A quarta edição do Festival 3i, organizado pela Associação de Jornalismo Digital, aconteceu no Rio de Janeiro entre os dias 5 e 7 de maio, e trouxe discussões sobre o ecossistema da mídia e caminhos para um jornalismo mais inovador, inspirador e independente - daí os “3i”.
O evento reuniu mais de 70 palestrantes convidados de diferentes estados do Brasil e também de outros países. O presidente da Fundação Gabriel García Márquez Jaime Abello abriu oficialmente o evento. “O jornalismo inovador não pode esquecer que o interesse público ainda é sua vocação fundamental”, disse Abello. Confira algumas das principais ideias e novidades da área.
Redes e identidades
Um entendimento predominante entre os participantes foi a ideia do trabalho em conjunto para fortalecer os veículos nativos digitais. Com isso, a comunicação e a formação de redes hiperlocais para atender territórios que muitas vezes são ignorados ou esquecidos por conglomerados de mídia é muito importante. Claudia Ferraz, comunicadora indígena da Rede Wayuri que une comunicadores da região do Rio Negro, na Amazônia, para produzir matérias em língua nativa, é um exemplo desse trabalho. “Nós temos condições de falar por nós mesmos”, diz.
O jornalismo periférico também esteve muito presente no festival, com grupos como Periferia em Movimento, Voz das Comunidades e Rádio e TV Quilombo Rampa. Um dos destaques nas discussões foi a criação de novas representações sobre as comunidades, deixando de lado os esteriótipos e apresentando a periferia de maneira mais rica e diversa.
Compromisso ético
A jornalista Fabiana Moraes defendeu que os jornalistas reflitam mais sobre subjetividade como uma questão coletiva para, assim, construir uma objetividade qualificada. “Não temos como discutir ética usando as mesmas regras do jornalismo tradicional”, aponta. É preciso mais responsabilidade e compromisso com um jornalismo diverso.
Outra questão é o reconhecimento da autoria no jornalismo. Não é porque o conteúdo é de nativos digitais que a cópia está liberada. É preciso sempre citar o crédito quando for repercutir uma reportagem de outro veículo, lembra Paula Miraglia, do Nexo. A diretora também alertou que publieditoriais e anúncios publicitários semelhantes a notícias deveriam estar separados do conteúdo noticioso, um princípio que é esquecido por muitos portais.
Recursos diversificados
Um modelo de negócios diversificado é saudável para os veículos jornalísticos. A sustentabilidade financeira deve ser pensada de forma holística e integrada ao propósito da organização, avalia Vanina Barghella, diretora regional do International Fund for Public Interest Media na LATAM. A diretora também acredita que, além da filantropia e do público, o jornalismo pode buscar recursos em fundos governamentais e deveria também perder o receio de recorrer às empresas, sem esquecer de sempre manter a transparência com o público.
Na hora de mostrar os resultados dos projetos financiados, é comum que os veículos apresentem aos financiadores impactos mensuráveis, como o número de visualizações da reportagem, por exemplo. Mas nem sempre o impacto pode ser medido de forma tão objetiva. “Às vezes, só o fato de o veículo continuar existindo já é um impacto”, diz Sameer Padania, da Macroscope, instituição voltada para fomentar o financiamento ao jornalismo, inclusive em países do sul global. Para Graciela Selaimen, especialista na área, os publishers podem propor aos financiadores novas formas de mensurar essa repercussão.
Regulação das plataformas
Um consenso no Festival 3i foi a necessidade de regulação das plataformas digitais, incluindo a remuneração de veículos jornalísticos pelo conteúdo reproduzido nestas plataformas. Taylor Owen, diretor-fundador do Centro de Mídia, Tecnologia e Democracia da Universidade McGill, conta que em países como Austrália e Canadá, essa questão já avançou bastante, mesmo com uma investida das big techs contra os projetos de lei. Já na Europa, a transparência sobre os acordos feitos entre publishers e redes é uma questão central.
Atualmente, a falta de regulação acaba facilitando que discursos de ódio e desinformação circulem livremente nessas redes, sem que as empresas atuem de forma mais rápida para barrar as mensagens. Para Francisco Brito Cruz, do InternetLab, é fundamental que o projeto de lei defina um órgão regulador, com corpo técnico qualificado. Caso contrário, as questões podem acabar sendo direcionadas para o Judiciário.
Inteligência Artificial veio para ficar
Se já há quem divida os tempos entre Antes do Chat GPT e Depois do Chat GPT, como fica o jornalismo nessa avalanche de novas ferramentas de inteligência artificial? O Festival 3i trouxe alguns cases de usos inteligentes pela tecnologia machine learning no jornalismo. O essencial, explica Tshepo Tshabalala, gerente da organização britânica JornalismAI, é usar a tecnologia a nosso favor para resolver problemas dentro da redação, desde uma pergunta que gera uma pauta até questões de gestão e marketing, por exemplo. Para Jonathan Stray, cientista sênior na Universidade de Berkeley, as redações devem criar códigos de ética e informar ao público como e quando utilizam a AI.
Foto: Any Duarte/CasaLab
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