Koami M Elom Domegni do L'Alternative em Togo, Miranda Patrucic, editora e repórter investigativa do Projeto de Reportagem de Crime Organizado e Corrupção (OCCRP, em inglês), Tom Burgis, correspondente investigativo do Financial Times e James Mintz, fundador e CEO do Mintz Group, compartilharam dicas sobre como rastrear riqueza saqueada na Conferência Global de Jornalismo Investigativo 2017.
"Nosso país é pequeno, mas enfrentou uma fuga ilícita de capitais", disse Domegni, do L'Alternative, de Togo. "Somos ricos em riqueza mineral enquanto sofremos a maldição do recurso. Vá para uma área de mineração e você encontra comunidades muito pobres. A questão mais importante para nós é: para onde foi o dinheiro?"
"Encontramos alguns padrões reais que são verdadeiros em todo o mundo sobre como funcionários corruptos escondem dinheiro sujo", disse Mintz, cuja empresa criou o jogo Kleptocrats, em que o jogador é um político corrupto fazendo dinheiro sujo por debaixo da mesa e tentando desfrutar de uma vida de luxo. "E como os pesquisadores --sejam repórteres investigativos, procuradores e policiais-- conseguem rastrear esse dinheiro."
Aqui estão as melhores dicas para repórteres descobrirem onde cleptocratas, criminosos e outros escondem o dinheiro.
Use fontes de registro público fora do seu país, mas não subestime as fontes locais
"Em alguns países, especialmente em lugares como a Ásia Central, onde eu fiz matérias, não há registros públicos disponíveis", disse Patrucic do OCCRP a repórteres. "Quer que funcionários [públicos] respondam a uma pergunta? Esqueça."
"Se é difícil encontrar fontes dentro do país, podemos sempre verificá-las em outro país", acrescentou Domegni. No entanto, ele ressaltou a importância de usar quaisquer fontes locais e nacionais disponíveis e cruzar informações de referência.
"O dinheiro quase sempre é gasto fora do país", acrescentou Patrucic. "Em mansões na Espanha, França, Miami. Viagens de compras caras. Quando começam a gastar dinheiro no exterior, há toneladas de registros que você pode obter em relação a eles: processos, registros judiciais, registros de propriedade, registros de casamento e divórcio."
Patrucic disse que bens como iates e jatos particulares são facilmente rastreados online com ferramentas como o Marine Traffic e verificação de blogs especializados de observadores de aviões.
Ela também recomendou pesquisar bancos de dados gerais online, registros de empresas, boletins oficiais, bancos de dados raspados, como Investigative Dashboard Search, e registros judiciais.
Os registros judiciais, em particular, são fontes ricas de informações. Pesquisando os bens e ativos dos negócios imobiliários do presidente dos EUA, Donald Trump, na Ásia Central, Burgis do FT destacou a importância de registros judiciais para os repórteres.
"Nós criamos um enorme recurso subutilizado: PACER, os arquivos eletrônicos do sistema jurídico dos EUA", disse Burgis. "Custa valores insignificantes. Não tem todos os casos, mas em comparação com o Reino Unido, é como um grande vazamento de dados escondido à céu aberto."
Mintz também destacou outra fonte útil para o rastreamento de dinheiro: "Obtenha a trilha de papel do devedor. A coisa mais fácil de investigar é muitas vezes hipotecas que revelam relações bancárias."
Use bancos de dados e vazamentos, mas sempre tente obter os documentos originais
Todos os repórteres no painel falaram sobre a importância de utilizar bancos de dados e vazamentos e, o mais importante, voltar a vazamentos mais antigos para referenciar suas pesquisas e encontrar novas pistas para rastrear dinheiro e bens.
"Nossos repórteres usam todos os bancos de dados e vazamentos disponíveis", disse Domegni. "Panama Papers, Swissleaks, Paradise Papers, Bahamas Papers.”
"Nós usamos o Investigative Dashboard Search e outros bancos de dados", acrescentou Mintz. "Mas insistimos em obter a cópia impressa da jurisdição, que por vezes contém informações adicionais não encontradas na versão do banco de dados que pode ser muito útil."
Use as redes sociais e fontes humanas para rastrear o estilo de vida do seu sujeito
Patrucic e Mintz disseram que algumas de suas fontes mais úteis incluem arquitetos, designers de interiores e outras emprenteiras.
"Conversamos com arquitetos", confirmou Patrucic. "As empresas publicam todas as fotos, custos e tudo o que fizeram (na casa)". Patrucic acrescentou que é muito importante para o repórter rastrear o estilo de vida de seu sujeito e usar sites de redes sociais como o Facebook e Instagram para identificar os produtos e roupas que compram, ver as casas onde moram e os iates que usam para viajar.
"Baixamos as fotos das mídias sociais, cortamos os itens das fotos: sapatos, bolsas, jóias. Então, invertemos a busca da imagem no Google para identificar o produto e descobrir quanto custa", ele explicou. "Sabíamos que o salário oficial do ex-presidente de Montenegro não podia pagar pelo relógio que ele estava usando."
Mintz também acrescentou que foi importante identificar fontes humanas que tinham algo contra o sujeito da investigação ou olhar para pessoas que provavelmente compartilhariam informações com repórteres. Funcionários despedidos, secretários, executores de testamentos e indivíduos além do círculo do sujeito, que podem não gostar da corrupção que veem, são todas fontes potenciais úteis.
Colabore com repórteres fora de seu país para rastrear bens
Ambos Domegni e Patrucic destacaram a importância de aproveitar o conhecimento e as especializações de outros repórteres investigativos em outros países ao monitorar bens.
"A colaboração transfronteiriça ajudou muito nosso trabalho", disse Domegni. "Trabalhamos com ANCIR, CENOZO, ICIJ e Africa Uncensored. Se estamos olhando para documentos que podem ter um elemento internacional que não entendemos ou que precisaria de informações adicionais, recorremos aos nossos parceiros. Eles sempre nos apoiam."
Este artigo foi publicado originalmente na Global Investigative Journalism Network e é reproduzido na IJNet com permissão.
Imagem sob licença CC no Flickr via Images Money