormes, como o NY Times e The Wall Street Journal, estão oferecendo acesso digital a um dólar por semana”. Essa dificuldade de monetizar, mesmo oferecendo assinaturas de baixo custo, exige soluções criativas. Schaffer afirma a importância de se concentrar em múltiplas fontes de renda, como os eventos, que vêm crescendo rapidamente nos últimos anos e apresentado bons resultados.
Os eventos como estratégia para conseguir patrocínio
Conquistar um patrocínio não é das tarefas mais fáceis na realidade brasileira, no entanto, Schaffer destaca que os eventos podem ser uma boa estratégia para conseguir assinantes e patrocinadores. Os patrocínios podem abranger todos os segmentos do negócio: do conteúdo às newsletters ou até uma série especial investigativa. Ela acrescenta que um jornalista de uma pequena organização precisa exercer várias funções. “Você precisa prestar atenção nas matérias, mas também nas pessoas que, talvez, nem saibam que querem oferecer apoio até que recebam uma oportunidade para participarem.”
O evento desperta o interesse da comunidade e facilita o contato com potenciais apoiadores. “Você tem que começar pequeno. Comece com um café da manhã. A universidade local ou uma biblioteca podem doar o espaço. Um café ou padaria podem doar a comida”. Schaffer pontua que a iniciativa pode custar muito pouco e se tornar a porta de entrada para os primeiros contatos. “Eu sou fã dos cafés da manhã, se você consegue atrair as pessoas bem cedo, depois elas vão trabalhar e comentar no local do trabalho sobre o que ouviram, propagando a informação.”
Além disso, ela sugere que o evento traga temas de interesse da comunidade, como, por exemplo, um debate com um político local ou uma figura pública. “Muitas vezes os colaboradores começam a surgir e sugerir temas. “É preciso entrevistá-los e ver o que querem, se eles não têm um orçamento para anúncio, talvez, tenham para a investigação de algum assunto”. A partir dos primeiros apoiadores, Schaffer esclarece que a logística vai ficando mais fácil e as métricas do alcance do veículo, número de acessos nas redes sociais, de clicks e compartilhamentos vão se solidificando e favorecendo a entrada de outros. Sobre a independência editorial, ela afirma. “As diretrizes editoriais devem ser claras. Nenhum patrocinador tem o direito de determinar o conteúdo.”
Outras fontes de receita
Fontes alternativas de receitas podem ser criadas para dar suporte às principais e engrossar o fluxo. Schaffer traz o exemplo do Block Club, uma startup de Chicago que vende camisetas para apoiar as suas operações. Outros bens de consumo podem ter uma boa saída, como calendários com as fotos e histórias dos assinantes ou objetos personalizados da marca. Outra opção é o financiamento colaborativo. Pequenas organizações que não disponibilizam do recurso para tirar uma ideia do papel podem se valer da proposta. A Global Investigative Journalism Network lançou um guia com ferramentas gratuitas e um tutorial para financiamentos regionais e nacionais. “Não é nada que precise de muitos recursos, basta você gravar um vídeo e elaborar uma proposta que convença às pessoas a apoiar o seu projeto”, pontua.
Ideias inovadoras podem surgir de situações inusitadas. Schaffer afirma que é importante estar atento às oportunidades. “Um dos meus exemplos preferidos é o WXXI, uma pequena rádio em Nova York, que foi muito criativa. Eles compraram dois ativos locais para monetizar; um teatro que ia fechar e um jornal semanal alternativo que cobre cultura”. A iniciativa agregou o conteúdo de arte e trouxe mais anunciantes e assinaturas interessadas nesse nicho para a rádio. No caso do teatro, além da renda gerada com a venda de ingressos para as peças, a rádio ganhou um espaço para organizar eventos jornalísticos, filantrópicos e para a comunidade, além da possibilidade de alugar o espaço para terceiros.
O patrocínio das newsletters
Atrair o patrocínio permite que a organização possa focar em conteúdos mais específicos, favorecendo a entrada de um público disposto a pagar um preço mais elevado. “Muitas newsletters têm um sistema de precificação duplo. Há uma versão gratuita, que o patrocinador paga por ela, e tem a versão premium para profissionais de uma determinada área”. É o caso das newsletters que cobrem questões políticas relacionadas à assessoria de candidatos que precisam estar atualizados sobre um assunto que não é de fácil acesso ou conteúdos destinados às empresas farmacêuticas.
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