Como startups digitais podem lidar melhor com a incerteza

por James Breiner
Oct 30, 2018 em Sustentabilidade da mídia

Quando você está começando um produto digital, faz sentido pedir conselhos a especialistas. Mas os especialistas não podem ajudá-lo a aprender o máximo que puder por si mesmo.

Na verdade, a maioria dos empreendedores digitais de sucesso que eu conheço dá o mesmo conselho: desenvolva um protótipo o mais rápido possível. Um plano de negócios ou um powerpoint é bom, mas você precisa colocar o seu produto real nas mãos do público e testar suas teorias. Veja se funcionam.

(Confira os comentários (em inglês) de Olga Lucia Lozano, Daniel Eilemberg, Gonzalo Costa, e, em espanhol, Leo Prieto, Gumersindo Lafuente e outros.)

O pensamento desses empresários encontrou sua expressão mais eloquente no livro de Eric Ries The Lean Startup (em tradução livre, "A Startup Enxuta"). A ideia é economizar tempo e dinheiro no desenvolvimento de produtos através da introdução de um produto viável mínimo para o cliente-alvo, medindo a resposta, fazendo ajustes e tentando novamente. (Alguns exemplos para jornalistas estão abaixo.)

Sem plano de negócios para a incerteza

Desenvolver um produto viável mínimo faz sentido para uma startup, diz Ries, em que o empresário está trabalhando num ambiente de extrema incerteza e não existe um modelo de negócio comprovado. Um plano de negócios é tão teórico que não faz sentido.

Grandes empresas de mídia não gostam de usar um processo de inicialização enxuto, porque acham que um produto pobre vai prejudicar a sua reputação entre os consumidores. Então, testam os produtos, nomes e embalagens em grupos de foco, fazem uma extensa pesquisa, gastando pesadamente para comercializar o novo produto, e, em seguida, torcem para que dê certo. Lembre-se dessas palavras: incerteza extrema. Apesar de tudo, muitos lançamentos de produtos falham.

Ries e os praticantes da estratégia "Lean Startup" fazem seus testes no próprio mercado, online, onde conseguem a pesquisa de mercado mais honesta possível: o comportamento real do cliente. Cada fracasso é uma experiência de aprendizagem, que o empresário utiliza para ajustar os preços do produto, seu posicionamento, entrega (ou seja, se devem reposicionar ), e testam a resposta de novo. Ries chama isso de aprendizagem validado.

O produto original do Google era uma simples caixa de pesquisa, e os desenvolvedores pediram desculpas por ele, Ries contou em uma apresentação em vídeo. O Google prometeu que iria desenvolver um portal inteiro depois. Mas o produto viável mínimo - incorporado em uma página simples com uma caixa de pesquisa - acabou sendo o melhor produto do Google e eles não mudaram muito.

O pior que poderia acontecer

Para os candidatos a empresários de jornalismo, a mensagem é testar o seu conceito online. Seu problema não será que qualquer falha em seu produto será ridicularizado e vai prejudicar a sua reputação. Seu problema é achar alguém para olhá-lo, em primeiro lugar.

Vamos dizer que sua teoria é que as pessoas querem mais notícias sobre a cena musical independente em sua cidade. A única maneira de descobrir é começar a publicar sobre o tema em um blog ou site (um produto viável mínimo), dizer aos seus amigos, conhecidos e a comunidade em geral sobre o produto (nas redes sociais), e garantir que as pessoas possam encontrá-lo (através de otimização de mecanismo de busca ou SEO, em inglês).

O pior que pode acontecer? Ninguém se importar. Daí, você pode modificar o produto e continuar tentando até provar que há (ou não) um mercado suficiente para fazer o seu trabalho valer a pena.

Por outro lado, você pode ter um post viral que trava o servidor porque não estava preparado. Em ambos os casos, você ganhou algum aprendizado validado que pode usar para fazer ajustes em seu produto ou serviço.

