Ferramentas que jornalistas de dados e investigativos estão usando no momento

por Katherine Pennacchio
May 5, 2025 em Jornalismo investigativo
A macbook, with graphs, highlighters, a magnifying glass and more

Sobrecarga de informação e falta de transparência nos governos são desafios permanentes para jornalistas. Nesse cenário, ter ferramentas confiáveis e poderosas pode fazer a diferença entre uma simples suspeita e uma grande investigação. 

Hoje, mais do que nunca, o jornalismo investigativo e de dados na América Latina precisa de aliados para ajudar a cruzar informações, identificar redes de poder, rastrear documentos ocultos online ou visualizar descobertas de um modo claro e convincente.

A LatAm Journalism Review (LJR) compilou oito ferramentas, algumas novas e outras bem estabelecidas, que estão transformando a forma como investigações são realizadas. De plataformas que conectam bases de dados de governos a motores de busca alimentados por inteligência artificial, essas ferramentas foram recomendadas por jornalistas conhecidos que já as utilizam para revelar redes de corrupção, analisar tendências ou contar histórias complexas com rigor e precisão.

NINA

A LJR publicou recentemente um artigo sobre a NINA, plataforma que conecta várias bases de dados abertas para encontrar conexões entre empresas e pessoas que têm contratos com governos na América Latina. 

Desenvolvida pelo Centro Latino-americano para o Jornalismo Investigativo (CLIP), a plataforma se posiciona como uma aliada dos repórteres investigativos na América Latina. Ela foi criada em 2020 e se tornou uma fonte importante de dados para mais de 400 jornalistas.

"Nesses cinco anos, nós aumentamos a quantidade de dados e adicionamos novos países. Agora temos informações de 21 países", diz Emiliana Garcia. "Nós também conectamos as informações com outras centrais de dados, como as do Projeto de Reportagem sobre Crime Organizado e Corrupção (OCCRP), Ojo Público e Sayari."

O acesso à plataforma NINA exige cadastro e o envio de informações sobre o veículo para o qual o usuário trabalha, seu país de residência e nacionalidade. Os usuários podem consultar informações sobre empresas, entidades, indivíduos, contratos e documentos.

Graphext

O Graphext é uma ferramenta de análise de dados que facilita a análise e visualização de grandes volumes de informação sem a necessidade de programação.

É especialmente útil no jornalismo de dados, já que permite aos usuários analisar tendências, detectar padrões ocultos, identificar redes de influência e processar dados não estruturados, como texto e conteúdo de redes sociais. O aspecto visual e interativo da ferramenta ajuda a transformar dados complexos em matérias compreensíveis.

"Eu gosto do Graphtext porque ele me ajuda a descobrir padrões em grandes volumes de dados com mais facilidade", diz o jornalista costa-riquenho Hassel Fallas. "Uma vez usei o Graphtext pra achar municípios onde havia relações incomuns em contratos públicos; também já usei pra fazer uma análise das músicas do Queen." 

Os usuários precisam se cadastrar para utilizar a ferramenta. Ela oferece uma versão gratuita e outra paga, que permite aos usuários trabalhar em múltiplos projetos e com várias equipes. Há também planos especiais para instituições acadêmicas e organizações sem fins lucrativos.

Hoaxy

Outra ferramenta recomendada por Fallas é a Hoaxy. "Essa plataforma me ajudou a visualizar a disseminação online de postagens e matérias, o que me permitiu rastrear como a informação se propaga e, com isso, detectar possíveis casos de desinformação", diz Fallas.

A Hoaxy foi desenvolvida pelo Observatório de Redes Sociais da Universidade de Indiana e lançada em 2016. Ela pesquisa palavras-chave ou links e em seguida analisa como o conteúdo é compartilhado nas redes sociais, principalmente no X.

Por meio de visualizações interativas, ela mostra como a informação se espalha, além de identificar fontes e padrões de disseminação. Ela também permite que os usuários comparem a disseminação de notícias suspeitas com dados verificados, ajudando jornalistas e pesquisadores a entender melhor a dinâmica da desinformação na internet.

Cruzagrafos

A jornalista brasileira Marina Gama Cubas, editora de dados no CLIP, recomenda o Cruzagrafos.

De acordo com ela, a ferramenta, lançada em 2020 pela Abraji e coordenada por Reinaldo Chaves, é a melhor quando se está no início de uma investigação. 

A CruzaGrafos é gratuita e permite aos usuários cruzar dados e visualizar em gráficos as relações resultantes.

A ferramenta tem incorporadas bases de dados de candidaturas coletadas do Tribunal Superior Eleitoral, informações de empresas a partir de dados da Receita Federal, multas ambientais emitidas pelo IBAMA e a lista de devedores do Governo Federal, entre outros.

