Bancos de imagens gratuitos retratam brasileiros sem estereótipos

29 janv 2023 dans Diversidade e Inclusão
Casal beijo

Encontrar imagens que representem a diversidade da população brasileira sem estereótipos, não é uma tarefa fácil. Corpos de diferentes tamanhos, tons de pele, orientações e identidades sexuais, ainda são exceções nos bancos de imagens. Pensando nisso, o Brasil com S e o Tem Que Ter pretendem cobrir esse gargalo, sendo boas fontes de consulta para jornalistas ilustrarem suas matérias. O download é gratuito e permitido para fins não comerciais.

Brasil com S - um projeto do LAB 678


 “Em uma busca simples por pessoas brasileiras nos grandes bancos de imagens existentes, encontramos uma pedra no caminho: não há muitos brasileiros representados", afirma Hugo Gunzburger, diretor criativo e sócio do Lab 678. "Foi em cima desse vazio que surgiu, em 2021, a necessidade de criar o Brasil com S, um banco de imagens que mostre - e naturalize - as pessoas de verdade, em momentos reais”. As mais de 400 fotos disponíveis para download pretendem capturar atividades triviais, como uma reunião de trabalho, um sábado de sol, um dia de jogo do Brasil, ou um churrasco de domingo no Rio de Janeiro, com direito a biscoito Globo (típico dos cariocas), cerveja e funk. Modelos magros, gordos, brancos e pretos dão o tom da diversidade étnica do Brasil. Para Gunzburger, o Brasil com S também propõe uma solução para a falta de representatividade brasileira nos bancos de imagens internacionais. “Nosso país é uma potência cultural extremamente diversa, que vai bem além de estereótipos e padrões”.

A produtora audiovisual, Francieska Dinarte, tem a mesma perspectiva. Ela relata a dificuldade de encontrar em bancos de imagens, nacional ou internacional, gratuito ou pago, fotos de pessoas com feições brasileiras de diferentes etnias e corpos, e fotos de paisagens brasileiras. “É muito comum achar paisagens europeias ou norte-americanas ou pessoas brancas, magras, consideradas padrão de beleza. Quando você precisa de qualquer coisa aproximada da nossa realidade, é bem complicado de encontrar”.

Corpos reais na mídia

Bel Corção, fotógrafa do projeto "Brasil com S", pontua a necessidade de iniciativas que naturalizem esses corpos reais na comunicação.  “Espero que a partir daí outras marcas e outras produções aconteçam nesse formato, e que, cada vez mais, isso seja algo comum e não uma exceção”.

Amigos reunidos
Foto de Bel Corção

 

 

Mulheres trabalho
Foto de Bel Corção

 

A representatividade que sua imagem traz, principalmente quando retratada em uma situação de poder, é destaque de Landara Marcele, uma das modelos que participa do projeto. “Uma mulher negra, gorda e favelada se colocando em diferentes papéis possíveis e reais, acaba contrariando esses marcadores excludentes e limitantes do machismo, racismo e da gordofobia diante do meu corpo”. E acrescenta. “O Brasil possui cerca de 56% da população negra (segundo o IBGE) e mesmo que possua tal percentual, esses corpos são invisibilizados, estereotipados e marginalizados.”

Tem Que Ter - o primeiro banco de imagens LGBTQI+ do Brasil

Outra iniciativa que merece destaque é o Tem Que Ter, primeiro banco LGBTQI+ brasileiro. Idealizado por cinco mulheres ativistas, em sua maioria da área de comunicação, o banco de imagens surgiu em 2018 com o objetivo de produzir contranarrativas ao discurso de ódio, gerando imagens inclusivas na comunicação, aponta Manoela Haase, idealizadora do projeto.

“Quem tem direito a voz em uma sociedade padronizada pela branquitude, masculinidade e heterossexualidade? Como minorias são representadas na comunicação hoje? Aliás, elas são representadas?”, questiona Haase. Ela acrescenta que pretende provocar a indústria criativa e conscientizá-la do seu papel na promoção da diversidade, tornando a pauta mais conhecida.

 

Amigos
Foto de Patricia Richter

 

Uma das iniciativas que se preocupa em dar visibilidade lésbica é a Revista Brejeiras. A editora Camila Marins comenta da dificuldade em encontrar imagens que fujam do padrão eurocêntrico: “Temos muita dificuldade de encontrar casais ‘reais’ de mulheres, não há mulheres gordas, casais de mulheres negras e indígenas”. Marins destaca a importância de uma legislação que fomente a produção de bancos de imagens de brasileiros, estimulando, também, a fotografia popular e de movimentos sociais.

Retratos da vida real

Com o intuito de trazer histórias verdadeiras e a perspectiva da própria comunidade, Hasse esclarece que as 443 imagens do Tem Que Ter são de modelos LGBTQI+. A ideia é apresentar cenas cotidianas, trazendo conforto para os modelos, diz Patricia Richter, idealizadora e fotógrafa do projeto.  “Em algumas das fotografias, pedi para a modelo que colocasse nos fones de ouvido músicas de sua preferência e, se estivesse confortável, dançasse ao seu ritmo. Busquei, também, retratar muitos detalhes, principalmente nas cenas de casais, para que o sentimento estivesse presente nas fotografias, trazendo a liberdade e o aconchego que é estar com quem se ama de forma livre”.

O resultado são fotos que transmitem naturalidade em momentos como um almoço em família ou um encontro no bar. O site permite ainda que a busca das imagens seja realizada por diversos temas como “afeto”, “casamento” ou “passeio”, por exemplo. Ser retratado sem estereótipos tira o enorme peso das expectativas sociais que o modelo Jeferson Huffermann  afirma viver diariamente. “Na experiência com o Tem Que Ter não precisei me preocupar em ser viado demais ou viado de menos. Não precisei me preocupar no que as pessoas iam pensar ou sentir me vendo existindo enquanto pessoa LGBTQI+”.


Foto da capa: Patricia Richter