Como um site da Espanha redefiniu sua estratégia e aumentou sua audiência em 40 por cento

por Maite Fernandez
Oct 30, 2018 em Jornalismo digital

Quando Virginia Alonso começou como diretora digital do Público, ela tomou uma decisão que muitos considerariam radical, talvez até mesmo suicida: acabar com a seção de esportes.

Em um país como a Espanha, onde o futebol é tão sagrado quanto ir à igreja, decidir não cobrir futebol pode ser visto como um sacrilégio.

"Nós decidimos não cobrir esportes como o resto da mídia de notícias gerais faz. (...) Nós não cobrimos futebol ou qualquer outro esporte", explicou Virginia. O Público só cobre esportes quando estão em linha com seu foco editorial ou quando ocorre um evento altamente relevante, como um atleta espanhol ganhando um torneio mundial, ela disse.

Eliminar a seção de esportes faz parte de uma estratégia de conteúdo mais ampla para se livrar da cobertura de notícias que não atraiu grandes públicos e que demorava muito para ser produzida

"Quando eu comecei [no Público], encontrei uma equipe muito pequena, na qual todos faziam de tudo um pouco", disse Virginia, que começou sua posição no Público em outubro de 2016 depois de trabalhar em organizações de notícias como 20Minutos e El Mundo. "E não havia algo específico sobre onde olhar. Quando todos olham em todos os lugares, a atenção está dispersa e a sensação é a de que o que você faz não será suficiente."

Sendo uma pequena sala de redação, sua equipe planeja como as matéria do dia serão contadas desde o início, porque apenas algumas são produzidas por dia. "É muito importante [para nós] focar nossas histórias muito, muito bem", disse ela.

Limitar seu foco foi um dos primeiros objetivos a cumprir. Para isso, Virginia e sua equipe definiram áreas de cobertura levando em consideração a linha editorial do jornal. Essas áreas receberam o nome de "as bandeiras do Público".

"E, na verdade, tornamos isso público. Publicamos um artigo no qual dissemos que estas são nossas bandeiras e que nossas informações girariam em torno desses eixos."

A redação e a estratégia editorial são organizadas em torno de novas áreas temáticas: Mulheres, Meio Ambiente, Dinheiro Público, Pessoas Vulneráveis, Direitos Individuais, Direitos Digitais, além de política e jornalismo investigativo, entre outros temas. Além disso, criaram um pequeno time responsável pelas últimas notícias e mídias sociais, que não existia até então.

"Esta pequena equipe lida com informações que vêm de agências de notícias, informações provenientes de mídias sociais, tudo o que não é nossa própria informação, mas sempre limitadas às nossas bandeiras", disse Virginia.

O foco da redação em torno dessas áreas temáticas estabeleceu funções definidas e gerou um aumento significativo no tráfego. "O resultado para nossa audiência foi excepcional. Não só por causa disso, mas porque complementamos com outras coisas."

Melhorias em SEO e mídias sociais. Outra tarefa que Virginia assumiu foi profissionalizar o uso das mídias sociais na redação. A equipe editorial começou a agendar as postagens do Facebook nos finais de semana, para medir as postagens que funcionavam melhor e fazer transmissões ao vivo do Facebook.

"Começamos a usar uma ferramenta [EzyInsights] que é muito útil para nós e nos permite ver o que está funcionando para outras organizações de notícias. Como resultado, delineamos uma estratégia para o que colocamos no Facebook", disse ela.

Além disso, ela contratou um consultor de SEO para melhorar o posicionamento das matérias do Público e reformular o site de desktop e mobile.

O plano de ação foi implementado em janeiro. Graças a todas essas mudanças, o site aumentou sua audiência em 40 por cento ano a ano quase todos os meses desde fevereiro, disse Virginia.

Mais transparência. Outro projeto que mantém Virginia ocupada é uma ferramenta para rastreabilidade da informação. Nesta era de "fake news", a Ferramenta de Reportagem Transparente (TJTool) pretende descrever o processo de notícias do Público de como a equipe editorial decidiu cobrir uma história à qual repórteres foram designados para cobri-la e por que decidiram usar certas fontes e não outras.

A ferramenta, ainda em construção, usa código aberto e pode ser usada por qualquer outra organização de notícias. A TJTool conta com o apoio do Google e foi reconhecida como uma das ferramentas mais inovadoras na Europa pela Google Digital News Initiative.

"É um excelente exercício de transparência", disse Virginia. "Nós, a mídia, pedimos transparência das autoridades públicas, mas não fazemos as coisas de forma transparente."

Imagem sob licença CC no Flickr via TEDx AlWaslWomen