Com uma foto por dia, projeto de jornalismo cidadão engaja comunidade

por Lindsay Kalter
Oct 30, 2018 em Diversos

Armados com telefones celulares, moradores de Nova York estão documentando as mudanças na cidade enquanto vão ao trabalho, conversam com seus vizinhos e brincam com os filhos.

O projeto de uma foto por dia começou com o Movimento Brooklyn Center, um grupo comunitário de Nova York. Seu objetivo é capturar mudanças cotidianas e iniciar conversas sobre a vida da cidade com as fotos nas mídias sociais.

A organização, que foi inaugurada em março, pede aos participantes que apresentem fotografias que contam uma história sobre seus bairros em Brooklyn. Os voluntários também fazem entrevistas em vídeo com os residentes. O projeto começou no bairro de Bedford-Stuyvesant em junho e chegou em Crown Heights em julho. Marly Pierre-Louis, coordenadora de comunicações para a organização e aluna de pós-graduação em planejamento urbano no Hunter College, falou com a IJNet sobre o uso de jornalistas cidadãos para entender melhor as comunidades locais:

IJNet: O que inspirou esse projeto de jornalismo cidadão?

MPL: A ideia por trás do projeto de uma foto por dia era desenvolver uma plataforma onde pessoas tiram fotos de seus bairros. Queríamos reconhecer que, embora o jornalismo seja uma profissão que pode se beneficiar de formação e educação, pessoas comuns podem ser jornalistas de suas próprias comunidades. Uma coisa tão pequena como tirar uma foto pode ser importante para o que está acontecendo na região. Temos temas diferentes para as fotos para obter diferentes aspectos da comunidade -- gentrificação, orgulho, ritmo, linguagem, ruas, paz, tensão, veteranos, política e o Caribe, pois Bed-Stuy tem como uma grande população caribenha.

Para Bed-Stuy, tivemos quase 100 fotos inscritas, e para Crown Heights, temos duas fotos por dia em média. E as entrevistas nos dão a oportunidade de apresentar o perfil de pessoas do bairro que não seria veiculado na grande mídia, como as pessoas em associações de blocos, ou residentes que cuidam de hortas comunitárias. Você não tem que ser uma pessoa treinada para ter uma voz que importa no bairro.

IJNet: Além de posts no Facebook e Twitter, como você está incentivando a participação e atenção pública?

MPL: Nós publicamos as fotos que estamos coletando em uma conta no Tumblr e postamos nossas entrevistas de vídeo no nosso site. Estamos usando a mídia social para enviar informações, mas também para manter discussões e envolver as pessoas. Fazemos algo no Facebook que chamamos de "O Instigator": perguntamos às pessoas o que pensam sobre questões controversas e postamos vídeos diferentes e artigos para gerar discussão. Também estamos fazendo chats no Twitter. Nós usamos as mídias sociais para fazer com que as pessoas falem.

IJNet: O que você acha que este projeto consegue fazer que o jornalismo tradicional não consegue?

MPL: O jornalismo tradicional é um meio passivo. As pessoas recebem a informação e fazem com ela o que quiserem. Este tipo de jornalismo permite envolver as pessoas e é uma forma mais proativa de se envolver com o que está acontecendo. As coisas já estão tão digeridas e analisadas. E [o projeto] dá às pessoas uma oportunidade de ter sua própria perspectiva antes de chegar a versões analisadas de outros veículos. Seria legal pensar que a notícia é sempre justa, mas a verdade é que a mídia tende a ser parcial, então as pessoas não estão sempre recebendo os fatos [como um todo] e uma ideia sobre como se relacionar com eles.