A jornalista Subhransu Priyadarshini estava de férias no leste da Índia, quando notou pela primeira vez as "ilhas desaparecidas". Em Sundarbans, na Baía de Bengala, as pessoas eram forçadas a sair das ilhas, que estavam ficando submersas.
Surpresa ao saber que nada tinha sido publicado sobre o fenômeno além de pesquisas acadêmicas, Priyadarshini começou a fazer perguntas. Ela descobriu que cientistas haviam previsto que uma dúzia de ilhas desapareceriam na próxima década devido ao aumento do nível do mar, ameaçando um dos principais habitats de tigres da Terra. Milhares de pessoas já saíram de suas casas.
Ela descobriu que registros do governo revelavam pouco sobre a crise em Sundarbans, considerado Patrimônio Mundial da Unesco. O governo negou que as ilhas estavam sendo submersas devido à mudança climática, sustentando que a erosão dos solos e acreção eram fenômenos naturais e que não havia nenhuma evidência de aumento do nível do mar.
Priyadarshini rapidamente percebeu que teria que investigar o assunto por conta própria e que teria que se basear na ciência para provar os fatos.
"Você tem que entender que a Bengala Ocidental é um estado governado há cerca de três décadas pelo Partido Comunista", disse Priyadarshini na Conferência Global de Jornalismo Investigativo ( GIJC ), no Rio de Janeiro. "Não havia dados científicos compilados sobre o ecossistema frágil."
Priyadarshini descreveu o processo de apuração do tema complexo, que se tornou uma matéria de primeira página no jornal The Telegraph e outra na seção "Know How" do jornal. Hoje , sete anos depois de sua reportagem original, ela revisitou o tema para uma matéria em profundidade publicada na revista Nature India, onde ela é editora.
"Através de minhas investigações, a evidência se sobressaiu de maneira forte e clara", disse Priyadarshini. "Duas ilhas de fato foram submersas --lentamente primeiro e rapidamente ao longo das últimas três décadas."
Priyadarshini consultou um especialista em oceanografia que vinha trabalhando há anos sobre esta questão, sem muita publicidade. O especialista compilou uma série de mapas e publicou um artigo em uma revista científica menos conhecida. Ela usou uma série de artigos científicos e relatórios para compilar informações e juntou esta pesquisa com viagens de campo e relatos anedóticos locais, quando ela tirou fotografias e ouviu histórias de como as populações locais foram expulsas de suas casas.
"Eu finalmente pude usar a ciência como um instrumento de investigação", Priyadarshini disse, "mas isso foi muito eficaz porque também usei histórias anedóticas que contaram o elemento humano da história."
Sua reportagem teve um impacto: o governo admitiu publicamente que a mudança climática é uma realidade em Sundarbans. As ilhas e seu habitat continuam a ser cobertos por uma variedade de mídias, incluindo The Guardian. Este ano, o governo de Bengala Ocidental publicou um relatório examinando a ameaça da mudança climática para a região do delta, juntamente com um plano de ação contra a mudança climática.
"E acho que vou revisitar a história novamente em alguns anos", disse Priyadarshini.
Priyadarshini ofereceu estes conselhos para jornalistas que conduzem investigações sobre temas científicos:
- A revisão por pares é importante, mas não é tudo. É importante obter todos os lados da história, de fontes, incluindo ONGs, políticos, empresas e pessoas afetadas.
- Fontes podem incluir: publicações acadêmicas, conferências, relatórios de laboratório, comunicações nacionais, alertas de e-mail, sindicatos ou associações de cientistas e pesquisadores, e até de descontentes dentro da comunidade científica.
- Ao lidar com estatísticas, dados e imagens: Geólogos e cientistas do clima muitas vezes falam sobre períodos de tempo muito longos, como séculos ou milênios. O jornalista tem que humanizar esses números e algarismos, usando porcentagens, médias, índices e dados expressos em termos de décadas e imagens de satélite.
- Fique longe da pseudociência. Listas de revistas que são mais ou menos confiáveis estão disponíveis aqui e aqui.
- É importante informar sobre a política da ciência, pois é a faceta da ciência que analisa a forma como a ciência afeta as pessoas envolvidas.
- Um bom recurso para usar a ciência para o jornalismo investigativo é a Federação Mundial de Jornalistas de Ciência.
Leitura relacionada: Seis dicas para quem quer cobrir ciências
Regras de blogar da Federação Mundial de Jornalistas de Ciência
Julgando a qualidade de sua fonte de reportagens científicas
Foto cortesia da Oxfam International sob licença Creative Commons
Jessica Weiss é uma jornalista freelance com base na Argentina.