Você sabe dar preço ao seu trabalho jornalístico?

12 août 2024 dans Sustentabilidade da mídia
Dinheiro

Saber o valor do seu trabalho é imprescindível para a sustentabilidade do negócio ou da atividade de freelance. Normalmente, jornalistas têm dificuldade em considerar todos os pontos que devem fazer parte desse cálculo, como quanto arrecadar para trazer viabilidade para a carreira. O nosso Fórum convidou Gustavo Panacioni, jornalista fundador do Expresso, jornal local de Curitiba, e especialista na área de precificação e marketing para discutir estratégias de gestão financeira. A gravação da conversa com Daniel Dieb e o resumo você confere aqui:

Os erros na gestão

Saber precificar e determinar o limite do desconto que torna viável o trabalho é crucial. “No meu doutorado, eu tenho percebido que quando as pessoas começam um empreendimento, elas não pensam no preço final do produto para o negócio ter saúde financeira”, destaca. Alguns erros comuns na gestão foram apresentados:

-Definir o preço com base no que o concorrente ou produtos similares cobram sem respeitar o seu contexto, a sua realidade de sede, de estrutura e de despesas.

-Definir o preço com base no que o cliente tem de verba. “Temos dificuldade de falar de preço, precisamos começar a perder esse obstáculo sem ficar com dor na consciência. É importante definir valor, não apenas financeiro, mas de marca, de imagem pessoal e serviço”.

Como ter saúde financeira

“Quanto você cobra para prestar um serviço? Geralmente, depois da consultoria, as pessoas se assustam com o quanto os valores estão desajustados. Precificação não é e não pode ser sorte. Você tem que saber o porquê do seu preço, caso seja questionado pelo cliente”, destaca o jornalista, que elencou três pilares para a gestão de qualidade:

-Trazer os números para perto com planilhas e controle de despesas. Panacioni disponibilizou planilhas editáveis e ajustáveis à realidade de cada profissional para ajudar na precificação.

-A partir do seu contexto de precificação, avaliar se vale a pena entrar num tipo de mercado.

-Pensar em projetos a longo prazo. É interessante fazer a gestão de metas e criar produtos que darão segurança durante um ano de trabalho, tendo em vista a sazonalidade das ofertas.

Elementos da precificação

3 grandes elementos podem definir o preço de venda do projeto: os custos do serviço ou produto; as despesas fixas e os custos variáveis:

- Custo do serviço ou produto: são todos os gastos na produção do projeto ou produto. Horas gastas na apuração e entrevista, deslocamento, alimentação e o valor da hora do trabalho, além de gastos com matéria-prima, mão de obra e insumos.

- Despesas fixas: gastos como aluguel, alimentação, luz, plano de saúde, salários, pró-labore, plataformas, softwares e investimentos em marketing são alguns dos valores mensais recorrentes que precisam ser considerados. Outras parcelas anuais comuns, como o registro de domínio, devem ser divididas e computadas mensalmente. “Trabalhar por mês é mais sustentável porque você consegue viabilizar quantos projetos precisa desenvolver para se manter”, destaca. Para quem trabalha em casa, as despesas do exercício da profissão, como luz, internet e alimentação, também entram na conta.

- Custos variáveis: são o percentual de vendas e comissões do projeto/ produto, fretes e os impostos (principalmente para quem emite nota fiscal sem ser MEI e não tem uma carga tributária recorrente mensal). Compra de equipamentos e investimentos na carreira podem ser inseridos em despesas fixas ou em custo variável.

Consideradas todas essas despesas, Panacioni esclarece que definir o valor da hora é o menor ponto de tensão. “O que faz sentido é entender o preço final e ter liberdade de aumentar ou diminuir o valor da hora sem impactar na sua sustentabilidade”, pondera.

O percentual da margem adicionada ao custo do serviço

 Para estabelecer o preço de venda do produto ou serviço, é preciso definir uma margem acima do custo de serviço e destinar um percentual para custos variáveis (impostos), despesas fixas (margem de contribuição) e lucro. Panacioni destaca que a porcentagem da margem de contribuição e o lucro são ajustáveis à realidade e à meta de cada profissional. “Sugiro que entrem na planilha que disponibilizei e testem, dentro do seu contexto, quanto de margem de contribuição você pode colocar em cada trabalho”, pontua.

O jornalista esclarece que um erro comum no cálculo do preço de venda é em como adicionar ao custo de serviço o percentual da margem bruta. Ele exemplifica que, se foi estabelecida uma margem bruta de 30% e apurado o custo do serviço em 500,00, não basta adicionar 30% aos 500,00, chegando ao valor de 650,00. Para descobrir o preço de venda, é necessário dividir 500 por 70% (0,7), que dá 714,29.

A viabilidade e sustentabilidade do negócio

Após definir o custo do serviço e a margem bruta, Panacioni pondera que é hora de avaliar se o projeto ou serviço é viável. Se compensa dedicar-se ao trabalho pela remuneração oferecida. “A viabilidade me ajuda a definir quantos projetos eu preciso ter por mês para sustentar o meu negócio. Com o preço de venda, eu faço a gestão de metas”, explica. Para saber quantos projetos precisam ser vendidos, é necessário dividir as despesas fixas pela margem de contribuição. “Baseado nos valores, você pode ajustar sua margem ou custo do serviço, organizar a gestão de metas e diversificar as fontes de receitas para alcançar seus objetivos profissionais”.

Ajustar a margem de contribuição é crucial para pensar na precificação e na sustentabilidade. “Você tem que saber exatamente para onde o dinheiro tem que ir. Se você arrecadou no mês mais do que o valor para pagar os custos, não coloque esse excedente no lucro. Faça um caixa, caso não venda um projeto no próximo mês,” afirma.


Foto: Canva