Janelas abertas para jornalistas: as possibilidades do mercado digital

Nov 22, 2021 en Jornalismo multimídia
Verônica numa janela

"Quando se fecha uma porta, abre-se uma janela" é meu ditado preferido para representar uma visão mais otimista do mercado para jornalistas. Apesar das constantes demissões nos veículos de imprensa, o ambiente digital oferece trabalho, novas funções e melhor remuneração para comunicadores dispostos a fugir da zona de conforto.

Para você ter ideia, no momento em que escrevo este artigo, o Linkedin somava 3.087 anúncios de vagas, no Brasil, nas áreas de comunicação digital, assessoria de imprensa e produção de conteúdo.O Instituto Gyntec, inclusive, fez um levantamento com 38 empresas goianas e apontou que 55% delas desejam profissionais com as seguintes habilidades: gerenciamento de mídias sociais, produção de conteúdo digital, planejamento de inovação e análise de dados. 

Algumas dessas "novas" competências podem assustar os jornalistas com mais de 15 anos de mercado devido à resistência às diferentes plataformas. No entanto, os profissionais que estiverem abertos a aprender e aplicar comunicação eficaz fora das redações encontram chances de se reinventar na profissão.

Flexibilidade

Foi o que aconteceu com Nathalia Barboza, 52 anos de idade e 30 de Jornalismo. O último emprego fixo dela foi como assessora de comunicação em 2018. Hoje, é freelancer em oito projetos diferentes. "Para quem estiver atento às possibilidades e for flexível, a abundância de trabalho é evidente", comenta.

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Aplicar técnicas jornalísticas virou aptidão básica. O que o mercado exige agora é ânimo para dominar dispositivos tecnológicos, criatividade para inovar e habilidades interpessoais. "Para se dar bem no ambiente digital – mas não só nele –, tem de ter muitos contatos, ser responsável, pontual e versátil", diz Barboza. "Tudo isso sem violar nossos valores éticos."

Barboza produz conteúdo para portais e assessorias de imprensa, apresenta podcast e edita vídeos. Além disso, faz cobertura de eventos e reportagens para publicação corporativa, revisa textos e ainda é anfitriã de aulas digitais. O conforto financeiro é relevante, mas ela acrescenta o benefício de se sentir desafiada: "É estimulante. Nenhum dia é igual ao outro, e eu gosto muito disso!"

Empreendedorismo Digital

Há também quem deseja uma vida profissional menos agitada, mas nem por isso estagnada. O jornalista que leva jeito como gestor e tem um serviço de excelência a oferecer pode se juntar aos mais de 2 milhões de brasileiros que se tornaram empreendedores no primeiro semestre deste ano, segundo pesquisa do Sebrae.

Montar uma empresa de comunicação pode ser ideal para seguir com trabalho, fora das redações ou grandes veículos. Ela pode ser barata, enxuta e online. O empreendedorismo digital ganha força pela expansão do uso das redes sociais e o baixo custo comparado a outros formatos de mídia.

Nesse caso, posso falar por mim. Saí da redação de um grande jornal de Brasília em 2013. O salário de repórter júnior beirava 2 mínimos. Mesmo com medo, pedi demissão para agarrar uma oportunidade de estudar fora do país. A aventura me proporcionou ver opções de trabalho que dificilmente enxergaria quando focada na produção de notícias diárias.

Na época, a necessidade de obter nova fonte de renda me apontou o empreendedorismo digital como caminho, já que as redações passavam por demissões em massa. Montei um negócio de comunicação e, de lá para cá, não tenho arrependimentos.

É claro que esse trabalho me exige muito mais do que escrever reportagens ou artigos. Há o lado burocrático, de gestão e de marketing. Mas a liberdade geográfica, financeira e de agenda me fazem continuar nesse caminho. 

A empresa, hoje, oferece cursos e consultorias, além do serviço de gestão de mídias sociais para pequenos empreendedores. O resultado é de um faturamento mensal 15 vezes superior ao obtido no antigo cargo de repórter. E, o importante, o entendimento de como servir cada vez mais pessoas com as habilidades de comunicação.

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CLT com propósito

Diferentemente de mim e da Nathalia Barboza, existem aqueles que não abrem mão do salário fixo no final do mês. No entanto, conseguem expandir possibilidades de ganho para além do CLT. É o caso do meu aluno e jornalista Pedro Valadares, 35 anos. Ele é gestor de projetos e, em paralelo, lidera um empreendimento online.

Valadares identificou um interesse por conteúdo sobre a língua portuguesa na internet. Para atender essa demanda, criou o Clube do Português. Há 5 anos, começou como blog. Hoje, é uma pequena empresa que dá dicas online diárias sobre o idioma e oferece o serviço de revisão de texto para editoras. O investimento de tempo e esforço no próprio projeto recompensou Pedro com destaque dentro do emprego fixo, além da renda extra. Ele aconselha os colegas a tirarem as ideias do papel e terem paciência e disciplina para aguardar os resultados. 

Sabemos dos desafios da nossa profissão hoje. Mas compartilhamos de um futuro - que já é presente -- repleto de oportunidades. Para se destacar no mercado, Pedro aposta na comunicação de nicho, focada em segmentos específicos. Nathalia aponta a necessidade de entender as linguagens das novas plataformas. E eu acredito no poder de realizar negócios para abrir portas e janelas profissionais.


Foto: arquivo pessoal Verônica Machado