Para jornalistas, um produto viável mínimo pode ser tão simples como o título em uma matéria. Se a melhor matéria investigativa sobre o seu site não está recebendo qualquer tipo de tráfego, tente outra manchete, tente adicionar um gráfico, tente adicionar fotos, alterar a exibição, alterar a posição na página. Tente algo e meça o que acontece.

Métricas não são ferramenta burras

Muitos jornalistas rejeitam o valor das métricas. Eles odeiam ver editores julgar o seu trabalho apenas por page views. Veem métricas como o veículo de emburrecimento do produto ou de se curvar para o público. Mas olhe para as métricas de outra maneira. Olhe para como uma forma de descobrir o que está captando a atenção do seu mercado-alvo. Use métricas para certificar-se de que seu melhor trabalho está encontrando uma audiência.

Ries contou em seu vídeo como ele não conseguiu usar uma métrica simples em sua startup e aprendeu uma dura lição (obrigado a Miranda Mulligan do Knight Lab da Universidade Northwestern por me mostrar isso).

Ele e sua equipe de programadores tinham jogado toda a sua energia no desenvolvimento de um produto que iria integrar todos os serviços de mensagens instantâneas de uma pessoa em um só lugar. E depois de seis meses de desenvolvimento intensivo, discutingo a estratégia baseada nas melhores práticas de desenvolvimento ágil, eles lançararm o produto. Só que ninguém quis baixá-lo, mesmo de graça. Eles tiveram que jogar fora todos os seis meses de trabalho e começar de novo.

O que poderíamos ter feito, Ries disse, é simplesmente ter criado uma página com um botão convidando as pessoas para fazer o download do produto descrito e avaliar a resposta. Eles não tinham que ter desenvolvido um produto. A segunda página poderia ter sido um agradecimento simples por responder e uma promessa de entregar o produto assim que estivesse pronto.

Recentemente, vi um bom exemplo dessa forma de teste de resposta num aplicativo que eu uso. Foi anunciado um novo formato de relatório de despesas e novos preços, e eu me inscrevi. Aqui estava a resposta:

"De: David Barrett dbarrett@expensify.com Para: jgerardbreiner@yahoo.comSent: quarta-feira 4 de junho, 2014 08:58 PMSubject: [Expensify] relatórios de despesas em tempo real, primeira fase: Grande simplificação e redução de preço

Uau, tivemos uma resposta incrível ao meu último boletim anunciando a fase beta do relatório de despesas em tempo real. Tantas milhares de respostas que eu não pude responder a todas elas. Eu realmente aprecio a sua paciência enquanto trabalho gradualmente em cada resposta e lançamos os relatórios de despesas em tempo real em partes. Acho que você vai ver que valerá a pena esperar."

Ele dá uma conotação positiva - que é a resposta esmagadora! - sobre o fato de que não pode fornecer [o produto] porque se sobrecarregou. Ele testou uma teoria. Tem um banco de dados de pessoas que dizem que querem o produto. Agora ele sabe que deve investir um bom tempo no seu desenvolvimento.

Muitos aspirantes a empreendedores digitais me pedem conselhos sobre uma variedade de questões, por exemplo, qual sistema de gerenciamento de conteúdo é melhor a redes sociais deveriam estar usando. Se eu sei o que os especialistas estão dizendo, eu compartilho.

Mas, afinal, digo às pessoas, cada um de vocês precisa descobrir por si mesmo. O caminho pela frente não está claramente marcado. Lembre-se, criar uma startup significa lidar com a extrema incerteza sobre qual direção tomar. Você vai precisar plantar suas próprias metas. Você terá que encontrar o seu próprio caminho. É aí que reside o prazer e a dor.

Este artigo foi escrito originalmente para o blog News Entrepreneurs e é resumido e traduzido pela IJNet com permissão do autor.

James Breiner é consultor em jornalismo online e liderança. Foi co-diretor do Global Business Journalism Program na Universidade Tsinghua e bolsista do programa Knight International Journalism Fellow, tendo lançado e dirigido o Centro de Periodismo Digital na Universidade de Guadalajara. Ele fala espanhol e inglês. Siga-o no Twitter.

Imagem sob licença CC no Flickr via Heisenberg Media