Dicas para iniciar um podcast do criador do Vida de Jornalista

بواسطة Marina Monzillo
Apr 15, 2021 في Jornalismo multimídia
Logo do Vida de Jornalista

Em parceria com a nossa organização-matriz, o Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, em inglês), a IJNet está conectando jornalistas com especialistas em saúde e líderes de redação por meio de uma série de seminários online sobre COVID-19. A série faz parte do Fórum de Reportagem sobre a Crise Global de Saúde do ICFJ.

Este artigo faz parte de nossa cobertura online sobre COVID-19. Para ver mais recursos, clique aqui.


Os podcasts voltaram a ser tema de um webinar do Fórum de Reportagem Sobre a Crise Global de Saúde, depois do grande interesse na live com Magê Flores, editora e apresentadora do Café da Manhã, da Folha de S. Paulo, realizado há algumas semanas.  

Desta vez, o convidado foi Rodrigo Alves, responsável pelo Vida de Jornalista, sobre bastidores da profissão. Ele também já produziu e apresentou o 2 Pontos, sobre basquete, no Globo.com. O jornalista também está abrindo uma produtora e promove oficinas de podcasts para quem quer se aventurar no formato. 

O webinar “Do roteiro à divulgação, os passos para fazer um podcast” ocorreu em 14 de abril e trouxe detalhes de como criar conteúdos em áudio. 

 

Veja a seguir os principais pontos da conversa. 

Entrando no mundo dos podcasts

  • Alves começou contando que aprendeu a fazer podcast na prática. “Foi 100% mão na massa, faço tudo sozinho, na base de tutorial de YouTube; aprendi como tirar barulho de obra, de ar-condicionado”. Ele falou que cursos de roteiro audiovisual lhe ajudaram a entender como montar um formato de contar histórias. “Fiz antes, não para o podcast. Meu maior aprendizado veio das referências — isso é fundamental — estar atento ao que está rolando, ouvir podcasts sobre o seu tema e sobre outros temas também.” 

  • Alves comentou que existe uma gama de formatos e até híbridos, em que esses formatos se misturam, como o próprio Vida de Jornalista. Ele listou: mesa redonda, o mais popular, ficção, resumo/análise de notícias do dia, entre outros. "Quando você começa a pesquisar, precisa entender o que funciona para o que quer fazer. É importante planejar isso antes de lançar o podcast.” 

  • Como há uma quantidade enorme de podcasts, a primeira coisa é exatamente pensar que tema e de que forma quero abordar, ensinou o jornalista.  “Por exemplo, existem centenas de podcasts de cinema bons, feitos por gente boa. Qual é o recorte que você vai dar para ganhar seu lugarzinho ao sol? Por que a pessoa vai escolher o seu? Você está disputando o tempo da pessoa”. Ele afirmou que é importante ter o seu diferencial bem estruturado, e também quem vai fazer o trabalho com você, se vai fazer sozinho, como vai caber na sua rotina. 

  • O formato de conversa, a chamada mesa redonda, é mais simples de fazer, mas não significa que seja fácil, segundo ele. “Vai tomar menos tempo, a fala é mais espontânea, não tem de escrever tudo antes. O podcast 2 Pontos, a gente gravava, editava e colocava no ar em três horas. Mas, mais uma vez, talvez a história que você queira contar não caiba nesse formato”. Em resumo, não adianta fazer o formato mais fácil, se não é o que você acredita e está na pilha de fazer. 

  • Alves também abordou a importância de entender com quem você vai falar. “Para mim, por exemplo, está muito claro que meu público é jornalista e estudante de jornalismo. E eu sou o meu público também, meus amigos são jornalistas. Entendo o que gostam de consumir. Se fosse outro público, teria de ter feito uma pesquisa maior”. Podcast é, comparativamente, um produto mais específico, e Alves sabia que sua pegada era de nicho. “Investi muito na relação com o público, porque sabia que não teria uma grande audiência, mas queria que o engajamento fosse bom.” 

  • O jornalista explicou que cuidar da audiência não é jogar um post no Twitter e esquecer, é bom responder a todos. “O mínimo que posso fazer é tratar bem as pessoas, além do mais, feedback é importante”, comentou ele, que já chegou a fazer encontros presenciais antes da pandemia, além de virtuais. “Foi uma experiência super legal, alimentar essa relação com o público cria um senso de comunidade. O Vida não é um sucesso de audiência, tem uma média de 3 mil ouvintes, mas tem uma comunidade forte. Isso é o que mais me deixa feliz e tento cultivar.” 

Foro de Teresina e Vida de Jornalista

  • Alves comentou, a pedido da audiência, sobre o podcast político da revista Piauí, Foro de Teresina: “É uma mesa redonda mais roteirizada, dividida em blocos, não é exatamente ligar o microfone e conversar, mas também não é tão detalhado como um documental narrativo". Acrescentou que, no final, o roteiro acaba sendo a alma de tudo, mesmo em uma conversa, porque você tem de combinar o que vai fazer, a ordem dos temas, se guiar. “No Teresina, tem um DNA de episódio bem definido”, concluiu. 

