A startup Galápagos Newsmaking ofereceu seu primeiro curso de jornalismo com o objetivo de treinar jornalistas de centros além do eixo-sudeste e criar uma rede de colaboradores.
A Jornada Galápagos de Jornalismo 2019 selecionou 30 participantes entre 3.686 inscrições de todo o Brasil. Não éramos apenas jornalistas, mas estudantes, professores e comunicadores ávidos para causar impacto positivo. Fui um dos selecionados e vou contar como foi essa experiência para mim.
O curso se baseou em cinco pilares fundamentais: gente, diversidade, regionalismo, tecnologia e transparência.
Foco em gente
O principal pilar da Galápagos foi gente. Foram 12 dias com 57 palestrantes e 43 painéis para discutir os rumos do jornalismo. Fomos selecionados não por cota ou pela universidade que cursamos, mas pelo impacto que estávamos causando e o potencial que tínhamos para causar.
No nosso primeiro encontro, num domingo à tarde, Alecsandra Zapparoli CEO da Galápagos afirmou: “Vocês foram escolhidos porque vocês saíram da zona de conforto, foram atrás. Serão nossos embaixadores, nossa rede.”
Valorizando a diversidade e o regionalismo brasileiro
Acostumado com a maioria dos grandes eventos na cidade de São Paulo e com a própria comunidade paulistana de jornalismo, convivi nos 12 dias da Jornada com diferentes raças, pensamentos e vivências de Manaus a Passo Fundo, juntos do café ao jantar. Essa diversidade como premissa na Jornada trouxe mais pluralidade a cada debate e nós ajudou a entender as realidades diferentes que vivemos no Brasil e buscar juntos soluções alternativas ao jornalismo.
O questionamento daqueles de fora do eixo-sul do Brasil é de que suas regiões são pouco cobertas e com conotações na maioria das vezes negativa. Kátia Brasil, cofundadora do site Amazônia Real — e uma das palestrantes da Jornada — falou sobre as dificuldades encontradas na cobertura para entender as peculiaridades de cada lugar.
“Cobri por anos a região amazônica por grandes veículos e confesso que traduzir realidades muitas vezes distantes de quem vive na região sul/sudeste do país é uma tarefa difícil”, ela disse.
Kátia, que foi ganhadora de um prêmio Esso, resolveu empreender para ocupar uma lacuna sobre questões do norte do país, mostrando alternativas para nossas regiões. “Empreendi, porque vi uma oportunidade. É difícil, mas lutamos e com qualidade mostramos nossa região com outro olhar”, explicou.
Tirando proveito da tecnologia
A tecnologia como ferramenta de jornalismo foi um tema discutido diariamente durante a Jornada. Rafael Sbarai, gerente da Digital Sports Lab da Globo, enfatizou: “Temos que usar a tecnologia como ferramenta para criar conteúdos com mais propósitos e criativos.”
Segundo Rafael, nós nativos digitais, devemos criar cada vez mais conteúdos buscando e entendendo o mercado tecnológico e entender nossas audiência: saber seus hábitos, suas preferências e criar conteúdo para eles, usando técnicas de Experiência do Usuário (UX), dados e negócios como estratégia para nossa produção.
Uma parcela dos 30 participantes já tinha experiência em programação, ciência de dados e empreendedorismo de mídia. Enquanto uns falharam, outros pavimentavam ideias para novos caminhos.
Como usar a tecnologia a nosso favor? Como obter sucesso? Thomaz Souto Corrêa, conselheiro da Editora Abril, recomendou embarcar na onda: “Os jornalistas têm que parar de ficar com medo de perder emprego por conta da tecnologia. Faça com que ela trabalhe por você na busca de dados, te auxilie na produção da reportagem com ferramentas antes caríssimas, mas hoje muito acessíveis”. E nos alertou: “Se não estudar e aprender novas técnicas, sinto muito, está fora do mercado.”
A transparência como recurso jornalístico
Em sua aula sobre transparência, Pedro Burgos, coordenador da pós-graduação em jornalismo no Insper e bolsista Knight do ICFJ, explicou como a transparência com a audiência valoriza o jornalismo.
Burgos utilizou o modelo do jornal inglês The Guardian, que destaca a importância do colaborador/assinante para que o jornalismo continue fazendo seu trabalho de investigação, considerando o leitor como peça fundamental para sustentar o jornalismo de qualidade.
“Evidenciar como se faz jornalismo ao leitor e o impacto que a contribuição dele causa no país é criar fidelidade e mostrar onde está indo o dinheiro que ele te dá”, explica ele, enfatizando que o jornalista deve deixar claro a importância do apoio do leitor para fazer um jornalismo de alta qualidade.
Formando uma rede de colaboradores
A Galápagos começou investindo em diversidade, pluralidade e profissionais competentes para criar uma rede de colaboradores em todo o Brasil.
Na próxima fase, os 200 escolhidos na primeira triagem do curso serão colaboradores e receberão as demandas dos editores para sugestões de pautas ou até mesmo produzir conteúdo já pautado.
A rede espera criar produtos segmentados, começando por newsletters de temas como primeira infância, saúde, empreendedorismo e tecnologia. Os 30 selecionados do curso recebem prioridade nas sugestões de pauta.
Já estamos trabalhando em um produto novo para o próximo mês. Aguarde!
Evandro Almeida Jr participou da Jornada Galápagos de Jornalismo 2019. Ele é graduado pela FIAM FAAM e pós-graduando no Insper. Criou o site multimídia Humanitária.
Foto da primeira turma da Jornada Galápagos de Jornalismo. Crédito da imagem: Danilo Braga.