Allvoices: Dando voz a cidadãos globais

بواسطة Zul Maidy
Oct 30, 2018 في Diversidade e Inclusão

Esta é a segunda de uma série de entrevistas na IJNet que pretende examinar a fundo as operações de várias plataformas online de notícias, iluminando o futuro da mídia global como previsto por pensadores de todo o mundo. Para ler a primeira entrevista sobre o OhMyNews, clique aqui.

Em meio à rápida mudança na mídia jornalística, as plataformas multimídias online do mundo todo estão competindo para garantir seus nomes no mapa que continua a crescer. Algumas estão se saindo melhor que outras em uma época em que o sucesso depende do caráter único da marca, modelo ou estratégia de negócios da organização por trás da plataforma.

Incorporado em abril de 2007 e lançado recentemente, em meados de 2008, o Allvoices pretende ser a primeira mídia verdadeiramente pública, de acordo com sua declaração de missão. A plataforma online de mídia cidadã global permite que indivíduos ou cidadãos de todo o mundo possam compartilhar suas perspectivas sobre notícias de qualquer lugar e a qualquer hora.

O conteúdo de notícias distribuído pelo Allvoices não é editado por pessoas, mas processado através de algoritmos patenteados, ou softwares de solução de problemas que   entrelaçam o conteúdo do jornalista cidadão com feeds da mídia tradicional.

Na semana passada, o redator da IJNet Zul Maidy entrevistou Amra Tareen, fundadora do Allvoices. De 2000 a 2006, Amra trabalhou  para o Sevin Rosen Funds com oportunidades de investimento em infraestrutura de comunicações e transportadores de nova geração. Sua carreira em telecomunicações inclui posições gerenciais na Ascend Communications, Lucent Technologies e Telstra Australia.

Amra, originalmente do Paquistão e Austrália, fez seu MBA na Universidade Harvard e é bacharel em engenharia eletrônica e ciência de computação pela Universidade de New South Wales, Austrália.

ZM: Você poderia descrever a essência do Allvoices?
AT: A maioria dos sites de mídia cidadã é local. No Allvoices temos 33.000 páginas de cidades. Quando você está informando de uma cidade, publica [a matéria] na página desta cidade, e então tentamos determinar se é algo novo, válido ou verossímel. O artigo se torna popular quando mais e mais pessoas se interessam por ele. Quando o artigo alcança popularidade no Allvoices, bem como na Internet, pode migrar da página de cidade para a página de mundo.

ZM: O que motiva cidadãos a contribuir para o Allvoices?
AT: As pessoas podem criar sua própria marca no Allvoices, e com o crescimento da sua audiência, o site ajuda a construir uma comunidade enquanto também a gerar tráfego para os artigos. Quando você atrai leitores, tem um alcance maior e recebe um CPM (custo por mil impressões de página) em renda publicitária.

Se você é um cidadão, jornalista, blogueiro ou estudante, se você é um ótimo escritor e está contribuindo, pode ganhar dinheiro. O objetivo do Allvoices é ter um custo baixo de estrutura, engajar a comunidade e os cidadãos para não empregarmos pessoas, e usar tecnologia de algoritmos para permitir que possamos partilhar nossa renda com nossos usuários.

ZM: Como funciona a pontuação de credibilidade de cada artigo de notícia?
AT: Quando você envia um artigo de notícia para o Allvoices, tentamos determinar sua geografia e qual categoria de notícia ele se encaixa. Então, tentamos identificar as palavras-chaves. Com base nestes parâmetros, começamos a procurar no Allvoices quem mais escreveu. Se há mais alguma pessoa cobrindo a mesma matéria, então dizemos "está bem, isto pode ser verossímel". A partir daí, procuramos por matérias de fontes tradicionais de notícias e artigos de blogueiros. Assim damos uma pontuação de credibilidade, que se autoajusta.

ZM: Quem decide? Quem são "Nós"?
AT: A tecnologia. São os algoritmos. Funcionamos com base na comunidade ou automatizados, com base no software. Tanto a comunidade como os algoritmos estão envolvidos na decisão sobre a pontuação de credibilidade de cada artigo de notícia. Se você escreve algo, um algoritmo dá uma pontuação alta. E a comunidade pode ajudar o algoritmo e dizer que o algoritmo julgou errado, fazendo descer na classificação. Então o algoritmo leva isso em consideração. É dinâmico.

ZM: O que acha que faz o Allvoices único?
AT: O modelo do Allvoices é muito diferente do modelo de jornal que é gerenciado de cima para baixo. Não tem um editor, nem mexe com seu conteúdo. Classificamos seu conteúdo com base na comunidade, Internet e todos os nossos algoritmos, mas nunca, nunca mudaremos seu conteúdo. Queremos ouvir a sua voz. Não queremos manipular ou por palavras na boca das pessoas. Somos completamente imparciais.

