Dicas e desafios sobre cobertura amazônica

Jun 23, 2022 in Reportagem de meio ambiente
Arara na Floresta Amazônica

A cobertura jornalística na região amazônica envolve apurações complexas sobre conflitos, violações do meio ambiente, violações de direitos humanos e corrupção. São crimes que envolvem políticos, grandes empresas e muitos poderes entrelaçados, deixando os jornalistas na linha de frente expostos a situações de risco. O assassinato do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, que faziam um trabalho de investigação na Terra Indígena Vale do Javari, é uma das incontáveis provas.

Por isso, o Fórum Pamela Howard para Cobertura de Crises Globais organizou uma conversa sobre dicas e desafios da cobertura de meio-ambiente na região amazônica com Kátia Brasil, cofundadora e editora da agência Amazônia Real, e Leandro Barbosa, jornalista, ambientalista e parte de um projeto do Instituto Vero de combate à desinformação na Amazônia. O webinar aconteceu na última terça (21). Assista o bate-papo na íntegra no grupo do Fórum do Facebook e leia os principais destaques da conversa abaixo.

Planos de segurança: o jornalista que atua na cobertura amazônica fica muito exposto ao lidar com apurações complexas e um violento jogo de interesses. Por isso, é preciso criar uma série de medidas de proteção para a realização desse trabalho, é importante ter um plano de segurança específico, fazer o monitoramento do profissional em campo, ter seguro de saúde e de vida, além de criar estratégias de segurança jurídica contra possíveis intimidações. 

Influência de poderes é grave: veículos independentes, como a Amazônia Real, evitam receber recursos públicos para escapar da pressão externa de poderes que podem estar envolvidos nos crimes que ocorrem na região. 

Profissionais freelancers têm segurança reduzida: quem trabalha de forma independente costuma ter menos acesso às estruturas de segurança oferecidas pelas redações. Esses jornalistas, que estão na linha de frente, ficam ainda mais expostos e temerosos pela própria vida.  

Quem é do território está ainda mais exposto: os riscos que os jornalistas correm durante as apurações são enfrentados diariamente por quem mora nesses territórios, então é preciso ter cuidado e respeito com as fontes envolvidas nas reportagens para não deixá-las ainda mais expostas.

A mídia independente cresceu e se destaca no suporte dado aos jornalistas: mesmo com menos recursos para a contratação formal de todos os profissionais, a mídia independente costuma ter mais preocupação com suporte e segurança na cobertura amazônica do que veículos tradicionais. É comum que grandes redações não façam um monitoramento atento de quem está em campo, o que aumenta o risco dos jornalistas. 

Como buscar recursos para financiar a cobertura amazônica: algumas opções para mídias independentes e repórteres freelancers são a doação direta dos leitores, financiamentos coletivos, doação de fundações focadas em projetos jornalísticos específicos, editais de financiamento de reportagens, parcerias e relacionamento com organizações que fornecem serviços para jornalistas (como o Repórteres Sem Fronteiras) e apoio de associações de jornalismo (como a Abraji).

Editais de financiamento precisam incluir gastos de segurança: hoje os custos de segurança, como seguro-saúde para a viagem e contratação de transporte confiável, são vitais para a cobertura. Entretanto, muitas vezes não estão previstos nos valores oferecidos em editais de financiamento de jornalismo no Brasil. Apenas um sobrevoo em terras indígenas para registro fotográfico e audiovisual pode custar R$13 mil, por exemplo.

É importante se colocar num lugar de estrangeiro: ao invés de retratar somente aquilo que você acha que deve ser mostrado, deixe que as pessoas daquele território te mostrem o que deve ser visto ou não. É preciso ouvir e entender como as lideranças indígenas querem que as coisas aconteçam, com quem é mais importante conversar, onde é preciso ir, quais são os protocolos de saúde a seguir etc. 

Sempre peça autorização de entrada aos povos indígenas: quem manda no território é a liderança indígena. Você vai entrar na casa deles, então essa é a autorização de entrada mais importante. Hoje a Funai tem um processo de autorização focado em pesquisadores, que nem sempre se adequa às necessidades dos jornalistas.

Não viaje com lideranças indígenas ameaçadas: isso coloca em risco extra o profissional e a própria liderança, que tem que sair do território. Nesse contexto, também é importante evitar meios de transporte emprestados e contratar carros, motoristas e/ou barqueiros próprios para chegar no território em segurança.


Photo de Jaime Dantas no Unsplash