Mais de 300 representantes de mídia se encontraram na Cidade do Cabo, na África do Sul, no final de novembro, para a Media Indaba África 2017, uma reunião de mídia digital focada em invenções e soluções de mídia exclusivas para o continente africano, além de ideias do mundo todo. O evento de 23 a 25 de novembro incluiu sessões sobre temas como a luta contra a desinformação, o jornalismo de sensores, a tecnologia nas salas de redação e o uso de dados para melhorar a cobertura de notícias.
Com representantes da mídia, ONGs, organizações de doadores e cívicas compartilhando informações e comparando experiências, um cenário foi criado para novas conexões e colaborações.
Fabiola Torres López, bolsista Knight do ICFJ, ofereceu seus insights sobre a colaboração na redação, aproveitando sua experiência trabalhando em grandes projetos de investigação em toda a América Latina. Fabiola é cofundadora do OjoPúblico, a redação investigativa peruana atrás de reportagens colaborativas, como o Projeto Big Pharma, uma investigação multinacional sobre práticas irregulares da indústria farmacêutica na América Latina.
Fabiola compartilhou três lições críticas da experiência do OjoPúblico:
Design thinking é chave para lançar projetos colaborativos
O OjoPúblico projeta todas as investigações com uma ideia clara do que precisam encontrar, o tipo de resultados esperados, bem como o conteúdo a ser desenvolvido. Segundo Fabiola, "o novo jornalista é um arquiteto da realidade digital" e deve, portanto, estar equipado com as ferramentas necessárias. Os jornalistas agora estão trabalhando com dados ilimitados na forma como podem ser pesquisados, criando dimensões ilimitadas da matéria, que exigem o uso de ferramentas como o Neo4j. Fabiola enfatiza a necessidade de segurança digital ao trabalhar em projetos de investigação, incluindo o uso de e-mails criptografados para proteger todos os parceiros. O design do projeto garante que todos esses componentes estejam no lugar antes do início do trabalho.
Desenvolva alianças
O desenvolvimento de parcerias pode ajudar as salas de redação a cobrir histórias que, de outra forma, seriam muito caras para publicar de forma independente. O modelo de parcerias transnacionais do OjoPúblico é muito bem sucedido na criação de acesso a conhecimentos locais em novas regiões, no desenvolvimento de novas fontes, bem como na expansão do alcance do conteúdo para públicos maiores.
Ouse experimentar
A colaboração pode ajudar equipes pequenas a ampliar seu escopo e experimentar diferentes tipos de conteúdo. Apesar de ser uma organização de notícias digital, o OjoPúblico decidiu imprimir um jornal para chegar às comunidades com pouco acesso digital. "Aprendemos que nem todos recordam o que é publicado na web e que a inovação não é necessariamente uma ferramenta, mas uma maneira de pensar", diz Fabiola. Ela incentiva as salas de redação a pensar sobre o que a comunidade lembrará sobre a história e concentrar seu conteúdo em torno disso.
A sessão sobre colaboração e uso do kit de ferramentas de jornalismo de dados incluiu participantes de uma variedade de redações, incluindo o Bhekisisa, um canal de reportagens de saúde na África do Sul, bem como a equipe do Code for Nigeria. O time do Code for Nigeria está trabalhando com o Punch, o principal jornal do país, para lançar uma série de ferramentas de saúde que ajudarão os cidadãos a acessarem dados de saúde pública.
"Há muito a aprender com a abordagem do OjoPúblico que pode ser implementada na Nigéria", disse Nakechi Okwuone, líder do Code for Nigeria. "A redação digital do OjoPúblico é particularmente impressionante, pois possui muitos aplicativos de notícias que permitem que os cidadãos se envolvam com dados em diferentes problemas sociais, o que também esperamos implementar com os canais de notícias no nosso país."
A Media Indaba África foi promovida pela maior associação de jornalismo de dados e tecnologia cívica do continente, o Code for Africa, em parceria com Hacks/Hackers África. O evento é organizado sob a liderança de Chris Roper, bolsista Knight do ICFJ, Chris Roper.
Irene Wangui é consultora do programa África do Centro Internacional para Jornalistas.
Fabiola Torres López ajuda jornalistas na América Central, no México e Colômbia a adotarem as últimas habilidades de jornalismo investigativo digital para melhorar sua cobertura de corrupção, transparência e questões de governança. Saiba mais sobre seu trabalho como bolsista Knight do ICFJ aqui.
Imagens cortesia de Royden D'Souza, bolsista Knight do ICFJ