Dez livros de jornalistas para dar de presente neste Natal

13 déc 2021 dans Atualidades IJNet
Livro de presente

Não foram fáceis os últimos dois anos. Tudo mudou desde a notícia do aparecimento de um vírus em Wuhan, na China, bem no final de 2019. O jornalismo se mostrou necessário. E os jornalistas, imprescindíveis. A informação correta precisou dos seus defensores. Também nas páginas dos livros de não ficção e na imaginação literária.

Os jornalistas colocaram obras nas estantes das livrarias virtuais, agora de volta a uma quase normalidade. Mesmo com variantes ameaçadoras, chegou o momento de dar aquela respirada profunda, com cautela, para saudar as festas natalinas e o novo ano. Nada melhor do que fazer isso com um presente que misture prazer, conhecimento e verdade.

O narizinho de cera anuncia uma lista de presentes. Dez livros de nove jornalistas brasileiros e uma portuguesa (descrevendo maravilhosamente o Brasil), publicados entre 2020 e 2021. Diferentes gostos e medidas, mas com desejos parecidos: rigor na apuração, criatividade na invenção, sinceridade e generosidade na interlocução com o leitor da língua portuguesa.

1 - Baixo esplendor

No romance Baixo esplendor (Companhia das Letras, 264 páginas), Marçal Aquino volta ao período em que era repórter policial para construir uma trama de amor e revólver. Nos anos 1970, com a barra bem pesada, um agente da Polícia Civil se infiltra num bando de ladrões de cargas. A paixão pela irmã do chefão pode colocar tudo a perder. Como a pontaria do autor é sempre certeira, não se larga o livro nem com ameaça de morte.

2 - Os planos

É também nos anos 1970 que se inicia a história de Os planos (Letramento, 286 páginas), segundo romance de Carlos Marcelo. Do submundo de São Paulo vamos ao território do crime de Brasília. No enigma dado ao leitor, diferentes "planos" narrativos se superpõem aos diferentes projetos individuais numa cidade planejada para que nada – ou pouco – dê errado.

3 - A república das milícias: dos esquadrões da morte à era Bolsonaro

Nos dois casos, a humanidade caminha para um país ainda mais destroçado nas décadas que virão. Saímos da verossimilhança literária para o compromisso com a verdade jornalística. Em A república das milícias: dos esquadrões da morte à era Bolsonaro (Todavia, 304 páginas), Bruno Paes Manso escuta histórias de justiceiros que se consideram do bem e estão dispostos a tudo para derrotar o mal. Relatos crus de barbaridade banalizada.

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4 - A máquina do ódio 

A verdade também não faz mais sentido para a agressão no mundo digital. Difundir inverdades para impor ideologia e atacar reputações tem sido forma eficiente de matar a democracia, segundo nos contam as "notas de uma repórter sobre fake news e violência digital". Minuciosa, Patrícia Campos Melo desmonta A máquina do ódio (Companhia das Letras, 296 páginas) armada pelo candidato e pelo governo Jair Bolsonaro.

5 - Fascismo à brasileira 

Pedro Doria volta no tempo para encontrar algo miliciano e odioso no integralismo, movimento de extrema-direita que criou o Fascismo à brasileira (Planeta, 272 páginas). A pesquisa histórica estabelece inevitável conexão com o presente, dando ao leitor uma chave para compreender métodos pouco democráticos de disputa por opinião e poder.

6 - Lúcia Machado de Almeida, uma vida quase perfeita

Os diagnósticos jornalísticos que dão conta de como o Brasil anda dramático se deixam amenizar por outras leituras. Quem não se lembra da Série Vaga-Lume? Em Lúcia Machado de Almeida, uma vida quase perfeita (Conceito Editorial, 240 páginas), Régis Gonçalves faz um perfil da autora de O escaravelho do diabo e outros cinco livros da coleção infanto-juvenil, com personagens memoráveis: Xisto, Spharion, Atíria.

7 - João aos pedaços

Menos feliz e animada foi a vida do gaúcho João Gilberto Noll, biografado por Flavio Ilha em João aos pedaços (Diadorim Editora, 248 páginas). Cartas e contos inéditos são a cereja da bonita edição sobre o escritor que fez de um personagem sem nome sua marca, seu rastro definitivo na literatura brasileira da virada entre os séculos 20 e 21.

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8 - Vento vadio

Se Noll "entoa" palavras em sua prosa sempre deslocada, Antonio Maria nos surpreende com crônicas de poesia à flor da pele – e poucos clichês. A coletânea Vento vadio (Todavia, 496 páginas), organizada por Guilherme Tauil, é das coisas deliciosas pelas quais valeu a pena esperar. Inédito em livro, Maria foi cantor e de tudo um pouco, inclusive jornalista. Aqui nos oferece retratos afetuosos dos anos 1950 e 1960.

9 - Os últimos melhores dias da minha vida

Para fechar estas dicas brasileiras de boas horas na companhia de um livro, recorro ao relato emocionado de Gilberto Dimenstein e Anna Penido sobre Os últimos melhores dias da minha vida (Record, 140 páginas). Em primeira pessoa guiada pela voz calorosa da companheira, Dimenstein enfrenta de peito aberto o câncer que lhe tirou a vida, mas que também proporcionou momentos de intenso prazer humano nas linhas finais. Sim, veneno que cura e mata, assim como este país complicado e complexo.

10 - Viagem ao país do futuro

Brasil civilizado e selvagem que Isabel Lucas primeiro encontrou nos clássicos da nossa ficção (Euclides da Cunha, Guimarães Rosa, Raduan Nassar) para depois procurar, na realidade das ruas e dos confins, os cenários dos escritores e seus diversos personagens. Numa Viagem ao país do futuro (Cepe Editora, 328 páginas), a leitora-repórter portuguesa olhou, entrevistou e tentou compreender a atual nação. Como todos os outros livros antes elencados, este também se faz da obrigatoriedade da pergunta e da perplexidade da resposta.

 

É a conversa polifônica dada por páginas de reportagem, depoimento, biografia, ensaio, crônica, história e romance que coloca jornalismo e jornalistas no trânsito incessante de linguagens. Neste transe de espanto com o presente, de olho no retrovisor desconfiado do passado e de esperança inevitável no futuro. Que 2022 nos dê de presente ao menos um lugar mais confortável entre parágrafos de uma nova história.


Foto: Canva imagem