Ao longo dos últimos quatro anos, foram destacadas várias e várias vezes pesquisas mostrando o quão profundamente frustrados os consumidores estão com as notícias na forma como elas são atualmente. Nos Estados Unidos, isso vale especialmente para os conservadores que se sentem alienados pela grande mídia, e que por isso abandonaram fontes de notícias regionais e locais em favor da Fox News e outras alternativas.
Mas eles não são os únicos que se sentem esquecidos ou mal compreendidos pelos jornalistas. Muitos imigrantes, a população dos Estados Unidos de descendência africana e outros grupos relatam ter virado as costas para os veículos tradicionais que eles consideram ser alienantes, recorrendo a amigos e familiares, a etnomídia e influenciadores nas redes sociais para preencher o vácuo.
Esses problemas parecem não ter solução e, conforme mostram as pesquisas, os remédios em potencial podem parecer óbvios na teoria, mas difíceis de serem implementados na prática: "Faça conteúdo inclusivo! Escute mais! Diversifique a sua redação!". Mas essas soluções se incorporam ao caos diário de crises econômicas, pandemias e outras situações do tipo.
Esse cenário é bem familiar e desanimador para muitas redações — mas não é inevitável, como demonstram Sue Robinson e Patrick Johnson em seu artigo recém-publicado pela Journalism Studies, "Reparando danos por meio de práticas baseadas no cuidado: como jornalistas podem cuidar de grupos desconectados".
É verdade que hoje há muito um sentimento de "coitadinho do jornalismo" — basta olhar para as muitas demissões em janeiro — mas Robinson e Johnson oferecem uma pitada convincente de otimismo baseado em evidências, pelo menos quando se trata de captar como os jornalistas podem aprender a ouvir e se envolver mais proativamente, e por que fazer isso pode gerar jornalistas que sejam "mais receptivos, flexíveis e empáticos com as audiências".
Para realizar a pesquisa, Robinson e Johnson fizeram uma parceria com a Trusting News, que trabalha com veículos jornalísticos para cultivar a confiança em suas comunidades, pedindo a nove redações que realizassem 78 sessões de escuta, quase todas envolvendo um jornalista conversando diretamente com membros "desengajados" de sua comunidade. Aproximadamente metade dessas pessoas eram brancos conservadores e a outra metade eram pessoas de minorias étnico-raciais. A Trusting News deu aos repórteres participantes um conjunto de questões abertas para serem feitas nas sessões de escuta, com a instrução de que o jornalista não ficasse na defensiva ao receber as respostas. As perguntas incluíam: "O que os jornalistas na maioria das vezes entendem errado sobre você ou sobre sua vida (interesses, características demográficas, valores, crenças, etc.)?", "O que jornalistas e veículos locais poderiam fazer para ganhar mais a sua confiança?" e "Conte-me sua experiência de consumo de notícias. Como você se sente e o que espera extrair dela?"
Em primeiro lugar, os pesquisadores queriam saber o que pessoas desconectadas da grande mídia precisam dos jornalistas para que elas estejam propensas a se relacionarem — ou mesmo assinarem — a marca jornalística em questão. Em segundo lugar, ao usarem as sessões de escuta conduzidas pelos jornalistas combinadas com pesquisas de acompanhamento e reflexões com repórteres e participantes, os pesquisadores queriam entender como essas pessoas desconectadas sentem que os jornalistas podem "causar, aliviar ou negociar danos em suas comunidades."
As respostas ouvidas por Robinson e Johnson fizeram com que eles sugerissem "a ética do cuidado" como um caminho a ser seguido pelo jornalismo: "a ética do cuidado oferece uma estrutura moral que prioriza suprir as necessidades de todos por meio da aproximação e do cuidado intencionais e ativos." Em essência, como jornalistas podem de fato reparar os sentimentos de dano que estão presentes nas pessoas que não estão engajadas?
