Para entender quantas vezes ao dia as pessoas na África pensam em saúde, simplesmente diga "Oi."
"Na maioria das línguas africanas, a maneira de dizer 'bom dia' é muitas vezes traduzido em alguma variação de 'como está a sua saúde?' ou 'como está o seu corpo?'", explica o consultor de mídia Joseph Warungu.
Mas enquanto a saúde encabeça a lista de questões de interesse para os africanos, o tema é muitas vezes deixado de lado na cobertura da mídia, diz Warungu, um bolsista do Knight International Journalism Fellowship e consultor da African Media Initiative (AMI). O motivo é que a política ofusca histórias de saúde e desenvolvimento.
Para ajudar a reverter esta tendência, a AMI lançou o African Story Challenge, que vai dar a repórteres subsídios de US$2.000 a US$20.000 para reportagens investigativas, digitais e baseadas em dados sobre questões fundamentais para o desenvolvimento da saúde africana. O programa também irá incluir treinamento e orientação para ajudar o participante a refinar suas ideias e criar matérias com impacto duradouro.
A AMI lançou o concurso durante as comemorações do cinquentenário da União Africana em Addis Abeba, no dia 26 de maio. Entre os apoiadores do concurso de um milhão de dólares estão a Fundação Bill e Melinda Gates, o Banco Africano de Desenvolvimento e a Alliance for a Green Revolution in Africa (AGRA).
A IJNet conversou com Warungu sobre o concurso, o qual ele está ajudando a coordenar como parte de sua bolsa Knight.
IJNet: Porque o concurso é necessário agora?
Joseph Warungu: Em todos os lugares que você olhar na mídia africana, há uma ênfase em política e cobertura política. Quando você fala com os jornalistas, especialmente editores, eles dizem que política vende. Qualquer primeira página em qualquer lugar na África terá apenas política. Mas quando você pergunta às pessoas quais as questões que mais afetam suas vidas, respondem que são saúde, agricultura, segurança alimentar, desenvolvimento rural, educação, saneamento e qualidade ambiental. Se estes são os verdadeiros problemas que importam, por que não estamos cobrindo?
Os editores dizem que as matérias de desenvolvimento são importantes, mas caras. E essas matérias também exigem um nível [maior] de conhecimento e interesse por parte dos jornalistas. Este concurso vai resolver isso direcionando recursos e esforços para publicar e transmitir histórias que podem fazer diferença na vida das pessoas e ajudar o continente a abordar a pobreza.
Nós não podemos substituir a política, mas queremos dar alguma ênfase a outras questões e usar o poder da mídia para elevar o diálogo sobre o desenvolvimento na África.
IJNet: Por que há o foco em matérias investigativas, digitais e baseadas em dados?
JW: Nós queremos aproveitar formas narrativas inovadoras para encontrar as melhores histórias e contá-las melhor. Sabemos que existe um monte de investigação fantástica feita por instituições na África. Mas muitas vezes está parado nas prateleiras porque não há know-how ou paixão ou especialização. Esperamos desbloquear isso e trazer a pesquisa para as massas para contar histórias. Nossa mensagem é que é possível fazer um jornalismo fantástico, emocionante e engajante tendo o desenvolvimento como seu foco.
Alguns governos africanos estão começando a colocar dados online e os jornalistas podem [contar algumas boas histórias usando esses dados. Os candidatos devem vir com uma ideia forte. Se eles têm uma ideia e estão investigando um pouco mas talvez seja necessário fazer um pouco mais de pesquisa ou buscar orientação, esta é a oportunidade perfeita.
IJNet: Você tem um exemplo de uma matéria de desenvolvimento africano que lhe inspirou?
JW: Em uma parte remota do Quênia, um grande número de meninas de uma certa idade estavam fora da escola e ninguém conseguia explicar o porquê. Um jornalista queniano começou a investigar e descobriu uma ligação entre meninas atingindo a puberdade, não conseguindo obter absorventes descartáveis e os altos números de meninas que faltam a escola. Era algo que as pessoas não teriam sequer pensado, sem uma boa pesquisa. E de repente a matéria foi publicada e tornou-se parte da agenda pública de educação das meninas.
IJNet: O programa também dará treinamento e orientação para ajudar o participante a refinar suas ideias. Como concurso se certificará de que grandes ideias surgirão?
O concurso terá cinco etapas ao longo dos próximos 18 meses, com cerca de 100 matérias recebendo doações no decorrer da competição. O tema para o primeiro ciclo do concurso será "Agricultura e Segurança Alimentar". Os candidatos vão participar de treinamentos, onde eles podem refinar suas ideias. Vamos trazer especialistas e realizar cursos sobre jornalismo de dados. Aqueles que passarem para a etapa final terão participado do treinamento, orientação e refinação. Para isso, estamos contando com o modelo do African News Innovation Challenge, que foi testada e funcionou.
IJNet: Quem pode se candidatar? Onde é que as matérias serão publicadas?
JW: É necessário que você tenha um veículo para a sua história. Vamos carregar versões em nosso site e fornecer o apoio logístico para ter certeza de sua história será publicada ou transmitida. Se jornalistas querem colaborar, como em reportagem transfronteiriça ou sobre uma série de questões, estamos incentivando isso também, e a AMI pode ajudar neste processo. O concurso é aberto para freelancers, contanto que tenham um veículo [interessado em usar a história].
Para saber mais ou para se candidatar, visite o site do concurso.
Jessica Weiss é uma jornalista americana com base em Buenos Aires.
Foto cortesia de Joseph Warungu do Knight International Journalism Fellowships