10 maneiras de incorporar temas do cotidiano em suas reportagens

Jul 19, 2019 em Jornalismo multimídia
Instagram Everyday Africa

Em março de 2012, os jornalistas Austin Merrill e Peter DiCampo viajaram para a Costa do Marfim com uma bolsa do Pulitzer Center on Crisis Reporting. Eles perceberam que, ao reportar apenas notícias de última hora sensacionalistas, não apresentavam uma imagem completa do que estavam vendo. Estavam simplesmente perpetuando estereótipos.

O desejo de Merrill e DiCampo de compartilhar como era a vida cotidiana na Costa do Marfim inspirou-os a criar o Everyday Africa, um projeto de fotojornalismo no Instagram que começou com fotos que os dois enviaram de suas câmeras de celular. Desde então, o projeto foi expandido para vários feeds apresentando trabalhos de fotógrafos locais em todo o mundo, como Afeganistão, Austrália, Chile, Mumbai e os Estados Unidos rural.

Coletivamente, eles são conhecidos como The Everyday Projects.

Merrill, um escritor e editor baseado em Nova York, trabalhou como editor na revista Vanity Fair e como correspondente da Associated Press. Ele conversou com a IJNet para compartilhar o efeito que esse projeto teve em seu trabalho, bem como lições do Everyday Projects que jornalistas podem aproveitar em suas reportagens.

A indústria do jornalismo está voltada para a crise mais do que o cotidiano, observou Merrill, mas “a vida não está em crise o tempo todo”. Merrill sugere que podemos exigir uma perspectiva mais completa dos meios de notícias.

Como jornalista, Merrill sabe que isso não é fácil. Estas dicas, no entanto, são um começo.

1. Vá além do óbvio

Em um campo de refugiados, há muitas coisas acontecendo o tempo todo, assinalou Merrill. Ele propôs que os repórteres aprofundassem a reportagem e ofereceu uma lista de perguntas para ajudar:

  • "O que posso fazer para tentar chegar a isso de um ângulo diferente e encontrar coisas que não são tão óbvias, mas são tão importantes para a história?"
  • “Eu ouvi tudo o que eles disseram?”
  • "Eu fui fiel à ideia de olhar além do que eu esperava?"
  • “Existem outras maneiras de contar a história?”

2. Amplie sua lente da câmera

Merrill sugere que os jornalistas apliquem esse conceito, para ir além do óbvio, para a fotografia. Tire fotos de elementos menos óbvios de uma cena que capturam como era um lugar ou evento.

"Isso pode significar [...] virar numa direção diferente para fazer uma fotografia", disse Merril. "Em uma direção que talvez esteja longe do assunto que você normalmente estaria procurando."

3. Aprenda realmente a ouvir

Para Merrill, o Everyday Projects o inspirou a ouvir mais.

“Ouvir não significa apenas ouvir em uma entrevista com uma pessoa, mas também ouvir a paisagem. Olhe em volta e observe o que você está vendo”. Ele sugere que os jornalistas “encontrem o espaço para realmente ouvir o que estão ouvindo.”

Os jornalistas devem fazer isso ao longo de todo o processo de elaboração da reportagem: enquanto preparam e pesquisam o tópico, enquanto estão em campo, depois, durante a reflexão, redação e edição.

4.  Aproveite as redes sociais 

Merrill vê a mídia social como "uma parte vital do ecossistema da mídia e um benefício evidente, apesar de algumas das repercussões".

"Em geral, é uma ferramenta fenomenal para aprender e experimentar coisas em partes do mundo que talvez não pudéssemos experimentar tão prontamente antes", acrescentou.

Com o espírito de compartilhar pequenos detalhes do dia a dia para fornecer uma imagem autêntica, Merrill sugere que o material que não se encaixa em uma notícia pode ser postado no Instagram e em outras plataformas de mídia social.

5. Atualize sua perspectiva

O conselho de Merrill aos repórteres locais ou aqueles que chegam a uma comunidade é considerar a visão de uma perspectiva de fora.