Voltamos, então, à primeira pergunta: o que as pessoas precisam dos jornalistas? Os detalhes variaram entre os participantes de minorias étnico-raciais, que em sua maioria eram independentes ou liberais, e a outra metade que se identificava como pessoas brancas com tendências de direita. Por exemplo, os conservadores veem o uso crescente de linguagem ligada a questões de consciência social e racial como um viés progressista e, portanto, uma rejeição automática de seus valores; já os participantes de minorias étnico-raciais demonstram estar frustrados com o fato de jornalistas raramente fazerem seu trabalho de entender suas comunidades e retratá-las com nuances e de um modo holístico. Mas o sentimento geral foi o mesmo para ambos os lados: praticamente todos sentiam que seu grupo estava sendo supergeneralizado, sub-representado e retratado negativamente.
Conforme escrevem Robinson e Johnson, "jornalistas precisam ter cuidado com sua escolha de palavras e enquadramentos para evitar o uso de linguagem e estereótipos polarizantes; jornalistas precisam se esforçar para garantir que muitas vozes diferentes sejam incluídas; jornalistas precisam produzir matérias mais reflexivas e positivas sobre culturas e ideologias; e jornalistas precisam fazer parcerias com pessoas em suas comunidades para produzir conteúdo mais inclusivo."
Na segunda pergunta da pesquisa, sobre como os danos são provocados ou reparados, "os participantes falaram aos jornalistas que tiveram traumas quando jornalistas falhavam em valorizar as relevâncias culturais associadas à sua ideologia política, identidade racial ou orientação sexual", escreveram os autores. Claro, isso se complica devido às diferentes ideias que pessoas diferentes têm sobre o que consiste um dano. Por exemplo, um participante falou sobre o dano causado por "jornalistas que confundem de maneira imprecisa coisas sobre os latinos, presumindo que todos passaram pela experiência de viver sem documentação"; já os conservadores se sentiram prejudicados por aquilo que enxergam como uma cobertura excessiva e que celebra exageradamente questões de diversidade e inclusão.
No entanto, no geral, houve um tema comum entre os participantes: a demanda de que os jornalistas fossem mais positivos (mesmo que, conforme responderam os repórteres, esse tipo de pauta não tem o mesmo número de cliques dos textos negativos), que evitassem generalizar demais usando aspas "da pessoa que grita mais" como se fosse uma representante de grupos e ideologias, e que importassem com os problemas e as pessoas com as quais o público se importa.
Robinson e Johnson concluíram que "ficou claro para nós, enquanto analisávamos os dados da pesquisa, que todos os participantes — minorias étnico-raciais e pessoas de direita — ansiavam por uma prática mais cuidadosa do jornalismo que refletisse os seguintes cinco valores [baseados na ética do cuidado de Joan Tronto]: atenção, responsabilidade, competência, capacidade de resposta e solidariedade".
Cada um dos valores é importante, mas talvez o mais útil desses cinco elementos para os jornalistas, sugerem os autores, é o quarto. A capacidade de resposta significa "garantir que a prática de cuidado esteja alinhada às necessidades de fato de uma pessoa ou grupo. Em outras palavras, o cuidador não deve presumir que todos os tipos de cuidado são benéficos ou iguais. O que é cuidado para uma pessoa pode ser dano para outra."
Isso pode ser difícil quando pessoas diferentes definem cuidado e dano de forma diferente, mas jornalistas podem claramente fazer melhor, conforme afirma o estudo: eles podem evitar linguagem polarizante (como nomes pejorativos ou apelidos dados a políticas de governo ou projetos de lei), podem fugir do binarismo esquerda-direita que frustra as pessoas e podem desenvolver mais relacionamentos melhores — construídos na base da atenção desde o começo — com pessoas que representam grupos marginalizados.
Jornalistas podem simplesmente começar a ouvir.
De fato, considere o que Robinson e Johnson dizem ser "os resultados mais significativos e surpreendentes derivados das sessões de escuta pós-pesquisa com os participantes: mais de dois terços dos respondentes relataram sentir que as conversas despertaram a confiança deles no veículo e nos jornalistas, e um terço da amostra disse que estava considerando assinar o veículo. Isso é tão extraordinário, principalmente tendo em vista que as transcrições dessas sessões de escuta pareciam, em muitos casos, demonstrarem tanta raiva e acidez contra os jornalistas e os veículos jornalísticos tradicionais."
Este artigo foi publicado originalmente na newsletter RQ1 e republicado na IJNet com permissão.
Foto por Matheus Ferrero via Unsplash.