Como o jornalismo ajuda na transparência dos problemas ambientais

por Jessica Weiss
Oct 30, 2018 em Temas especializados

Para os jornalistas ambientais ao redor do mundo, a falta de dados sobre temas que vão desde oceanos a saneamento dificulta na informação sobre projetos e políticas. Mas a tecnologia pode estar mudando o jogo.

"Os recentes avanços na tecnologia têm o poder de revolucionar a transparência dentro do movimento de sustentabilidade", disse Manish Bapna, presidente interino do World Resources Institute (WRI), "e transformar a forma como olhamos para uma ampla gama de questões ambientais."

Com investimentos relacionados com a mudança climática estimados a alcançar US$700 bilhões em 2020, a falta de transparência aumenta o risco de corrupção nos processos de decisão política, financiamento de projetos de mudanças climáticas e na gestão dos fundos públicos. E isso pode confundir os jornalistas que procuram informação honesta e confiável.

Durante um painel sobre transparência e movimento ambiental, Kumi Naidoo, diretor executivo do Greenpeace Internacional, disse que o impacto atual da corrupção é fatal:

"Qualquer auditoria forense sobre o por quê que os nossos oceanos, florestas e combustíveis fósseis têm sido explorados da maneira são apontam para corrupção e ausência de um governo transparente e eficaz como culpados principais."   O painel fez parte da 15 ª Conferência Internacional Anti-Corrupção, realizada pelo grupo Transparência Internacional em novembro no Brasil.

O moderador do painel, Gustavo Faileros, bolsista do Knight International Journalism Fellowship, disse à IJNet que os jornalistas podem desempenhar um papel fundamental no combate à corrupção. Com mais dados ambientais sendo feitas disponíveis e utilizáveis, os jornalistas estão numa boa posição para compreender e compartilhar os resultados com os cidadãos e partes envolvidas, disse ele.

O projeto de Faleiros é um mapeamento de dados que usa esse modelo. O portal InfoAmazonia fornece as últimas notícias e relatórios sobre a região amazônica, recorrendo a dados de satélite. Uma rede de organizações e jornalistas fazem atualizações dos nove países da região amazônica. Os dados utilizados são disponíveis gratuitamente para download e atualizados com frequência.

Mapas têm sido muito utilizados para monitorar o desmatamento. Mas sem tecnologias de satélite para fornecer imagens recentes de confiança, mesmo cinco anos atrás eles ainda contavam com dados inseridos manualmente.

"Somente cientistas usavam este tipo de informação, mas agora muitos de nós temos a informação nos nossos telefones que usam satélites", disse Faileros. Agora, "a informação é muito mais democrática dessa forma."

O WRI, um grupo "think-tank" com sede em Washington, depende em grande parte de mapas para acompanhar uma série de temas ambientais, desede recifes de coral a florestas. Em Brasilia, Bapna anunciou uma versão 2.0 de mapas de florestas globais, que será mais flexível e incluirá opções de compartilhamento social. Além de imagens de satélite, o WRI vai pedir aos cidadãos e pesquisadores no campo para compartilharem notícias e fotos sobre o que está acontecendo nas florestas, que serão anexados ao mapa -- tornando a ferramenta interativa debaixo até de cima.

"Agora podemos detectar a extração ilegal em qualquer lugar no mundo num instante, usando imagens de satélite", disse Bapna. "Está revolucionando a forma como olhamos para a transparência e criando o tipo de energia e mobilização de que precisamos."

Mas como apontaram os painelistas, mais informação não significa automaticamente mais ação.

"Agora, precisamos fazer pressão em torno de participação e responsabilidade", disse Bapna. "Só então podemos começar a mudar a política sobre como as políticas ambientais e as decisões são tomadas."

Imagem: Mapa de deforestamento no portal InfoAmazonia