Em novembro de 2023, publiquei no Spotify para podcasters os três episódios da primeira temporada do podcast Roda e Passe, um novo produto do Jornal Bicicleta, o website que fundei 2018 com o intuito de me tornar um especialista em jornalismo de mobilidade e segurança viária.
O material é resultado da minha seleção e processo de mentoria do Programa Acelerando Negócios Digitais, do ICFJ, que selecionou 160 projetos de jornalistas e redações independentes de modo a incentivar novos modelos de negócio de mídia.
Para mim, foi um grande desafio, já que nunca tinha produzido reportagens nesse formato. Com a ajuda de um mentor, durante quatro meses desenvolvi todos os passos necessários para a produção e divulgação de cada episódio dentro do contexto de uma série.
Meu projeto foi selecionado na categoria especialista, de jornalistas individuais. Como produzi tudo sozinho, aprendi vários macetes. Eles vão me ajudar, quando fizer a segunda temporada, a não cometer erros bobos, que muitas vezes ocorrem quando já estamos cansados de ouvir a própria voz.
Em geral, para produzir os programas de áudio, nossa experiência como jornalista de texto já é 50% do caminho. Vamos ter que definir um tema, pesquisar o assunto, escrever as pautas e marcar as entrevistas, tal como em qualquer situação de reportagem. O que pega são os outros 50%, que envolvem a captação, a edição e a divulgação da temporada e de cada episódio.
Captação
Como eu optei pelo formato da reportagem narrativa, que envolveu me deslocar ao local de trabalho das entrevistadas, uma captação de áudio limpa vai depender de um bom gravador e, mais ainda, de como tirar o melhor dele.
Eu escolhi o gravador de mão Zoom H1n. Um equipamento com bom custo x benefício com preço a partir de 900 reais. Ele fez toda a diferença no resultado dos podcasts, pois você pode aumentar ou diminuir o ganho da captação sem precisar se aproximar ou se afastar da fonte. Basta direcioná-lo para a boca dela. Ele possui uma tela para monitoração visual e também permite plugar um fone de ouvido para acompanhar a gravação.
É preciso ter cuidado ao comprar o cartão de memória. Há alguns, usados para vídeo, que não funcionam nele. Opte pelos Micro SD HC, mas sempre consulte o manual do produto. Não esqueça de comprar um protetor contra o vento, de espuma ou de fiapos, fundamentais para tirar o sopro gerado em ambientes externos.
Quando fiz uma entrevista dentro da estação Sé do Metrô, por exemplo, em meio a um ato sindical contra as privatizações do sistema, o gravador conseguiu captar uma conversa robusta, ainda que ao fundo escutássemos alguém serrando ferro, somado aos gritos de ordens que o sindicalista lá no piso abaixo bradava pelo auto falante. No final das contas, em determinados momentos da conversa, esse detalhe até ajudou a ilustrar o contexto das declarações da entrevistada.
O software de edição
O mentor do projeto sugeriu o Audacity, que eu já conhecia um pouco, para fazer a edição. Ele é gratuito, amigável, com versão em português. Alguns dos controles são operados no teclado do computador e é possível captar o áudio direto do gravador Zoom. Ele tem uma extensa lista de efeitos, entre eles, o de aumentar o diminuir o volume das gravações. Isto ajudou a manter um mesmo padrão e os “fade in e out” ajudaram a suavizar o som nas transições.
Uma busca no Google pode trazer muitos tutoriais em português para lidar com o programa. Mas selecionei esse vídeo do Laboratório de Jornalismo da UFAC e esse pdf da Associação Ensino Livre que me foram bem úteis.
Trilha sonora
A trilha sonora é uma das marcas do seu programa, mas não pense que pode colocar qualquer uma sem possuir os direitos autorais. As plataformas digitais podem derrubar seu programa caso descubram conteúdo sem autorização. Para o Roda e Passe, meu mentor me apresentou o Slip.Stream, um site repleto de boas trilhas, todas gratuitas, desde que o devido crédito seja dado.
A divulgação
Ainda que seja um programa sonoro, você não vai se livrar de produzir imagens, pois tanto a série quanto os programas precisarão de uma capa para serem apresentados nas plataformas e redes sociais. Eu usei, para isso, o site Canva e nele, criei quatro “cards” tendo em mente que no celular a dimensão é semelhante ao selo de correio para ser visto na tela do celular. Então, privilegie sua marca e o nome do episódio em cada um deles.
Hospedagem e distribuição
Eu hospedei o "Roda e Passe" no Spotify, mas também no website do Jornal Bicicleta. Isso é uma medida para atingir pessoas que não usam mídias sociais e acessam meu material por feed de RSS. Uma dica: o Spotify não deixa você criar um programa sem subir ao menos um áudio inicial. Sem isso, você inclusive não conseguirá inscrevê-lo em outras plataformas de distribuição, tais como Amazon Music, Apple e Deezer, pois elas dependem de um link gerado no Spotify para começar a receber seu material.
Foto: Canva
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