Como jornalistas estão usando Google Glass

por Sarah Hill
Oct 30, 2018 em Jornalismo multimídia

A apuração de notícias é um trabalho difícil e se você é repórter sabe as dificuldades de obter um furo, especialmente se é controverso, classificado, perigoso ou no meio de um deserto.

Com esses tipos de histórias, é fundamental ficar imerso no ambiente. Mas, se você é um jornalista de TV, muitas vezes tem que arrastar equipamento pesado ou uma equipe de produção completa. Não dá para ser discreto.

É por isso que pessoas como eu estão começando a usar os óculos Google Glass --a primeira tecnologia usável de mãos-livres, baseada em tecnologia de Cloud-- para trabalhar em reportagem de rádio e TV.

A vantagem do Glass

Tomemos o exemplo do diretor de TV Jean-François Desmarais em Montreal, que capturou os protestos estudantes de lá, correndo ao redor dos protestos com seu laptop equipado com um dispositivo Wi-Fi móvel para que ele pudesse transmitir ao vivo no Google+ Hangouts. Parabéns a ele por seu trabalho incrível e inovador, mas o Glass teria feito o esforço de Desmarais muito mais eficiente, pois ele teria as mãos livres, permitindo-o correr atrás dos manifestantes sem levar equipamento volumoso.

Com a qualidade de vídeo e streaming ao vivo aumentando praticamente a cada dia, o Glass --e outros dispositivos-- vai transformar carros instalados para transmissão de satélite e outros equipamentos pesados em peças de museu.

Em notícias urgentes, um jornalista ou cidadão jornalista profissional pode simplesmente abrir um Hangout, sem ao mesmo precisar das mãos, e mostrar aos outros o que estão vendo em tempo real. Durante a transmissão, o usuário também pode ter uma conversa simultânea em grupo face-a-face com outros interessados no evento ao vivo. Pense em filmagens de grupo ao vivo.

Evolução da etiqueta jornalística

A nova tecnologia, no entanto, significa também novas regras de etiqueta e privacidade para os jornalistas usando Glass. Recentemente, eu vi Robert Scoble do RackSpace fazer uma entrevista com o fotógrafo Trey Ratcliff em uma multidão de pessoas em San Francisco. Porque não havia um flag de microfone, tripé ou outro equipamento, Scoble teve que mudar sua postura e táticas durante a gravação com Glass para que as pessoas ao seu redor não interrompessem a entrevista.

Scoble abriu os braços bem, na tentativa de indicar aos outros para não se aproximarem de seu entrevistado durante a gravação. Para um observador externo, se não fosse pelos braços estendidos de Scoble, poderia parecer que os dois estavam simplesmente tendo uma conversa.

A comunicação mãos-livres e coleta de notícias exigirão uma cartilha inteiramente nova; os braços estendidos de Scoble são apenas um exemplo. Assim como os jornalistas tiveram de reescrever as regras para a gravação quando começaram a usar câmeras de telefones celulares, com Glass não será diferente.

Misturando a paisagem digital com o mundo real

Glass é um nexo de experiências reais e digitais. Os jornalistas têm a oportunidade de serem pioneiros neste espaço, para descobrir como esses dois mundos podem se cruzar de forma coesa e respeitosa, para trazer aos consumidores de notícias uma perspectiva única em primeira pessoa de seu mundo.

Para tornar mais fácil para os jornalistas e repórteres cidadãos, Glass também permite ao usuário capturar vídeo e fotos e compartilhar instantaneamente em suas redes sociais --combinando ainda mais o mundo físico e digital, além da velocidade com que as notícias chegam ao público.

Glass também tem um aplicativo chamado “Full Screen Beam” que permite ao usuário fazer upload de vídeos manualmente de Glass para o YouTube. No entanto, se você não quer carregar manualmente seus vídeos no YouTube, ative o recurso "Instant Upload" no Google+ e filme um vídeo ou foto com Glass que vai aparecer automaticamente em sua galeria privada no Google+ para compartilhamento sempre que for conveniente para você.

O que está desmotivando os jornalistas é o microfone. Atualmente, o microfone em Glass funciona muito bem para som ambiente. Porém, o áudio de entrevistas ainda não tem qualidade de transmissão. Enquanto a pessoa usando os óculos é capaz de ser ouvida, a pessoa entrevistada ainda precisa de um microfone externo. Em outras palavras, parece que o microfone de Glass não é um microfone omnidirecional.

Enquanto eu normalmente uso o meu Google Glass durante nossas transmissões ao vivo para organizar comentários sem ter que ter enfiar a cabeça em um laptop, o tempo dirá se o público vai aceitar um âncora de notícias tradicional usando um destes dispositivos em seu rosto. Testers descobriram que os óculos são bastante confortáveis mas isso nem sempre significa que sejam agradáveis ao público.

Então, o Google Glass pode realmente transformar a reportagem de notícias? Sim. Isso já acontece na Veterans United Network. Basta verificar o Veterans United Hangouts Hub por um exemplo. Quando o Hangouts on Air for equipado com Glass, isso vai criar uma torre de transmissão de mãos livres. Não teremos mais torres de metal ou códigos de transmissão. Emissoras de TV podem estar chegando a um rosto perto de você.

Sarah Hill é uma repórter premiada, pioneira na mídia social e ex-âncora do canal KOMU-TV 8, laboratório de TV da Escola de Jornalismo da Universidade do Missouri --a mais antiga escola formal de jornalismo no mundo. Atualmente, Sarah apresenta o Hangout para a Veterans United Network. Conecte-se com Sarah pelo Google ou Twitter.

Este artigo apareceu primeiro (em inglês) no PBS MediaShift e é publicado na IJNet com permissão.

Imagem sob licença CC no Flickr via tedeytan