Em maio, tive o privilégio de trabalhar com um grupo de corajosas mulheres jornalistas no Sudão do Sul, a nação mais nova do mundo. Elas estão travando uma batalha difícil pela igualdade em um país cheio de pobreza, conflitos e barreiras culturais.
Como parte de um workshop de um dia, as mulheres elaboraram uma lista de obstáculos e desafios que enfrentam em sua profissão. O assédio sexual no escritório e em campo foi parte da discussão.
Uma jovem jornalista levantou-se e com voz firme descreveu como cortava avanços sexuais de um ex-chefe, que insinuou um trabalho melhor se ela obedecesse. Quando ela recusou, seu nome foi retirado da lista de promoção e ela foi rebaixada para uma posição servil.
"Eu não sabia o que fazer. Eu me senti impotente", disse ela às mullheres na sala que concordavam com a cabeça como se tivessem passado por experiência parecida.
Várias outras contaram incidentes de insinuações sexuais e degradações por gerentes do sexo masculino, colegas de trabalho e fontes que encontraram enquanto faziam seu trabalho. Depois disso, várias das mulheres me disseram que era a primeira vez que tinham falado abertamente sobre o abuso.
Assédio sexual relacionado com o trabalho tem sido um segredo bem conhecido entre as jornalistas do sexo feminino em todo o mundo. Nós falamos baixo sobre ele com colegas de confiança e amigos, mas poucas de nós falamos publicamente sobre a experiência. Lentamente, isso mudou.
Os cenários das mulheres em Juba compartilhados naquela tarde refletem uma tendência mundial preocupante documentada em uma pesquisa de 2014, intitulada “Violence and Harassment against Women in the News Media” (Violência e Assédio contra as Mulheres na Mídia Jornalística).
Os números no estudo inovador da Fundação de Mídia da Mulher Internacional (IWMF, em inglês), em Washington, e o Instituto Internacional de Segurança da Imprensa, em Londres, são surpreendentes.
Das cerca de 1.000 entrevistadas, 64,5 por cento disseram ter sido assediadas em relação ao seu trabalho, variando em gravidade de comentários sexuais sugestivos e toques indesejados a ameaças de morte.
A pesquisa constatou que na maioria das vezes, chefes, supervisores ou colegas de trabalho são os culpados. Outros infratores são funcionários do governo, a polícia e fontes.
De acordo com o estudo, a maioria dos incidentes nunca é relatada por uma variedade de razões.
As mulheres disseram que temem retaliação, rebaixamento ou perda de emprego se falarem sobre o incidente. Muitas não tinham canais para relatar o abuso dentro de suas organizações de mídia. Em alguns casos, elas foram avisados por um supervisor ou colega para não falar sobre o problema ou "para crescer" ou "esquecê-lo."
Embora muito tenha sido escrito sobre estratégias de segurança para jornalistas em zonas de guerra e outros ambientes hostis, há pouco conselhos sobre como as mulheres podem lidar com intimidação, ameaças e abuso em suas redações e no trabalho.
Abaixo confira uma coleção de dicas recolhidas de mulheres jornalistas ao longo dos anos. A sabedoria delas pode ser aplicada em qualquer lugar do mundo:
- Vista-se profissionalmente e conduza-se com confiança e orgulho em seu papel como jornalista.
- Deixe claro que os comentários sugestivos, piadas grosseiras e toques inapropriados são ofensivos para você. Pergunte ao agressor, "Você falaria com sua mãe, irmã ou esposa desta maneira? Você gostaria que alguém as tratasse da maneira como está me tratando?"
- De uma forma calma mas resoluta lembre ao agressor que você é uma mulher profissional e que exige o mesmo respeito que os homens na redação recebem.
- Mantenha um registro escrito do que foi dito ou feito para você. Escreva a hora, data, local e sua resposta. Adicione os nomes de quaisquer testemunhas.
- Quando em missões arriscadas, use um anel que possa parecer uma aliança de casamento. Mencione um namorado ou marido, mesmo se não existe no momento. Afaste comportamento ofensivos, dizendo: "Meu marido (ou pai) não gostaria que você falasse (ou me tratasse) desta maneira."
- Se o comportamento dificulta o seu trabalho e bem-estar, converse com alguém que você confia. Busque recursos legais e redes de apoio através de ONGs ou organizações de mulheres.
- Se você está sendo perseguida ou teme por sua vida, vá para as autoridades. Anote os nomes dos oficiais com quem falou e peça uma cópia do relatório. Pergunte como eles agirão rapidamente. Leve uma testemunha para observar a atitude e comportamento deles em relação a você.
- Aqui está um conselho que eu gostaria de acrescentar: Incentive a gestão da empresa a criar um sistema de notificação de assédio sexual, incluindo penalidades para os infratores. Você pode ver um exemplo de um código de conduta para empregadores aqui.
Se você não tem certeza sobre o que constitui assédio sexual, a Comissão Australiana de Direitos Humanos enumera formas diversas aqui.
Imagem sob licença CC no Flickr via Viewminder