Dicas de jornalistas brasileiros pioneiros no Clubhouse

Mar 15, 2021 in Redes sociais
Com bandeira do Brasil ao fundo, telefone celular exibe aplicativo do Clubhouse

“O Clubhouse é um caldeirão de pautas”, diz a relações públicas e colunista da revista Vogue Brasil, Luciane Angelo, sobre a mais nova plataforma das redes sociais. Angelo está lá desde o início de fevereiro, quando a plataforma conquistou brasileiros. Entre 30 de janeiro e 6 de fevereiro, o número de pesquisas no Google para o aplicativo no Brasil aumentou 525% em comparação com a semana anterior, de acordo com o site Statista

Um espaço para falar

Criado em 2020, o Clubhouse é uma rede social apenas de áudio. Não tem como enviar mensagem de texto. As pessoas entram nas salas de bate-papo, com um ou mais moderadores, e pedem para falar clicando no ícone da “mãozinha”. A moderação vai direcionando o assunto, as perguntas e concedendo a palavra. Tópicos como auto-ajuda, diversidade, direitos humanos e ativismo político têm público cativo.

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A jornalista Maria Cândida, apresentadora da TV Globo e influenciadora digital, considera que jornalistas levam vantagem na moderação. “Se você é jornalista fica mais fácil. Porque você pode apresentar dados, analisar a contribuição de quem fala, ir pontuando. É uma rede social que dá pra fazer jornalismo, trabalhar com informação”, explica. 

Cândida já usa YouTube e Instagram para a audiência “ageless generation”, mulheres maduras que não se prendem a idade cronológica. Ela viu no Clubhouse mais uma forma de conexão com seu público: “Profissionalmente é mais uma rede onde eu apresento um conteúdo, então pra mim é uma vantagem profissional.”

Acertando os nomes das salas

As salas podem ser previamente agendadas pelos moderadores, com título e  resumo do assunto. Elas ficam disponíveis no calendário do Clubhouse. Outra forma de encontrar uma sala é por meio das pessoas que você escolhe seguir. Salas com nomes interessantes despertam atenção. Cândida, por exemplo, tem uma sala fixa todo domingo que se chama “O que uma mulher não aguenta mais ouvir numa sala de reunião”.

“Fui movido pela curiosidade num primeiro momento. Afinal, é um aplicativo que já estava sendo falado e usado, principalmente nos Estados Unidos, por personalidades como Oprah Winfrey e Elon Musk”, explica Guilherme Ramalho, produtor de reportagem da GloboNews. Ele gostou tanto que está lá diariamente. “Criei uma sala chamada ‘Papo de Jornalista’ às 9 da noite, para jornalistas trocarem ideias sobre mercado de trabalho, carreira, vida de correspondentes, diversidade, relação com assessoria de imprensa, comunicação e futuro profissional”, conta Ramalho. Ele também está na sala “Passadão no Jornal”, da jornalista Rosana Hermann, onde comentam, pela manhã, as notícias do dia.

Na busca de pautas e contatos

“Os depoimentos das mulheres servem sempre de referência para eu formular pautas. Nas minhas salas específicas, eu acabo anotando”, diz Cândida, que modera de segunda a sábado, às 6 da tarde, a sala “Papo Ageless 40+”. 

Angelo concorda: “É até uma dica que eu dei para minhas amigas que trabalham em revista feminina e pode se estender a qualquer jornalista. É muito interessante como ferramenta de jornalismo porque você encontra pauta e já os personagens, basta você entrar na sala correta.”

Cândida orienta sobre as fontes feitas na nova rede social. “Fontes específicas são possíveis, mas tem que tomar cuidado e checar o que ela diz que faz, porque é uma rede em que as pessoas colocam o que querem nas suas bios”. Cândida chama de “bios” o espaço do perfil em que a pessoa pode informar sobre a formação profissional.

“O aplicativo funciona como uma rede de conexões. Qualquer jornalista pode interagir com quem ajude na contratação. Há CEOs de empresas, diretores, gerentes e chefes. É uma rede social com mais interação do que o LinkedIn, por exemplo”, diz Ramalho. "Curiosamente, as minhas participações até agora me fizeram ganhar seguidores no Instagram. Então, indiretamente, acaba sendo bom”, conta Angelo.

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Jornais no aplicativo

Algumas empresas jornalísticas já estão no aplicativo, como é o caso do jornal “O Estado de São Paulo”. “No Estadão sempre incentivamos a diversidade de opinião, liberdade de expressão e pensando crítico. O Clubhouse tem demonstrado ser propício para essa interação”, explica Juliana Pio, jornalista e analista de formatos do Estadão, uma das responsáveis pelo perfil criado pelo jornal. 

A primeira sala do Estadão, em 23 de fevereiro de 2021, teve o nome de “O que a pandemia conectou, a vacina vai desconectar?” e reuniu influenciadores digitais como moderadores. “Em tempos de polarização na internet, a ideia é convidar a sociedade a debater, a partir de sólidas bases de informação, temas importantes para o desenvolvimento do Brasil”, explica Pio.

O aplicativo ideal durante a pandemia

Angelo considera que as restrições impostas pela pandemia favoreceram o uso do aplicativo: “Principalmente para pessoas que moram sozinhas, o fato de estar numa pandemia e em casa, mesmo após o trabalho, faz com que a gente entre mais nas redes. Fora da pandemia talvez você fosse sair para tomar um drink com amigos.”

“Eu acho que a maior parte das pessoas que não são digitais, que por acaso estão montando salas por causa da pandemia, elas não vão ficar por muito tempo. Porque manter conteúdo digital dá trabalho”, considera Cândida. 

Ramalho complementa: “O aplicativo se beneficia da situação atual. E a voz aproxima as pessoas. Quando a pandemia acabar, provavelmente as pessoas vão querer se encontrar mais, os eventos e congressos voltarão a acontecer presencialmente, e o aplicativo pode perder essa força que vemos hoje, mas não acho que será o fim dele.”


Fabiana Santos é brasileira e mora em Washington, DC. Jornalista freelance, produtora e editora de vídeos, mestranda em Relações Interculturais e responsável pelo site  Tudo Sobre Minha Mãe. No Clubhouse desde o dia 10 de fevereiro (@fabiana.santos), todos os entrevistados para este artigo foram contactados por meio do aplicativo. 

Imagem sob licença CC no Unsplash por Erin Kwon, modificada com Canvas.