As transformações que impactaram a mídia, especialmente nas duas últimas décadas, vêm despertando entre os jornalistas a indagação de como o mercado de comunicação vai se sustentar daqui em diante. É fato que o nosso ecossistema profissional absorve há anos os prós e contras da digitalização nos hábitos de consumo de informação da sociedade. E os podcasts aparecem como uma opção crescente no Brasil.
O crescimento dos podcasts
A pandemia obrigou o mundo a remodelar o convívio social, a rotina de trabalho e lazer. Dessa maneira, o meio digital se confirmou como uma tendência irreversível de conexão entre as pessoas e os fatos. Os podcasts, por funcionarem como uma companhia no ambiente doméstico imposto pelo isolamento social, mostraram a sua força.
Cerca de 28 milhões de pessoas no Brasil (17% da população) adotaram o hábito de ouvi-los em 2020, um crescimento de 33% em relação ao ano anterior, quando esse número era de 21 milhões de ouvintes. O aumento detectado em pesquisa feita pela Kantar Ibope sob encomenda do Grupo Globo sublinha os motivos pelos quais a maioria das redes informativas vêm direcionando investimentos a conteúdos exclusivos em áudio. O rádio, que já teve sua morte decretada em vários momentos, se revigorou com a lufada de ar trazida pelos podcasts.
Nesse momento em que o papel do jornalismo e da comunicação das empresas públicas e privadas ganhou novo protagonismo no dia a dia das pessoas, surgiu a ideia do Briefing, podcast criado para discutir os rumos da comunicação empresarial e da imprensa. Decidimos tornar públicas discussões antes restritas a um círculo limitado de jornalistas, publicitários e profissionais da área.
Alojado nesse meio em expansão, o Podcast Briefing tem em sua pauta desde temas quentes como a ciência de dados aplicada à comunicação até debates permanentes e necessários como a tensa relação entre o poder e a imprensa. Dois assuntos que perpassam a área da comunicação e do jornalismo de forma transversal têm sido recorrentes em nossas conversas: quais modelos de negócios podem prosperar e como enfrentar a concorrência das fake news.
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Exemplos como os portais Nexo (que opera sem anunciantes) e Jota (especializado em conteúdo jurídico) se sobressaem enquanto formatos sustentáveis nessa nova era que tem a assinatura digital como um dos pilares de sustentação. Ambos nos concederam entrevista para contar suas experiências. Uma das saídas é investir na segmentação do público, estratégia há tempos adotada no mercado editorial, mas agora fortalecida com inovadoras possibilidades de abordagem a partir de ferramentas tecnológicas. Esta segmentação tem o apoio de Marcelo Rech, presidente da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), ao refletir sobre a sobrevivência do jornalismo em bate papo conosco.
O fenômeno global das notícias fraudulentas foi assunto para Tai Nalon, diretora-executiva da agência de checagem Aos Fatos (aliás, outro modelo recente de sucesso), que num dos nossos episódios, lembrou a tendência das pessoas em buscar narrativas como soluções aos seus problemas. E, assim acabam menosprezando os fatos embasados em evidências – uma das razões que explicam a ascensão de sites propagadores de desinformação.
A maioria dos podcasts brasileiros ainda precisa de anunciantes
Bem como a maioria dos podcasts brasileiros (52,4%), o Briefing ainda não dispõe de apoiadores ou patrocinadores.Trata-se de um investimento pessoal. Embora não proporcione um retorno financeiro, nos oferece a oportunidade da troca de conhecimento referenciada por qualificados profissionais. No país, só 3,8% dos produtores contam com anúncios. Os dados são da Podpesquisa 2020/2021, da Associação Brasileira de Podcasters.
No nosso caso, a captação das entrevistas é feita via plataforma de transmissão de vídeo e a edição em parceria com o estúdio Johnny Days CX Sound, especializado em produtos de áudio. Para quem pretende tirar um podcast “do papel” e fazer com as próprias mãos, há uma série de aplicativos de edição e publicação. Para custear as despesas, uma alternativa pode ser o uso de sites de financiamento coletivo, em que os ouvintes podem colaborar com qualquer quantia.
Como se sabe, não há uma fórmula pronta para a monetização de podcasts. Afinal, formatos independentes de produção requerem criatividade, além de marcas e empresas sintonizadas com o valor da comunicação.
André Rocha e Lucas Mota são coidealizadores do Podcast Briefing. Jornalistas, atualmente trabalham com produtos de comunicação empresarial, como a Revista Problemas Brasileiros (www.revistapb.com.br).
O Podcast Briefing é publicado toda quarta-feira a cada 15 dias nas principais plataformas de áudio. A programação é divulgada no Instagram (@podcast.briefing) e no Twitter (@PodcastBriefing). Ideias de pauta são bem-vindas. Escreva para podcast.briefing@gmail.com.