"A iniciativa tem o objetivo de catalogar, limpar e analisar grandes bancos de dados públicos, que no Brasil muitas vezes estão dispersos e publicados em formatos de difícil análise ou com enormes quantidades de informações", afirma a Abraji no site da ferramenta.

É preciso ter cadastro com login e senha para usar o Cruzagrafos.

Google NotebookLM

O NotebookLM é uma ferramenta de pesquisa e anotações desenvolvida pelo Google Labs que usa inteligência artificial — mais precisamente, o chatbot Gemini — para ajudar os usuários a interagir com seus documentos.

Jornalistas podem subir diferentes tipos de arquivos: transcrições de entrevistas, relatórios governamentais, artigos, PDFs, entre outros. A partir daí, o NotebookLM pode gerar resumos, explicações e responder perguntas.

Ele também pode sugerir estruturas de textos, títulos ou abordagens narrativas para melhorar a escrita. Com o recurso "Visão Geral de Áudio", jornalistas podem acessar resumos em formato de áudio, facilitando a análise de informações a qualquer momento. 

O NotebookLM é gratuito, mas em dezembro de 2024 o Google lançou o NotebookLM Plus, voltado para negócios e assinantes pagos do Gemini, com recursos avançados e uma capacidade maior de processamento.

A programação do 26º Simpósio de Jornalismo Online (ISOJ) incluiu uma oficina sobre a ferramenta. Você pode ver um resumo do que foi discutido aqui.

Flourish

O Flourish foi a ferramenta mais mencionada pelos jornalistas investigativos e de dados ouvidos pela LJR. Ele permite que os usuários criem gráficos interativos e apresentações atraentes gratuitamente, sem precisar escrever códigos.

Ele é amplamente usado no jornalismo de dados porque simplifica a criação de mapas, infográficos, gráficos de barra animados e outros formatos que ajudam a contar histórias visualmente.

"O Flourish mudou minha vida por conta da facilidade e adaptabilidade dos templates", diz a jornalista venezuelana Crysly Egaña. "Você pode criar praticamente qualquer tipo de visualização."

O Flourish foi criado em 2018 pelo jornalista de dados Duncan Clark e pelo cientista da computação Robin Houston com o objetivo de superar as limitações das ferramentas tradicionais de geração de dados ao combinar customização, interatividade e facilidade de uso.

Em 2022, a ferramenta foi adquirida pelo Canva, o que passou a permitir a integração com a popular plataforma de design e expandir seu alcance a mais usuários pelo mundo. 

Pinpoint

Gabriel Labrador, jornalista investigativo e repórter do premiado veículo El Faro, recomenda, sem hesitar, o Pinpoint.

A ferramenta, que é de propriedade do Google, permite aos usuários analisar arquivos de texto, áudio, imagens e emails. A ferramenta consegue identificar automaticamente as pessoas, organizações e locais mais frequentemente mencionados nos documentos.

Ela também faz a transcrição de arquivos de áudio e extração de texto de documentos escritos à mão.

O Pinpoint faz parte do Journalist Studio, conjunto de ferramentas do Google que usam IA e são voltadas para ajudar jornalistas a fazerem seu trabalho "com mais eficiência, criatividade e segurança".

Para usar a ferramenta, jornalistas precisam se cadastrar e solicitar acesso.

Busca avançada do Google

A busca avançada do Google é uma ferramenta que permite refinar as pesquisas para obter resultados mais específicos e relevantes. Em vez de simplesmente digitar palavras-chave na barra de pesquisa, usuários podem usar operadores especiais ou o formulário de pesquisa avançada (disponível nas configurações do Google) para filtrar resultados a partir de vários critérios.

Por exemplo, com a busca avançada é possível pesquisar frases exatas, excluir certas palavras, limitar resultados a um site específico, definir intervalos de datas, escolher o idioma, filtrar pelo tipo de arquivo, entre outras opções. 

"Embora pareça uma ferramenta básica que usamos todos os dias, já achei várias informações públicas e oficiais utilizando-a", diz Daniela Castro, editora da América Latina do OCCRP. 

Alguns exemplos úteis incluem: aspas (" ") para pesquisar frases exatas, site: para limitar a pesquisa a um site específico (exemplo: site:latamjournalismreview.org), filetype: para pesquisar um tipo específico de arquivo como PDF ou DOC, o símbolo de menos (-) para excluir termos e AND para encontrar resultados que contenham todas as palavras ou termos indicados.

"Os que mais uso são as aspas, site: e AND", diz Castro.


Foto por Nataliya Vaitkevich via Pexels. 

Este artigo foi originalmente publicado na LatAm Journalism Review e republicado na IJNet sob a licença Creative Commons CC BY-NC-ND 4.0