Não queremos editar e não queremos ter uma inclinação. Queremos deixar as pessoas tomarem suas próprias decisões e fazer outras vozes serem ouvidas, porque acredito realmente que as pessoas têm perspectivas diferentes sobre as mesmas notícias em diferentes partes do mundo. O Allvoices depende muito da localização geográfica e se baseia na localização.

Todo o conteúdo que você contribui para o Allvoices pertence a você. Nós somente distribuímos, assim como o YouTube. Seu conteúdo não está sozinho. Uma vez que você escreve, coletamos o artigo e agregamos os vídeos e imagens. Fazemos um conteúdo ricamente multimídia e criamos uma comunidade. Em média, o usuário registrado do Allvoices recebe 300 visitas por página.

ZM: Quantas pessoas fazem parte da equipe do Allvoices?
AT: Temos sete pessoas na equipe. Tenho um time de engenheiros aqui, analistas de software, programadores, e continuamos a acrescentar recursos para tornar mais fácil aos nossos usuários contribuir, adicionar mais aplicações. É um processo contínuo. Mas também temos empreiteiros incluindo especialistas em UI (User Interface), designers de Web e servidores de operação que contratamos de vez em quando.

ZM: Há alguma interação humana entre o Allvoices e a comunidade?
AT: Temos dois tipos de interatividade humana. Uma é a interação da comunidade entre usuários e repórteres. A outra intervenção humana é quando nosso gerente da comunidade tenta resolver conflitos entre membros da comunidade. Esta é a pessoa no Allvoices que pode resolver problemas. É mais como uma ajuda ao consumidor.

Se algum produto não funciona, ou se as páginas não estão publicadas, eles enviam todas as mensagens à gerente da comunidade, e ela tentará resolver. Ela está sempre ligada.

ZM: Dada a oportunidade, vocês poderiam oferecer capacitação a seus colaboradores?

AT: Se a nossa comunidade quisesse, enviasse mensagens à gerente da comunidade, poderíamos fazer uma parceria com jornalistas locais para ajudá-los. Uma boa coisa sobre ter um negócio iniciante é que você está sempre melhorando e aproveitando ideias que possam lhe ajudar a crescer.

ZM: Acha que o Allvoices alcançou seu potencial máximo?
AT: Não mesmo. Acabamos de começar. A companhia foi criada em abril de 2007 e começamos o desenvolvimento em agosto. Lançamos o site para o público em julho de  2008.

Em março, tivemos mais de dois milhões de visitantes únicos em um mês. Então estamos indo muito bem. Agora preciso atrair mais escritores e usuários registrados, ter mais repórteres contribuindo para o Allvoices. Em termos do alcance da contribuição e tráfego, falta muito ainda. Estamos só começando, e queremos que pessoas no mundo todo contribuam para o Allvoices.

Atualmente temos pessoas informando de 167 países.

ZM: Em que maneiras acha que o Allvoices pode crescer?
AT: Para ter uma ampla cobertura realmente local e global, você tem de potencializar as pessoas que estão lá, porque você nunca vai poder ter escritórios globais e todas essas outras pessoas só para você. As pessoas vão estar em locais diferentes e eles vão mudar. Portanto, eles devem receber pagamento por aquilo que fazem, em vez de ter jornalistas o tempo todo na sua folha de pagamento.

Quanto mais você escreve um conteúdo bom, mais terá fãs, uma boa reputação, e sua credibiliade irá aumentar. Isso se desenvolve e gera retorno.

ZM: O que a levou a criar o Allvoices?
AT: Eu era uma empreendedora capitalista. Depois dos ataques terroristas de 9 de setembro, por ser uma mulher muçulmana, eu senti que a mídia tradicional classificava todos como terroristas. Eu não sou terrorista. Meus filhos não são terroristas. Então foi minha missão criar um site de mídia onde todas as vozes podiam ser ouvidas, não importando de onde vêm.

ZM: Qual é a sua visão sobre o futuro do cenário da mídia jornalística?
AT: Acho que sempre haverá jornais, mas talvez amplamente em formato eletrônico. Não sei o que vai acontecer com a mídia tradicional, porque não sou da indústria de notícias. Sou consumidora de notícias e realmente quero habilitar as pessoas.

Acredito que o cenário da mídia de notícia irá mudar de formato, mas sempre precisaremos de jornalistas. Sempre precisaremos de reportagem investigativa. Algo vai evoluir, e eu não sei o que vai ser. Mas ainda acho que pessoas como você continuarão a ser bem-sucedidos não importa como muda a indústria.

Eu era da indústria de telecomunicações e aprendi que em todas as indústrias é como um pêndulo. Primeiro sobe, depois desce. Então se reinventa. Os tempos mudam, mas as pessoas mudam junto.

Jornalistas continuarão a ser requisitados, mas apenas por diferentes instituições. Em geral, penso que é a melhor hora para ser jornalista.

Para acessar o AllVoices, visite (em inglês) http://www.allvoices.com/.