Dicas para jornalistas investigativos freelancers

por Rowan Philp
Nov 11, 2019 em Jornalismo investigativo
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Então você gastou seu próprio dinheiro para reportar em campo sobre uma matéria de investigação para a qual possui um contrato modesto. Este é o momento — talvez o único momento — em que você terá a oportunidade de obter um lucro líquido real e colher os frutos para o próximo inverno financeiro.

Jornalistas investigativos freelancers precisam adquirir o hábito de buscar várias oportunidades para vender seu trabalho em cada expedição de reportagem, se quiserem prosperar ou mesmo sobreviver.

Por exemplo, um repórter contratado em campo também pode fazer uma reportagem pré-agendada pelo Skype para uma emissora internacional; buscar material simultâneo ou relacionado com sua matéria para um artigo futuro; obter uma entrevista com um funcionário de uma publicação comercial relevante; gravar áudio para rádio; reportar em outros idiomas sempre que possível; propor novos artigos; e conseguir  contatos à margem da matéria principal para uma barra lateral de investigação fora da agenda.

Obviamente, freelancers têm o benefício da independência editorial e uma rica trajetória de coberturas importantes fora da agenda noticiosa que remonta à história do massacre de Mym Lai, de Seymour Hersh. Mas também precisam extrair valor de cada esforço de coleta de notícias, porque a tarefa deles é simplesmente a mais difícil de todas as profissões da mídia.

O ex-correspondente do Center for Investigative Reporting Mark Schapiro — agora professor de jornalismo na Universidade da Califórnia, Berkeley — disse durante o painel "Negócios de Freelancing" na 11ª Conferência Global de Jornalismo Investigativo que, acima de tudo, ter agilidade entre estilos, assuntos, apresentação e formatos de mídia foi a estratégia mais importante para uma carreira viável.

"É preciso lembrar que as histórias menos complexas costumam pagar muito melhor", disse Schapiro. “Vivemos em um mundo multimídia. Lembre-se de que você pode triplicar sua renda se puder vender para um programa de TV, trabalhando com um produtor, que terá prazer em ajudá-lo com a pauta.”

Carolyn Thompson, jornalista freelancer de dados com sede em Nairóbi, disse que as colaborações agora são tão importantes para repórteres independentes quanto para organizações de notícias.

Thompson fazia parte de uma equipe que — usando uma enquete inovadora via celular — revelou como as unidades governamentais expulsaram milhares de pessoas de suas terras no sul do Sudão.

"Especialmente quando você trabalha sozinho em uma região difícil, precisa encontrar outros freelancers para uma espécie de rede de suporte", disse Thompson. “Foi incrivelmente útil para mim. Eu trouxe    habilidades de dados e conexões a publicações internacionais, e freelancers com os quais eu me conectei contribuíram com contatos e perspectivas locais. E também gostamos de trocar ideias.”

Por sua vez, Emmanuel Freudenthal, que produziu várias investigações solo em toda a África, destacou que mesmo estratégias bem-sucedidas como essas só podem acontecer se os freelancers têm um plano de negócios sólido.

No entanto, ele ressaltou que, apesar de todos os desafios do estilo de vida — a falta de assistência médica, férias remuneradas e um salário regular —, ser jornalista investigativo freelancer continua a valer a pena. 

"Há, de fato, várias vantagens, acredite ou não", disse ele. "Se um editor recusar, a história não morre:  você pode simplesmente ir para outro editor e depois outro. E não há editor dizendo para você largar uma história que talvez esteja demorando. E não há política interna! ”

Dicas para encontrar histórias

  • Leia ou assine jornais menos conhecidos, revistas especializadas e publicações locais. Schapiro disse: “Todo repórter está lendo o New York Times, o Guardian e outros. Você precisa ler o que outros jornalistas não estão lendo.”
  • Use os recursos gratuitos das bibliotecas e o conhecimento dos bibliotecários. Um repórter na sessão disse que a dica de um bibliotecário sobre como filtrar resultados personalizados no mecanismo de pesquisa LexisNexis da biblioteca foi o que o levou a um trabalho de reportagem de dois anos.
  • Use seus amigos e parentes para discutir suas ideias e ângulos da história e pergunte a eles a melhor história que eles ouviram. "Qual a história mais interessante que você ouviu em um jantar?" É uma pergunta útil.
  • Leia os registros judiciais e os blogs sempre que possível e, em seguida, pense em quaisquer padrões que surjam.

Dicas para gerenciar seus negócios

  • Use ferramentas de gerenciamento online gratuitas para administrar seus custos, como o Smart Receipts, para organizar suas despesas. Freudenthal também deve recomenda o uso de aplicativos que lembram você e seu cliente dos prazos das faturas.
  • Depois de criar um orçamento para o seu negócio freelance, tente identificar uma taxa mínima pelo seu trabalho e esteja preparado para recusar projetos abaixo desse número.
  • Explore possíveis oportunidades de subsídios através de sites como a IJNet e a Global Investigative Journalism Network, onde você pode ver como seu trabalho pode corresponder ao que os financiadores desejam.
  • Liste as ideias de pauta em termos de renda projetada e tempo que levariam e retorne às histórias e recursos menos urgentes quando o armário da grande história ficar vazio.
  • Use seu tempo de férias não remunerado para descansar, em vez de usá-lo para administrar seu negócio ou tentar uma matéria de viagem ininterrupta. Você precisará de baterias recarregadas para os desafios futuros.
  • Use as mídias sociais para promover seu trabalho e a si mesmo — mesmo que isso pareça contrário à sua natureza como jornalista. Verifique se o seu e-mail e áreas de experiência estão claramente visíveis no seu site. Revise seu trabalho anterior e lista de contatos e veja se você pode se posicionar como especialista em um determinado assunto.
  • Proponha pautas quando você tem a ideia sólida da história ou a "história mínima" em mãos— não depois de gastar tempo e recursos perseguindo a história inteira.

Dicas para maximizar seus ganhos

  • Leia ou visualize o maior número possível de veículos de comunicação e domine seus estilos.
  • Avalie se você pode dividir sua história em partes para que possa vender ou repacotar individualmente.
  • Considere versões multimídia da mesma história e não se deixe intimidar por formatos de mídia desconhecidos. Estabeleça acordos permanentes com produtores de emissoras de TV e rádio para fazer reportagens no local, que geralmente pagam muito melhor.
  • Tente evitar contratos de pagamento por palavra se você for um escritor, pois as histórias de investigação geralmente não funcionam assim: levam mais tempo para verificar ou são cortadas pelo editor. Em vez disso, tente negociar contratos nos quais você recebe uma quantia semanal ou mensal garantida pelo tempo de pesquisa, incluindo uma garantia que lhe pagarão mesmo que o artigo não seja publicado.  
  • Estabeleça prazos pessoais firmes e respeite-os.

Este artigo foi publicado originalmente pela Global Investigative Journalism Network (GIJN) e reproduzido na IJNet com permissão.

Rowan Philp foi repórter-chefe do Sunday Times da África do Sul por uma década, período marcado por bolsas no Washington Post e MIT. Philp relatou em 27 países, e sua reportagem de 2014, revelando o esforço secreto da Rússia para vender oito reatores nucleares ao governo sul-africano, foi considerado um dos fatores na rescisão do acordo no ano passado. Ele é colaborador regular da GIJN.

Imagem principal sob licença no Unsplash via Luke Chesser.