“Diário do Clima”: oito organizações mapeando dados ambientais de Diários Oficiais

Oct 25, 2021 em Jornalismo colaborativo
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Monitorar e sistematizar dados sobre meio ambiente e clima nos Diários Oficiais de capitais brasileiras por meio do uso de inteligência artificial, democratizando o acesso à informação. Foi com esse propósito que oito organizações com diferentes especialidades se uniram para disputar o Desafio de Inovação da Google News Initiative na América Latina, criando o projeto “Diário do Clima”, um dos 21 selecionados pela empresa para receber aporte financeiro durante um ano.

“Quando tomei conhecimento do Desafio pensei que poderíamos nos juntar para propor um projeto que fortalecesse o jornalismo ambiental. Conversei primeiramente com o Paulo Vieira do ((o)) Eco, que tinha uma ideia de desenvolver “raspadores” de dados ambientais, e decidimos buscar outras mídias e a Open Knowledge, que já tinha um trabalho nesse sentido de obter informações de Diários Oficiais”, diz Maristela Crispim, fundadora e editora-chefe da Eco Nordeste e uma das idealizadoras do projeto.

A iniciativa, que reúne Agência Envolverde, Eco NordesteClimaInfo, #Colabora, InfoAmazonia((o)) Eco, Open Knowledge Brasil e Política por Inteiro, pretende criar uma ferramenta que filtre diariamente através de algoritmos informações relativas ao meio ambiente e clima contidas em Diários Oficiais de 15 capitais brasileiras, categorizando-as para facilitar o seu uso.

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“Atualmente não existe uma padronização das informações disponibilizadas pelos Diários Oficiais. O grande benefício do Diário do Clima consiste em criar um sistema que filtre e organize informações relativas à temática ambiental publicadas em algumas das principais capitais do país, o que resultará em um manancial de pautas para o jornalismo, as quais muitas vezes ficam invisíveis dentro do debate público”, defende Flávia Campuzano, editora de Relacionamento do #Colabora e uma das coordenadoras da iniciativa.

 

Parte da equipe do projeto
Parte da equipe do projeto

Curadoria de dados ambientais

Enquanto a Open Knowledge Brasil está responsável pelo desenvolvimento dos “raspadores” de dados, concomitantemente a esse processo, uma equipe de curadores composta por membros das plataformas irá trabalhar durante três meses na classificação inicial dos resultados de busca trazidos pelas ferramentas de “raspagem”.

“Essa é a fase do ‘machine learning’, ou seja, o momento de ‘ensinar’ o algoritmo a entender, dentro das palavras-chaves escolhidas pelo grupo, o que tem relevância para a temática de meio ambiente. Estima-se que nessa etapa serão classificados em torno de 57.600 a 86.400 resultados”, diz Campuzano.

Inspirado no trabalho realizado pelo Querido Diário de monitoramento, análise e correlação das informações publicadas nos Diários Oficiais de 12 capitais, o projeto pretendia aproveitar essa base já existente e ampliar o processo para todas as 27 capitais, mas como os recursos aprovados pelo Google foram menores do que os pleiteados, uma redução da quantidade de cidades foi necessária.

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Monetização e perspectivas para o futuro

Um obstáculo que costuma se impor a jornalistas que decidem empreender é a monetização dos negócios. Por isso, a ideia do Desafio do Google era que fossem apresentados projetos jornalísticos de relevância para a sociedade que pudessem ser sustentáveis financeiramente.

Como o financiamento dado pela empresa abarcará 70% dos custos iniciais do projeto e tem prazo de um ano, após esse período, que se encerra em agosto de 2022, o Diário do Clima deverá se manter com fontes próprias de recursos para tornar-se viável a longo prazo.

“Nós, jornalistas, normalmente temos dificuldade de pensar a captação de recursos, mas estamos melhorando nisso. A ideia é monetizar a plataforma através de produtos desenvolvidos a partir dos dados “raspados” e atrair organizações interessadas em apoiar financeiramente o nosso trabalho. Portanto, vislumbramos não apenas o público da área de comunicação, mas também empresas, organizações do terceiro setor e qualquer instituição que possa ter interesse nesse tipo de informação para o desenvolvimento de suas atividades”, esclarece a editora-chefe da Eco Nordeste.

Como fonte principal de recursos está a produção de relatório setoriais e corporativos que sejam do interesse de organizações e empresas que tratam de temas de governança e sustentabilidade. Uma outra vertente consiste em buscar financiadores que se interessem pelo próprio projeto e que possam ajudar a manter a plataforma.

“Estamos tendo diálogos com organizações que se interessaram pelo trabalho e pensamos em criar um modelo de acesso pago à plataforma”, diz Campuzano. Ela lembra, entretanto, que uma das contrapartidas do projeto consiste em liberar o acesso ao site para minorias e grupos subrepresentados da sociedade, que se encontram nos “desertos de notícias” (locais onde há pouca ou nenhuma cobertura jornalística) do Brasil.

Além dos trabalhos de “machine learning” feitos pelo grupo de curadoria, está sendo criado um grupo para organizar a contratação de um coordenador geral. “Estamos buscando os talentos e expertises à medida em que o projeto avança. A ideia é que, após o ingresso desse coordenador, nós consigamos definir melhor as atividades de cada plataforma dentro do Diário do Clima”, explica a editora do #Colabora.

As expectativas em relação ao projeto são otimistas. “Um trabalho que tem relevância vai se sustentando de forma diversificada com várias fontes de receita. Há várias possibilidades e estamos construindo esse processo”, pondera Crispim. “Estamos bem confiantes que iremos entregar um produto que tenha valor para a sociedade”, afirma Campuzano.


Foto: Imagem do website do projeto