Giuliana Morrone: a ex-global que agora une jornalismo e sustentabilidade

29 sept 2024 dans Temas especializados
Livro Giuliana Morrone

Ela foi por 24 anos uma estrela do telejornalismo brasileiro: repórter do Jornal Nacional, correspondente em Nova York, apresentadora dos principais telejornais da TV Globo. Mas garante nunca ter deixado a fama subir à cabeça. Tanto que a demissão há dois anos foi até oportuna. 

Um dia depois de ser demitida, Giuliana Morrone já estava imersa num treinamento de uma semana com CEO’s do mundo todo  sobre educação executiva, que incluiu aprender até o conceito sobre “macho alfa”. E assim ela foi investindo na atual carreira: jornalista palestrante dedicada aos temas ambientais, sociais e de governança corporativa.

Entre os compromissos de lançamento do seu livro “Mitos e Verdades do ESG”, em várias cidades do Brasil, ela reservou um tempo para contar à IJNet sobre esta nova fase. “Eu não quero ser chamada de especialista, eu continuo com o meu olhar de jornalista e sendo uma boa contadora de história. Essa é uma vantagem que eu tenho para fazer o público entender sobre ESG”.  Para quem nunca ouviu falar, a sigla ESG significa Environmental, Social, Governance. Em bom português: Ambiental, Social e Governança – pilares para empresas preocupadas com o meio ambiente e a sociedade em que vivemos.                         

1. De onde partiu o seu interesse por ESG?

Quando fui correspondente em Nova York, em 2007, conheci uma cooperativa no Brooklyn que administrava um mercado de orgânicos. A minha história começou aí, com cooperativismo. Achei bacana demais como princípio. Por acaso eu também fui vizinha de uma empresa norte-americana de “capitalismo consciente”, de propósito e com liderança consciente. E cheguei a fazer na época um curso sobre energia limpa. Além disso, eu sempre busquei levar uma vida sustentável. Na Covid eu tive vontade de estudar ESG. Nessa época essa sigla era o termo acadêmico mais procurado pelas empresas do mundo e no Brasil tinha pouca coisa. Em 2021, fiz um MBA na PUC-Rio sobre ESG, fiz parte da primeira turma. E depois um curso de ética corporativa e outro de lideranças femininas com a Angela Donaggio. Esse último, em 2022, mudou minha vida porque eu tinha uma percepção da questão de gênero muito limitada.

2. Qual o tipo de serviço que você oferece?

Eu estou em processo de aprendizado contínuo. O único meio de me transformar é estar em constante aprendizado, são pelo menos 6 horas por dia estudando. E eu continuo jornalista. Sou associada a uma agência de palestras que me encaminha os clientes. Sou chamada para várias empresas e tenho o luxo de escolher. Este ano, por exemplo, eu abri o ano financeiro da Tetra Pak, uma empresa fantástica de sustentabilidade. Eu vou muito à cooperativas. Falo para pequenos empreendedores. Gosto muito porque ali os desafios são até maiores. Eu fui, por exemplo, pelo Sebrae em Ouro Preto, região que vive da mineração. E o que eu levei para eles é que um município que não tem uma economia plural, tem um problema. É preciso se desenvolver de forma sustentável, não só tirar recursos da natureza. Outra recente palestra foi para líderes no setor de saúde. E uma para empresas de vidro sobre a necessidade de “certificados verdes”. O Brasil precisa de uma matriz energética e a gente está atrasadíssimo. Mas em toda palestra eu levo exemplo positivo de empresas brasileiras que estão investindo em sustentabilidade.

3. O que você conta no livro?

O objetivo do livro é aproximar o público da sustentabilidade. Eu explico conceitos, mas achei que ficaria chato. Então eu fiz um exercício que pouca gente conhece, eu adoro escrever contos e crônicas. Tenho facilidade e assim eu peguei assuntos reais que eu apurei e os transformei em contos para explicar melhor problemas e soluções sobre governança, diversidade, questões ambientais e sociais. São contos de ficção, mas com fundo de verdade. Algo divertido para ler e não ficar com um monte de siglas na cabeça.

4. Se a Giuliana Morrone se formasse hoje em jornalismo que caminho ela seguiria?

Se eu tivesse 20 anos, acabando de me formar na UnB, eu ia ser jornalista freelancer. E aí eu ia usar o mobile journalism. Mas que equivocadamente está sendo implantado inclusive aqui na capital federal,em Brasília, e isto não faz o menor sentido, é só precarização do trabalho. O "kit MoJo" é você sair com celular, uma lapela, ter um zoom, um tripezinho e você fica sozinho por aí. Isso não é para um trabalho em Brasília em que o repórter tem que fazer apuração e um monte de coisas ao mesmo tempo. Se eu estivesse começando agora eu ia rodar o mundo, quem sabe até falando sobre sustentabilidade com o meu “kit MoJo”. Mas eu me preocupo com essa galera nova em termos de remuneração e condição de trabalho. Quando eu comecei, mesmo no jornalismo local, havia melhores salários. Eu tenho colega jornalista hoje que faz Uber para complementar a renda.  

5. Você sente saudade da adrenalina do vídeo?

Eu passei 24 anos com o meu rosto e a minha voz associada a uma empresa. Ainda hoje se eu saio de casa, vai ter alguém fazendo uma relação de mim com a empresa. Eu nunca tive escaninho, ou nome na gaveta, eu sempre coloquei na cabeça, talvez por medo de sofrer a perda, que eu estava ali de passagem. Quando eu fui demitida a única coisa que eu pensava era fazer algo que me deixasse feliz, porque eu não estava mais feliz. Fico honrada dos convites que recebi de outras empresas de comunicação, mas eu queria fazer algo novo, diferente, com impacto positivo. E de adrenalina eu não sinto falta mesmo! Hoje eu subo num palco para 400 pessoas e falo por uma hora, depois ainda respondo perguntas que nunca são planejadas.


Foto: arquivo pessoal Giuliana Morrone