Programa de jornalismo de segurança viária do ICFJ/OMS alcança repórteres de periferia

Oct 9, 2021 in Jornalismo colaborativo
Vias de São Paulo

No dia 17 de agosto de 2021, Dia Nacional da Bicicleta, a Agência Mural de Jornalismo das Periferias publicou a reportagem especial intitulada: Longo caminho a seguir: a cada 4 horas um ciclista sofre acidente na Grande São Paulo. A matéria que incluiu fotos, gráficos e mapas interativos, foi escrita por quatro jornalistas participantes de um treinamento de jornalismo de soluções em segurança viária que eu ministrei junto com a especialista em planejamento em mobilidade urbana, Suzana Nogueira, em junho de 2021. Foram eles: Katia Flora, Cléberson SantosLucas Veloso e Renan Tetsuo Omura.

Como funcionou o ToT

Para criar essa capacitação de seis horas divididas em quatro encontros ao vivo pela plataforma Zoom, eu mesmo passei por um treinamento. Em setembro de 2020, me inscrevi e fui aprovado para participar de uma das três sessões do Road Safety Reporting Training of Trainners (ToT), iniciativa integrante do Programa de Reportagem de Segurança Viária do International Center for Journalists (ICFJ).

Financiado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o ToT teve como objetivo ampliar o  conhecimento de jornalistas em 15 países em desenvolvimento na América Latina, Sudeste Asiático e África. O objetivo é que pudessem criar a própria rede local de repórteres especializados na cobertura de temas relacionados à segurança viária, bem como ajudar a desenvolver uma visão para além da cobertura factual dos “acidentes de trânsito” que vemos diariamente na mídia e que mostram apenas a tragédia em si provocada pelo uso inadequado de veículos automotores.

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No Brasil, por exemplo, a OMS estima que haja 40 mil óbitos ao ano sendo que a maioria das vítimas geralmente são adolescentes e jovens de até 24 anos de idade.

O ToT foi ministrado por duas jornalistas veteranas especializadas em treinamento de repórteres. A uruguaia Mercedes Sayegues, radicada na África do Sul, e Deborah Potter, dos Estados Unidos.

A busca por alunos durante a pandemia

O fato de ser um jornalista freelance me trouxe um desafio a mais: para quem eu ofereceria o meu treinamento? Lembrei-me da Agência Mural, instituição composta por uma rede de jornalistas que produzem matérias a partir dos locais onde moram, que inclui as periferias de São Paulo. Meu primeiro contato com elas, por sinal, aconteceu por causa do ICFJ. Em 2018, eu participei do workshop, “Construindo modelos de jornalismo sustentável no Brasil” realizado num hotel em São Paulo em outubro 2018.

Com a aprovação pelo ICFJ do meu plano de aula e do orçamento desenvolvidos durante a mentoria com a Mercedes, fiz contato com a Cíntia Gomes, diretora institucional da Agência Mural. Minha intenção era treinar repórteres da agência de forma exclusiva. Depois de consultar os colegas da direção da agência, ela me retornou com a recusa: não poderiam encampar aquela atividade internamente, pois naquele momento ela mesma havia sido infectada pelo Novo Coronavírus e toda a agência sofria com a sobrecarga de trabalho resultante dos efeitos que a pandemia de Covid-19 provocava na população.

Jornalistas periféricos beneficiados com o programa

Dessa forma, decidi conquistar alunos e alunas por outras vias. Criei um anúncio, contratei publicidade paga no Facebook e estendi as inscrições para jornalistas da Grande São Paulo e Baixada Santista. Além disso, fui atrás de outras instituições voltadas para o jornalismo de periferia, tal como a ÉNois. Assim como o pessoal da Mural, se propuseram a divulgar o treinamento junto à sua rede. Também contei com a ajuda da União de Ciclistas do Brasil, que publicou o convite no Observatório da Bicicleta.

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Cerca de quinze dias antes de iniciar as aulas, programadas para começar em 9 de junho, eu contava com a inscrição de 10 jornalistas, a maioria de fora da capital paulista. Desse total, seis completaram a carga horária, incluindo duas que trabalham em assessorias de imprensa de entidades relacionadas ao transporte, como o Fernando Henrique, de Indaiatuba e a Marina Fagundes, da cidade gaúcha de Rio Grande.

Vale mencionar que tive uma ajuda importante da Envolverde, uma agência de jornalismo ambiental que se dispôs a publicar matérias produzidas no curso. Com isso, estimulei a produção de mais três matérias além dessa da Agência Mural. A Kátia Flora apresentou soluções para melhorar a segurança de mulheres que pedalam na região do ABC Paulista e o Renan Omura revelou que a prefeitura de Mogi das Cruzes discute um plano cicloviário com ativistas locais para diminuir o número de sinistros de trânsito.


Foto: Maick Maciel no Unsplash