Merrill sugere que os jornalistas façam a si mesmos essas perguntas com a visão externa em mente:

  • “Quais são as publicações internacionais, jornalistas, fotógrafos, televisão, jornais falando sobre este lugar de onde você é?”
  • "Isso soa verdadeiro?"
  • "O que essas narrativas estão deixando de fora?"
  • "O que você pode dizer para preencher algumas lacunas ou combater alguns estereótipos que podem surgir desses tipos de narrativas?"

Estas são as perguntas que fizeram Merrill e DiCampo iniciar a Everyday Africa. Eles consideraram como o mundo percebia a África, viram que não era toda a verdade, destacaram os elementos que as narrativas deixaram de fora e criaram uma plataforma para preencher as lacunas e combater os estereótipos.

6. Interrompa sua tarefa

Permita que tudo que você percebe sobre as experiências cotidianas de pessoas no país reformule seus planos. "Ignoramos as coisas que não se encaixam na narrativa preconcebida", afirmou Merrill. Ao permanecerem abertos à mudança, os jornalistas abrem espaço para incorporar o inesperado em sua narrativa.

Merrill contou uma vez que conversou com um pastor de lhamas enquanto fazia reportagens sobre a mudança climática no Peru e realmente ouviu o que o pastor estava dizendo, em vez de apenas o que ele esperava ouvir. No contexto dessa grande questão global, Merrill percebeu que o pastor realmente estava dizendo que está apenas tentando sobreviver. Ele compartilhou um pouco do que é a vida cotidiana nessa região no Instagram, ao lado de sua reportagem sobre mudança climática.

7. Assuma a responsabilidade pela narração da história

Enquanto os jornalistas se encontram com pessoas para apurar as histórias, elas não podem fazer a reportagem para eles. Portanto, os repórteres devem “assumir um pouco da responsabilidade e encontrar maneiras de respeitar os entrevistados à medida que contam suas histórias”, disse Merrill.

Por exemplo, Merrill apontou que, quando uma pessoa dá o consentimento para uma foto, ela não sabe exatamente com o que está concordando em termos do impacto maior da imagem. Então, é realmente justo pedir consentimento? O fardo está nas mãos do jornalista para considerar o assunto e sua história.

8. Use as ferramentas do dia a dia

Um dos principais argumentos do Everyday Projects é o poder da narrativa visual, sem câmeras sofisticadas. “Everyday Africa começou como uma oportunidade para as pessoas usarem o que estava no bolso, um dispositivo cotidiano, para capturar e compartilhar as coisas da vida cotidiana”, disse Merrill.

Embora não seja mais necessário usar uma câmera de celular para fotos que aparecem no Everyday Projects, os parâmetros iniciais do projeto fizeram com que não fosse preciso equipamentos caros para contar uma história.

9. Continue aprendendo

O Everyday Projects inclui um currículo que fomenta o diálogo sobre estereótipos, fotografia, representação, produção de jornalismo e narrativa honesta. Embora as lições sejam voltadas para os jovens, elas são úteis para os repórteres também.

10. Pratique

Merrill disse que o Everyday Projects se espalhou globalmente não por recrutamento, mas por pessoas de todo o mundo replicando a ideia com seus próprios feeds diários.

"Nós encorajamos isso", disse Merrill.

Existe um guia inicial que qualquer pessoa pode baixar para iniciar um feed do Everyday no Instagram. Para os jornalistas, essa pode ser uma maneira de adquirir o hábito de capturar e compartilhar o cotidiano e desenvolver uma mentalidade que transforme suas reportagens.


 Imagem principal é uma captura de tela do Everyday Africa no Instagram  


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Freelance writer

Jennifer Anne Mitchell

Jennifer Anne Mitchell works in media and the arts in Washington, D.C. Her words can be found in Washington City Paper, The DC Line, National Geographic, and Craft Quarterly magazine published by the James Renwick Alliance, affiliated with the Smithsonian's Renwick Gallery.