  • Ele falou mais da sua própria experiência, com o Vida de Jornalista. Na terceira temporada, o podcast tem se preocupado em sair do eixo Rio-São Paulo, e fez recentemente um episódio que rodava a Região Norte. “Faço um levantamento de diversidade da temporada anterior, para ter um controle de como está essa divisão, que é algo importante para mim. Achei que precisava atacar a diversidade geográfica. Foi uma decisão abrir a temporada com isso”, explicou. Para ele, a imprensa do Sudeste, generalizando, é muito autocentrada. “É um ponto que precisamos prestar atenção, devemos tratar as outras regiões como tratamos a nós mesmos, o que é algo até óbvio de falar. Quanto mais diverso eu conseguir ser no podcast, melhor.” 

  • O jornalista publica o roteiro de todos os episódios para quem quiser ver, por meio de um link nos episódios — como este recente. Ele disse que assim amplia o conteúdo para que o máximo de pessoas possa consumir, promove a inclusão de quem tem dificuldades auditivas e compartilha informações, já que tem muita gente interessada em fazer podcast, entender como se faz, como é o roteiro, a pauta e a edição. “Compartilho a maneira como eu faço, porque não tem muita regra: é o que funciona para você. É um trabalhinho a mais, mas acho importante, para entender como a ideia virou áudio. O roteiro está no meio do caminho.”

Uma hora para cada minuto

  • Alves cronometrou cada etapa de produção do Vida de Jornalista. “Essa conta é meio chocante”. Ele disse que, como realiza o processo todo sozinho, as etapas se atropelam, além de ocorrerem ao longo dos dias, enquanto faz outras coisas. “É tudo muito picotado, mas o resultado bateu um pouco com o que imaginava: 40 minutos de episódio deu 40 horas de produção. Cada minuto precisou de uma hora. Publiquei no Twitter a divisão por etapas”, contou. Ele deu alguns exemplos: a pauta e a pré-produção, quando há a pesquisa sobre o tema, de entrevistados, áudios e músicas, deu 8 horas e 5 minutos. A apuração e a produção de fato, que é mandar perguntas para o entrevistado,  explicando o episódio, ouvir a resposta, transcrever para organizar o roteiro, fazer o esqueleto do roteiro, misturadas com a gravação de locução e edição, resultou em 15 horas e 30 minutos. A revisão foi a parte que mais surpreendeu Alves, deu 5 horas. “Achei muito, mas leva uma hora só para ouvir o episódio. Dizer: ‘botei o ponto final é fake, sempre vai ter ajustes’.”

  • Depois ainda tem um período de trabalho dedicado à publicação, divulgação, criação de arte e trailer.  “Claro que são cálculos aproximados e não quer dizer que todo podcast vai levar isso. Dá pra fazer menor, mais simples e caber na sua rotina, mas recomendo fazer, pelo menos uma vez, esse exercício, porque até para buscar patrocínio, edital, anúncio, você precisa saber quanto gasta de tempo.”

Equipamentos, sonoplastia e direitos autorais 

  • “Dá para fazer com pouco”, declarou ele que, desde o início da pandemia, tem trabalhado só remotamente. “Pode começar gravando por celular, mas não significa que precisa ser assim pra sempre. Pintou uma grana? Compra um microfone de lapela ou um microfone USB, mas nem recomendo o condensador, porque ele pega o som ambiente”, orientou, acrescentando que os microfones dinâmicos costumam resolver bem. “Dá pra ir investindo aos poucos e buscando a melhora. Quando comecei o Vida, era diferente. Você vai notando o que precisa evoluir.” 

  • “Eu gravo a ligação pelo Zoom, mas sempre peço para a pessoa gravar também pelo gravador do celular e me mandar, porque assim a gente garante um áudio limpo, que não depende da conexão”, ensinou o jornalista. O Zoom grava em faixas separadas o áudio do entrevistado e o seu; isso é importante para a edição. Tem programas que não gravam a ligação, gravam no computador e, quando a gravação acaba, exporta-se o arquivo. Assim, também não importa se a conexão está boa ou ruim. 

  • Alves usa a biblioteca de áudio do YouTube nas trilhas do podcast e já arriscou a fazer sua própria, pelo Spotify. “É mais trabalhoso mas divertido”. Ele alertou sobre a regra dos direitos autorais: música de autor não pode usar, a não ser que você consiga autorização, mas não é só do artista, tem a gravadora também. "É um risco baixo, mas já aconteceu de um podcast sair do ar no Spotify por causa de direitos autorais". Ele explicou que já usou músicas comerciais quando fazia sentido na narrativa, a música era parte da história, mas, mesmo assim, é arriscado. Ele também ressaltou que é um mito que usar poucos segundos não dá processo. “Juridicamente não existe isso, tem de tomar cuidado.” Já o uso de matérias jornalísticas está liberado. 

  • Em relação a efeitos sonoros, ele mais uma vez recomendou a biblioteca do YouTube. Para edição, ele usa o programa Adobe Premiere, que é, na verdade, um editor de vídeo, mas listou algumas opções: Audition, Audacity e Soundtrack


Marina Monzillo é jornalista freelancer com 20 anos de experiência em diversas áreas, como cultura, turismo, saúde, educação e negócios.

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