Amazônia Vox: jornalismo de soluções com banco de fontes e freelancers

Nov 23, 2023 em Inovação da mídia
Projeto

O Amazônia Vox é um banco de fontes e freelancers com conhecimento da região que conecta especialistas de diversas áreas à jornalistas e veículos de outros estados, além de produzir jornalismo de soluções com as iniciativas locais. A intenção é combater à desinformação no âmbito das fake news e o desconhecimento sobre a Amazônia Legal. A plataforma é uma das iniciativas do Instituto Bem da Amazônia, entidade sem fins lucrativos, presidida pelo jornalista Daniel Nardin. Ela foi destaque da segunda edição do Jogo Limpo, programa do ICFJ e financiado pelo YouTube Brasil. Durante cinco meses, a plataforma recebeu financiamento e mentoria de especialistas.

“O Amazônia Vox defende o protagonismo das narrativas produzidas por aqueles que pensam e vivem no território”, afirma Nardin. Líderes comunitários, pesquisadores, povos tradicionais e setores da cultura podem ser encontrados na página. A busca alcança, ainda, uma rede de freelancers jornalistas, fotógrafos e filmmakers da Amazônia brasileira. 

Colocando o projeto no ar

Nardin explica que os 13.750 dólares recebidos do programa ajudaram a colocar a plataforma no ar, em julho de 2023. Parte do recurso custeou bolsas para cada jornalista representante dos nove estados da Amazônia Legal. “A tarefa deles era divulgar o projeto para que tivesse um volume de freelancers e inserir fontes no sistema. Hoje, são 461 freelancers cadastrados e 630 fontes entre conhecimento tradicional, científico, setor produtivo e sociedade civil dos nove estados”, destaca Nardin.

Além disso, com o financiamento foi produzida uma série de três reportagens focadas em Amazônia, desinformação e mudanças climáticas com 100% da equipe da região. E ainda houve a produção de três vídeos com roteiro e apresentação de José Kaeté, comunicador e indígena Tupinambá do Pará. A revisão dos textos foi dos alunos da Escola Estadual Antônio Lemos, de Santa Izabel do Pará, sob a supervisão de Marcela Castro, professora de língua portuguesa.

Combate aos preconceitos

Kaeté afirma que os assuntos da Amazônia, com frequência, são abordados de forma rasa por profissionais que não são da região e que ainda existem muita confusão e estereótipos a serem vencidos. Os vídeos têm menos de 5 minutos cada e o alcance deles foram uma preocupação da equipe. “Um vídeo extenso alcança um público específico e um vídeo curto não permite entrevistas. Nós pensamos em dar vazão tanto no Youtube quanto no Instagram, sempre pensando em simplificar a linguagem para aproximar os públicos e tornar esse assunto de fácil entendimento”, explica.  A ideia é levar a websérie para escolas e espaços de discussão.

Combater preconceitos também é um objetivo do Amazônia Vox. “Tem uma visão do sudeste do Brasil - e falo isso pelas experiências de trabalhos que tive- que não existem bons profissionais na Amazônia. Mesmo que eles contratem pessoas daqui, nós precisamos ser supervisionados por alguém de lá. Queremos quebrar esse estereótipo que, também, tem a ver com desinformação”, afirma Kaeté.

Notícia acessível aos jovens

A ideia de trazer os alunos do ensino médio para o projeto veio de uma matéria que Nardin leu sobre duas pesquisadoras da USP que convidaram crianças e adolescentes para revisarem um artigo científico. “Elas falavam que a ciência tem que ser acessível. O jornalismo também. Às vezes nós seguimos uma rotina que usa expressões que não são familiares para quem não está acostumado com o assunto”, afirma. Nardin ressalta o engajamento da professora Marcela Castro e o entusiasmo dos alunos que ajustaram vários pontos do texto, como a retirada de termos em inglês e a inclusão de um box de informação para explicar siglas.

Castro afirma que foi gratificante ter seus alunos como revisores. “Depois que o Daniel me deu o retorno, os meninos não acreditaram que as mudanças ocorreriam de fato. Eu precisei abrir a minha conversa no WhatsApp e mostrar para eles. Foi bem divertido”. Ela destaca o protagonismo dos alunos e a importância de projetos como esse para dar voz a essa geração.

“É recorrente que haja uma compreensão do etarismo somente voltado para as pessoas com mais idade, mas existe também o etarismo em relação aos adolescentes", alerta Castro. "Frequentemente, nós negligenciamos seus discursos, ideias e vontades. Pensamos que são sonhos vãos da idade. Mas grande parte da clareza de quem nós somos, hoje, com 30/40/50 anos, advém da adolescência.”

A mentoria

Para Nardin, a mentoria de Adriana Vale, executiva de estratégia de marketing, trouxe muito apoio ao projeto, ajudou na parte operacional e deixou o conteúdo mais coeso. “Ajudei a pensar no segmento, na ordem dos conteúdos e em qual público que o Daniel queria atingir e nas parcerias estratégicas, que são mérito dele, mas que sempre trocávamos quais eram mais relevantes”, afirma Vale. A mentora contribuiu, ainda, para o fortalecimento do modelo de negócio e construção do cronograma e formato do lançamento, além de participar das filmagens das reportagens, ajudando no briefing. 

A sustentabilidade do negócio

Nardin sente-se orgulhoso com o retorno que tem recebido dos colegas e as indicações da plataforma nos grupos de WhatsApp ou em posts, como o da Bárbara Falcão, jornalista da rádio CBN. Ele destaca que pretende lançar uma série de reportagens por mês. A segunda já está no ar e trata da cobertura pré-natal em comunidades ribeirinhas.

O jornalista estuda formas de garantir a sustentabilidade financeira e manter os representantes nos estados. Chamadas por editais, a criação de produtos como newsletters e podcasts e parcerias com instituições e grandes veículos de comunicação na produção do conteúdo estão nos planos. “2023 foi o ano de implementar e já vieram alguns apoios por chamadas. 2024 é o ano de expandir e consolidar nossa proposta”, afirma Nardin.


Foto: do website Amazonia Vox